Em uma solenidade marcada pela troca de elogios entre o presidente Lula e o ex-ministro Antonio Palocci, o economista Guido Mantega assumiu o Ministério da Fazenda com o compromisso de manter a política econômica. “O desenvolvimentismo que defendo é responsável, avesso às aventuras e ao entusiasmo juvenil”, afirmou o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Em seu pronunciamento, Lula não poupou elogios a Palocci, a quem chamou de “eterno companheiro”. “Palocci conseguiu com seu jeito de ser e falar conquistar alguns adversários. Não há dúvidas de que Palocci teve firmeza política como ministro”, disse o presidente. Lula ressaltou o papel do ex-ministro na sua eleição como um dos coordenadores do documento Carta ao povo brasileiro, que marcou a mudança no discurso econômico do PT.
“Você sai exatamente no momento em que podemos dizer que o Brasil está infinitamente melhor do que aquele que recebemos”, disse Lula, acrescentando que o ex-ministro “tem motivos para se orgulhar”.
Lição e dissabores
O presidente evitou falar sobre as circunstâncias da demissão do companheiro, mas disse que o atual momento serve como uma “lição” para Palocci. “A vida é marcada por momentos extraordinários e dissabores. Por acusações às vezes levianas, às vezes acusações que temos que, humildemente, provar que não são verdades.”
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Ao discursar, na abertura da solenidade de transmissão de cargo, o ex-ministro já havia rasgado elogios ao presidente: “Certamente cometi erros, mas nem de longe me arrependo. Ao presidente Lula não me arrependo nem um minuto por ter dedicado 20 anos de minha vida a seu projeto político”. Lembrou as melhorias da economia brasileira desde o início de 2003 e afirmou que o Brasil hoje está “muito melhor”. Palocci disse que sai do governo com a sensação de ter cumprido seu dever e admitiu, mesmo sem identificá-los, ter cometido erros. “Nem de longe me considero infalível. Certamente cometi erros”, declarou.
Oposição feroz
Palocci disse que há uma tradição de uma “oposição feroz” no Brasil e que, por isso, as instituições “estão cravadas de rancor”. “Talvez eu tenha falhado nessa crença de convivência pacífica (com a oposição), mas minha fé no Brasil e nas pessoas continua inabalável”, disse.
O ex-ministro afirmou que sai do governo tranqüilo e certo de que não praticou nenhum ato contra a lei, a Constituição e a democracia. “Jamais patrocinei nesses três anos de governo malfeitorias com os bens públicos e jamais atentei contra a Constituição ou a democracia brasileira.” Ele afirmou ainda que Mantega será um ministro melhor que ele. “Não torcerei para o ministro Mantega fazer o mesmo que eu. Eu tenho certeza que ele fará mais e melhor.”
Palocci pediu demissão ontem após ser envolvido pelo ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso na quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.
Mantega: estabilidade está assegurada
O ex-ministro também recebeu afagos de seu sucessor. “As realizações se devem ao ministro Palocci”, elogiou Mantega, ao ressaltar as conquistas do governo Lula no plano econômico. Segundo Mantega, a primeira constatação que faz ao assumir seu novo cargo é que receberá do colega um ministério, uma economia e um país muito melhores do que o ex-ministro recebeu no início do governo.
“Em 2004 o Brasil deu início a um ciclo de desenvolvimento continuado com as características de desenvolvimento econômico, distribuição de renda, geração de empregos e redução da pobreza. Em grande parte tudo isso se deveu à tenacidade e à competência do ministro Antonio Palocci, a quem rendo minhas homenagens e o respeito de companheiro de longa data.”
Para Mantega, já há um quadro de estabilidade “assegurado” no país. Ele ressaltou que, pela primeira vez, o Brasil tem vários indicadores econômicos positivos, como o aumento do emprego, da massa salarial e a redução das taxas de juros, do câmbio e da inflação. “Nunca esses fatores virtuosos estiveram associados”, afirmou o novo titular da Fazenda, que é economista. Ex-ministro do Planejamento, Mantega disse que o governo cumprirá até o final do governo praticamente todas as metas do Plano Plurianual (PPA), do qual participou da elaboração.