O presidente Lula defendeu hoje (10) a retomada da indústria naval brasileira e disse que pelo menos mais dois navios produzidos no país devem ser entregues este ano. Em seu programa semanal de rádio, Lula destacou o lançamento do primeiro navio petroleiro construído no Brasil nos últimos 13 anos. Com tamanho equivalente a dois campos de futebol, o João Cândido foi lançado em Pernambuco na semana passada, com a presença do presidente.
Segundo Lula, o número de trabalhadores empregados pela indústria naval aumentou mais de 20 vezes nos últimos dez anos no país. “Em 2000, nós tínhamos apenas 1.900 trabalhadores na indústria naval, na década de 70, nós tínhamos 50.000 trabalhadores, e agora nós temos 45.000 trabalhadores outra vez”, afirmou. “É muito importante o povo entender que se a gente constrói o navio, nós geramos empregos aqui. Consumimos aço que nós mesmos produzimos, portanto, geramos emprego na siderúrgica, geramos consumidores que vão fazer o comércio crescer, e a indústria crescer. Ademais, a gente economiza o dinheiro que a gente teria que pagar para navios estrangeiros transportarem as cargas que o Brasil quer vender lá fora”, acrescentou.
Lula disse que o país caminha para exportar sondas, plataformas e navios.
Veja a íntegra do Café com o Presidente:
“Apresentador: Presidente, o senhor lançou, na semana passada, em Pernambuco, depois de 13 anos, o primeiro navio petroleiro construído no Brasil. Qual é o significado desse lançamento para a indústria naval?
Presidente: Primeiro, Luciano, o significado de orgulho para todos nós brasileiros e muita emoção para mim, pessoalmente, porque, você sabe que nós tivemos toda uma briga em 2002 para a recuperação da indústria naval brasileira. Alguns diziam que, nesse mundo globalizado, que o Brasil não deveria produzir navio aqui, que o Brasil deveria comprar da Coréia, da China, porque era mais barato. E nós defendíamos a idéia que era preciso comprar aqui, primeiro para que a gente não perdesse a nossa tecnologia, o Brasil na década de 70 tinha sido o segundo país em produção de navios, ou seja, nós éramos detentores de uma máquina extraordinária, o segundo país do mundo a produzir navio éramos nós, só perdíamos do Japão, e de repente nós fomos desmontados. Ou seja, em 2000, nós tínhamos apenas 1900 trabalhadores na indústria naval, na década de 70 nós tínhamos 50.000 trabalhadores, e agora nós temos 45.000 trabalhadores outra vez. Ou seja, é muito importante o povo entender o seguinte: na hora que a gente constrói o navio, nós geramos empregos aqui. Consumimos aço que nós mesmos produzimos, portanto, geramos emprego na siderúrgica, geramos consumidores que vão fazer o comércio crescer, e a indústria crescer. Ademais, a gente economiza o dinheiro que a gente teria que pagar para navios estrangeiros transportarem as cargas que o Brasil quer vender lá fora. Ou seja, há “n” vantagens a gente produzir navio aqui. Eu fiquei muito orgulhoso, Luciano, porque os trabalhadores que trabalharam em Pernambuco, foram trabalhadores que trabalhavam cortando cana. Pessoas que não tinham nenhuma profissão, pessoas que eram consideradas brasileiros de terceira categoria. Depois do estaleiro nós formamos essa gente, profissionalizamos essa gente, e eles viraram cidadãos, ou seja, passaram a ter uma profissão, passaram a ter um salário. E quando eles viram que eles colocaram no mar aquele navio daquele tamanho, eu acho que todos eles vão passar muito tempo sem dormir, imaginando do que eles são capazes. Precisou apenas dar uma oportunidade para que eles pudessem dar uma demonstração de que quando um ser humano tem vontade, não existe limite para competência e para capacidade humana.
Apresentador: Presidente, o nome do navio é João Cândido, que era marinheiro e foi líder da Revolta da Chibata, não é isso?
Presidente: Olha, antes falar do João Cândido, é importante lembrar que nós criamos um programa em 2004, chamado Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro, chamado PROMEF. Esse programa é que possibilitou a gente já criar 15.000 empregos diretos na indústria naval. Olha, como é que surgiu o nome do João Cândido? O João Cândido era um negro que entrou na Marinha, isso por volta de 1895, e naquele tempo, embora já tivesse sido proibido a Marinha aplicar chibatadas, sobretudo nos negros, ou seja, que cometessem alguma coisa que os comandantes não gostassem, a Marinha Brasileira continuava dando chibatadas. João Cândido se rebelou. Então, esse cidadão foi marinheiro, depois ele foi perseguido, depois ele foi mandado embora da Marinha e morreu na miséria. Então, nós resgatamos o nome dele, dando o nome do navio primeiro produzido nesses últimos 13 anos, um grande petroleiro. Só para você ter idéia, Luciano, você imagina o Maracanã, imagina de trave a trave do Maracanã, o navio tem duas vezes e meia o tamanho do Maracanã. Então, nós colocamos o nome do João Cândido em homenagem a um homem que merece ser lembrado. Nós vamos dar no segundo navio que nós vamos colocar no mar no Rio de Janeiro o nome do nosso querido e grande economista de Celso Furtado. E para o próximo navio, que vai ser lançado em Pernambuco, nós vamos dar o nome de Zumbi dos Palmares. Ou seja, assim nós vamos homenageando e resgatando nomes de pessoas que foram caindo no esquecimento desse país, porque é assim que a gente vai recontar a nossa história para que todo brasileiro tenha o direito de ser lembrado e ser homenageado.
Apresentador: Você está ouvindo o Café com Presidente, o programa de rádio do Presidente Lula. Presidente, o Atlântico Sul é um grande estaleiro em Recife, mas existem outros espalhados pelo Brasil, não é?
Presidente: Olha, temos muito estaleiro. Temos estaleiro no Rio de Janeiro, temos estaleiro em Pernambuco, temos estaleiro no Rio Grande, no Rio Grande do Sul, estamos fazendo estaleiro na Bahia, fazendo estaleiro no Ceará, e fazer estaleiro onde for necessário fazer, porque com isso o Brasil ganha muito. Agora mesmo eu estou indo ao Rio Grande do Sul, na cidade de Rio Grande, também inaugurar um dique seco que está sendo feito lá. Portanto, nós estamos construindo uma poderosa estrutura para termos uma poderosa indústria naval neste país. Nós queremos ser exportador de sondas, de plataformas e de navios.
Apresentador: Muito obrigado, presidente Lula, e até próxima semana.”