Diego Moraes
O favoritismo dado pelas pesquisas ao presidente Lula para se reeleger no primeiro turno se desfez nos derradeiros minutos de ontem, quando começaram a ser computados os últimos votos de São Paulo. O baixo desempenho eleitoral do atual presidente nas regiões Sudeste e Sul – sobretudo, no estado de São Paulo – compensou as dificuldades que Alckmin teve nos locais em que Lula demonstrou ter mais força: o Norte e o Nordeste do país. Após um quadro de total indefinição apontado pelas pesquisas de boca-de-urna, a conclusão das apurações apontou a vitória do petista em 16 estados e do tucano em dez e no Distrito Federal.
Lula recebeu 46.661.131 votos (48,61% dos válidos), enquanto Alckmin, 39.967.779 (41,64%), informou às 5h19 de hoje a página do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na internet. O eleitorado se dividiu regionalmente entre Lula e Alckmin. O petista confirmou sua liderança no Nordeste e venceu nos nove estados da região, enquanto o tucano foi o preferido em todos os Estados do Sul e do Centro-Oeste. No primeiro turno da disputa de 2002, o petista venceu em todas as unidades da federação, com exceção de Alagoas, Ceará e Rio de Janeiro.
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Ex-governador de São Paulo, maior colégio eleitoral do país, Alckmin ganhou no estado com 54,20% contra 36,77% de Lula. Nas eleições de 2002, Lula ganhou o primeiro turno em São Paulo com 46,11% dos votos, contra 28,56% conquistados pelo tucano José Serra. Os outros três estados da região Sudeste deram vitória a Lula ontem. O petista ganhou até em Minas Gerais, onde o tucano Aécio Neves (PSDB) foi eleito com 77% dos votos.
A realização do segundo turno esteve indefinida até os seis primeiros minutos de hoje, quando o presidente do TSE, ministro Marco Aurélio Mello, anunciou oficialmente que o presidente não teve votação suficiente para se reeleger em primeiro turno. Mesmo se todo os votos ainda não contabilizados fossem para o candidato petista, observou Marco Aurélio, a disputa teria de ser definida em outra votação. "Ainda que todos os votos fossem para o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, não seria alcançada a maioria absoluta", disse o ministro em entrevista coletiva.
A campanha para o segundo turno começa oficialmente 48 horas após proclamados os resultados da votação de 1º de outubro. Cada um dos candidatos terá dois blocos de 20 minutos cada no horário gratuito do rádio e da televisão. E, ao contrário do primeiro turno, os programas serão veiculados também aos domingos.
Marco Aurélio disse que espera uma disputa "em alto nível" no segundo turno, que valorize o perfil dos candidatos, e cobrou dos presidenciáveis que estarão fora da nova disputa que orientem de forma clara os eleitores sobre quem pretendem apoiar até o dia 29. O ministro voltou a defender, de forma indireta, a participação de Lula nos debates. "Como cidadão, eu gostaria de presenciar debates com todos os candidatos", declarou.
PublicidadeFrustração
O presidente do TSE comentou a eleição de políticos suspeitos de corrupção, como os acusados de envolvimento com a máfia das sanguessugas; o ex-prefeito Paulo Maluf, que conquista a maior votação em São Paulo até o momento; e o ex-presidente Fernando Collor de Mello, primo do ministro e eleito para o Senado em Alagoas. Marco Aurélio defendeu que a escolha do eleitor é soberana. Mas, disse ter ficado "decepcionado" com a vitória de alguns candidatos.
"É um juízo de valor. Como presidente do TSE, tenho que reconhecer a validade [da eleição]. Como cidadão, posso me sentir decepcionado, frustrado", afirmou. O magistrado lembrou que os candidatos acusados de envolvimento em escândalos, apesar da exposição que sofrem, passam por três filtros antes de saírem vitoriosos das urnas: a filiação do partido, a Justiça eleitoral e o crivo do eleitor.
"Não há candidato se não for encampado pelos partidos. O Judiciário não pode criar, obedece às leis do legislativo. E há o filtro exercido pelo eleitor. O voto é secreto, o eleitor pode atuar pela conveniência e pela oportunidade", afirmou. O ministro afirmou, porém, que se os candidatos forem julgados e condenados, podem perder o mandato mesmo após a diplomação.
Marco Aurélio afirmou que a minirreforma política aprovada este ano pelo Congresso foi um avanço para a democracia porque passou a valorizar mais o perfil do candidato do que o marketing da campanha. Ele considera necessária, porém, uma reforma mais profunda nas leis eleitorais do país.
Defendeu ainda o financiamento público das campanhas e disse que a mudança depende apenas de vontade do Legislativo. "Depende de uma opção do Legislativo. O financiamento de certa campanha pública por particular visa a resultados", argumentou.