Roseann Kennedy
A decisão do Governo brasileiro de tentar intermediar um diálogo entre os governos da Venezuela e da Colômbia é correta. O Brasil pode ajudar sim, porque inegavelmente tem uma condição privilegiada na América latina. Não só pela independência econômica, mas pelas boas relações com seus vizinhos.
O presidente Lula tem bom relacionamento com Hugo Chavez, com Álvaro Uribe e com o presidente colombiano eleito Juan Manuel Santos, que toma posse no próximo dia 7. A aposta do governo brasileiro é deixar a poeira baixar até a posse de Juan Manuel Santos, e conseguir distensionar as relações com o próximo gestor.
É claro que fica uma indagação sobre o fato de o presidente Lula ter telefonado apenas para Chavez. Num primeiro momento, parece que ele tomou partido na situação.
Mas é muito óbvio, também, que a postura de Hugo Chavez é a mais explosiva e a que precisa ser contida de imediato para evitar problemas ainda maiores entre os países latinos. O Governo brasileiro, no entanto, e os principais interlocutores do presidente Lula, não querem pregar a idéia de que a opção de falar logo com o presidente venezuelano foi por considerá-lo um incendiário.
Então, a justificativa que apresentam para o “não telefonema” a Uribe é que sempre partiu do presidente Uribe fazer o contato com Lula, quando assim desejou, e que a diplomacia brasileira está se comunicando com o Governo da Colômbia.
Fontes do Planalto dizem que a diplomacia brasileira tenta entender o motivo de Uribe, a menos de 15 dias de deixar o cargo, ter aumentado o tom e denunciado à Organização dos Estados Americanos (OEA) a descoberta de armas de procedência venezuelana em mãos da guerrilha.
No entanto, também não é admissível que o presidente da Venezuela mantenha essa falta de diplomacia. Hugo Chávez poderia ter respondido às declarações de Uribe, mas em vez disso fechou as portas e armou a fronteira. Uma postura, no mínimo, estranha.
Risco de confronto armado? O governo brasileiro não acredita que chegue a esse ponto. Quer tratar das relações de Colômbia e Venezuela na Unasul. O campo é mais adequado do que a OEA, porque representa a associação entre um grupo menor, com mais afinidades.
Se a Unasul vai demonstrar competência para resolver o imbróglio? Aí, são outros quinhentos. Ao longo do tempo a estrutura e a atuação da União de Nações Sul-Americanas têm sido fracas. Mas mediar o conflito diretamente na OEA neste momento seria jogar mais pólvora na turbulenta relação de Venezuela e Colômbia.
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