O fato de estar cercado por militares não inibiu o presidente Lula de criticar dois presidentes da ditadura: os generais Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel. O primeiro, segundo Lula, não aliou o crescimento econômico à distribuição de renda. O segundo, continuou o petista, deixou um rombo na dívida externa.
O presidente participou hoje (15) de um almoço com oficiais-generais das Forças Armadas e disse que, no segundo mandato, não fará comparações entre seu governo e gestões anteriores. Apesar disso, fez questão de reforçar que, ao contrário de Médici e Geisel, fez o país crescer com investimentos sociais e quitou a dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Esse crescimento econômico [da ditadura] não significou um aumento na renda dos pobres. Estou dizendo isso para afirmar que poucas vezes na história do Brasil se combinou o desenvolvimento econômico com a distribuição de renda e a justiça social, e nós conseguimos estabelecer um padrão em que não crescemos tanto, mas conseguimos o maior aumento do salário mínimo em 30 anos", destacou Lula.
Ditadura chilena sangrenta
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Durante o almoço, Lula afirmou ainda que os tempos de ditadura no Brasil não foram tão violentos quanto o período em que Augusto Pinochet comandou o Chile, na década de 1970.
“O Brasil tem uma história diferente de outros países. Mesmo a ditadura no Brasil não foi violenta como foi no Chile, como foi em outros países. Houve processo de anistia negociado inclusive com as pessoas que participaram do processo", afirmou Lula hoje, cinco dias após a morte do ex-ditador chileno.
O presidente reconheceu que o Executivo ainda não conseguiu tornar público muitos fatos do período militar no Brasil e disse que alguns nunca serão descobertos. “Mandamos parte do arquivo para o Rio de Janeiro, mas tem coisas que não descobrimos. Determinadas coisas você tem que ver se alguém que participou contou para você”, disse.
Esquerda "cheira a mofo", diz Mantega
O ministro da Fazenda, Guido Mantega , afirmou hoje (15), em entrevista conjunta com outros ministros da economia dos países do Mercosul, que o termo "esquerda" é algo ultrapassado e que cheira a "mofo”. Os ministros foram questionados sobre a perda de investimentos em países da América Latina que são governador por esquerdistas.
"Eu não usaria esse termo de esquerdização da América Latina. Esse termo é velho. É demodê e bastante ultrapassado, dos anos 50, 60. É do marcatismo. Cheira a mofo. O que está havendo na América Latina é uma consolidação da democracia onde todos os países estão dando demonstrações de democracia", disse Mantega.
Na noite da última segunda-feira (11), o presidente Lula afirmou que a esquerda é uma ideologia típica da juventude. "Se você conhece uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque está com problema. Se você conhecer uma pessoa muito nova de direita, é porque também está com problema", disse o presidente.
Para Mantega, a democracia aproxima as economias dos países da região e colabora com o desenvolvimento da economia e com a igualdade social. A ministra da economia argentina, Felicia Miceli, lembrou que a China é o país que mais cresce hoje. O país oriental é de esquerda e nem por isso afastou investimentos.
"São governos que têm conteúdo democrático e que o povo busca de forma distinta representações para a solução de seus problemas", disse.