Fábio Góis
O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso assina um artigo veiculado neste domingo (1º), em diversos jornais de circulação nacional e local, por meio do qual faz duras críticas à gestão Lula, que seria o responsável pela “enxurrada de decisões governamentais esdrúxulas”. Segundo FHC, Lula exerce um “autoritarismo popular” velado, com a anuência de uma sociedade satisfeita por um contexto de avanços.
“Diferentemente do que ocorria com o autoritarismo militar, o atual não põe ninguém na cadeia. Mas da própria boca presidencial saem impropérios para matar moralmente empresários, políticos, jornalistas ou quem quer que seja que ouse discordar do estilo ‘Brasil-potência’. (…) Se há lógica nos despautérios, ela é uma só: a do poder sem limites. Poder presidencial com aplausos do povo, como em toda boa situação autoritária, e poder burocrático-corporativo, sem graça alguma para o povo”, disserta o tucano.
Intitulado “Para onde vamos?”, o texto inicia a argumentação mencionando a suposta acomodação da opinião pública diante de um governo com alguns êxitos, e de um presidente com elevada aceitação popular e tido como um dos expoentes da nova ordem mundial. “(…) alguns estão de tal modo inebriados com ‘o maior espetáculo da Terra’, de riqueza fácil que beneficia a poucos”.
O ex-presidente desfila sua erudição de sociólogo formado na francesa Sorbonne e faz analogias a obras literárias como O príncipe, de Nicolau Maquiavel, e à famosa frase atribuída a Luís XIV de Bourbon, ‘L’État c’est moi’, na qual o monarca absolutista da França demonstra como encarava seu reinado. É quando FHC faz referência à “mal ajambrada” reforma na legislação do petróleo, um dos “pequenos assassinatos” supostamente perpetrados por Lula e “engolidos sem tempo para respirar” pelo Congresso Nacional.
“Por que anunciar quem venceu a concorrência para a compra de aviões militares se o processo de seleção não terminou? (…) Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do ‘autoritarismo popular’ vai minando o espírito da democracia constitucional”, diz FHC, citando episódios e ações de governo em nível nacional e internacional, como a relação com o presidente iraniano Ahmadinejah e às recentes rusgas em torno da gestão da Vale, maior empresa privada do país.
“(…) o presidente já declarou que em matéria de objetivos estratégicos (como a compra dos caças) ele resolve sozinho. Pena que estivesse esquecido de acrescentar ‘L’État c’est moi’. Mas não se esqueceram de dar as razões que o levaram a tal decisão estratégica: viu que havia piratas na Somália e, portanto, precisamos aviões de caça para defender ‘nosso pré-sal’. Está bem, tudo muito lógico”, arremata o tucano, retomando o título do artigo ao encerrá-lo.
“Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo dar um basta ao continuísmo antes que seja tarde.”
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