O presidente Lula e a coordenação de sua campanha à reeleição esconderam o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) no comício ontem em Osasco, na Grande São Paulo. Acusado de receber dinheiro do mensalão, João Paulo não foi visto no palanque ao lado de Lula e candidatos a deputado, apesar de ali ser o seu reduto eleitoral. A decisão teve o objetivo de não constranger o presidente. Mas, em meio ao seu discurso, eleitores começaram a gritar o nome de João Paulo.
O deputado subiu no palanque minutos antes de Lula chegar e foi anunciado como "o orgulho de Osasco" pelo mestre-de-cerimônias. Porém, ficou escondido atrás do palanque enquanto seus correligionários, incluindo Lula, discursavam. Eleitores presentes no comício carregavam bandeiras e fotos de João Paulo. Uma mulher, no meio da multidão, gritou: "Chama o João Paulo, Lula!".
O deputado só foi citado quando Lula mencionou sua relação com Osasco: "Vim aqui quando eu perdi, quando o Emídio (de Souza, atual prefeito) perdeu, eu vim aqui quando o João Paulo perdeu".
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Ao final do discurso, depois de pedir votos para o candidato ao governo do Estado, Aloízio Mercadante, e o senador Eduardo Suplicy, Lula disse: "A gente vai ganhar as eleições aqui em São Paulo, e também eleger os nossos deputados. Vocês sabem que eu não posso ficar fazendo propaganda de deputado porque tem muitos aqui atrás. Mas tem que votar nos nossos companheiros".
Em seguida, Lula foi interrompido pela multidão, que gritava "João Paulo, João Paulo". Ainda assim, o presidente evitou citar o nome do aliado. "Se tivesse tanta gente assim gritando o meu nome, já estava eleito", limitou-se a comentar.
João Paulo misturou-se à multidão, mas também fugiu da imprensa. Como presidente da Câmara, o petista foi aliado importante de Lula na votação das reformas da Previdência e tributária. Foi ainda peça central na prévia em que Mercadante e Marta Suplicy disputavam a vaga de candidato ao governo paulista. Lula negociou diretamente o apoio de João Paulo a Mercadante.
O nome de João Paulo apareceu na lista de Marcos Valério como receptor de R$ 50 mil. O petista se defendeu dizendo que o dinheiro foi disponibilizado pelo PT e usado para pesquisas eleitorais. Ele foi absolvido pela Câmara no processo de cassação do seu mandato. O procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, incluiu, no entanto, seu nome entre os 40 acusados no inquérito do mensalão.
Apesar de citar indiretamente seus adversários do PSDB, Lula afirmou que não vai responder a desaforos. "Podem provocar, podem baixar o nível da campanha o quanto quiserem, podem colocar quantas denúncias quiserem na televisão. Eu não moverei uma palha contra eles porque vocês moverão o paiol inteiro contra eles."
Alckmin: Lula virou as costas "para os bons costumes"
O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, subiu o tom dos ataques ao presidente Lula e acusou o petista de ser arrogante, por ter comentado a hipótese de vencer as eleições ainda no primeiro turno. Ao participar ontem de um almoço beneficente da Irmandade de São Benedito, na quadra da escola de samba Império da Casa Verde, na zona norte de São Paulo, o tucano afirmou que Lula virou as costas "para os bons costumes" e vinculou o presidente a escândalos.
O candidato do PSDB ainda respondeu a discurso de Lula freqüente nos últimos dias, sobre suposto preconceito contra a candidatura petista. "Isso é totalmente descabido. Se há um povo que não tem preconceito, é o povo brasileiro. Agora, na realidade, o presidente deu as costas para o povo brasileiro, para a Justiça, para os bons costumes. Isso é fato. Ele trabalhou de lado do Waldomiro (Diniz, ex-assessor da Casa Civil flagrado cobrando propina), de mensalão, de sanguessuga, do ‘valerioduto’. É isso que é grave", afirmou Alckmin.
As declarações que batem mais pesado em Lula ocorrem depois de integrantes do PFL, partido da coligação do tucano, cobrarem um discurso mais crítico em relação ao presidente.
O candidato do PSDB avisou que vai lançar um pacote contra a corrupção e a desborucratização na administração pública. A divulgação do plano está prevista para a próxima quarta-feira (23).
Segundo o tucano, é preciso criar mecanismos preventivos para que o Estado não haja apenas depois que desvios de dinheiro público ocorram. Alckmin adiantou que entre as medidas previstas estará a instalação de pregões eletrônicos e a revisão de convênios.
Heloísa: FHC e Lula fizeram "favelização agrária"
A senadora Heloísa Helena, candidata do Psol à Presidência da República, disse ontem em Tamarana (norte do Paraná) que, se eleita, irá assentar 1 milhão de famílias por ano em seu governo, em um "projeto sério de reforma agrária". Segundo a senadora, nos últimos 12 anos, durante os governos FHC e Lula, não houve reforma agrária, e sim uma "favelização rural".
A senadora Heloísa Helena participou, na manhã de ontem, da Romaria da Terra, em Tamarana, e acabou sendo criticada, junto com outros políticos que foram ao evento religioso, pelo arcebispo de Londrina, dom Orlando Brandes.
"A romaria é uma celebração religiosa e não lugar para políticos fazerem palanque", disse o arcebispo Orlando Brandes, irritado com a presença de candidatos na romaria, que reuniu cerca de 25 mil pessoas, segundo os organizadores. O senador Flávio Arns e Gleisi Hoffmann, candidatos do PT ao governo do Paraná e ao Senado, respectivamente, também estavam presentes no evento.
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