Edson Sardinha
O presidente Lula defendeu hoje (23) que a Organização das Nações Unidas (ONU) seja mais efetiva nas negociações do processo de paz no Oriente Médio. Lula, que recebe nesta segunda-feira o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, depois de ter se encontrado no Brasil com o presidente de Israel, Shimon Peres, e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, disse que nenhuma autoridade pode se negar a dialogar com as partes envolvidas no conflito histórico na região.
“Quem deveria estar negociando eram as Nações Unidas. A ONU deveria estar negociando, estabelecer com os países qual é o critério, qual é base para fazer o acordo e fazer o acordo e viver tranquilo. Porque o mundo precisa de paz, o Oriente Médio precisa de paz. Aquelas pessoas estão cansadas de guerra, estão cansadas de morte, estão cansadas de ataques. Ou seja, é preciso encontrar um jeito. Não adianta alguém ficar pensando que é melhor do que o outro. Não adianta ninguém ficar acusando ninguém. É preciso olhar um pouco o passado, mas pensar no futuro. E o futuro tem que ser de paz”, disse o presidente em seu programa semanal de rádio.
De acordo com Lula, o Brasil tem um papel importante para alcançar a paz no Oriente Médio. “É um momento rico, porque mostra a capacidade de conversação que o Brasil tem, nesse momento. Ou seja, você tem uma série de países que não conversam com Irã. Não adianta você deixar o Irã isolado. Se o Irã é um ator importante em toda essa discórdia, é importante que alguém sente com o Irã, converse com o Irã e tente estabelecer um ponto de equilíbrio, para que a gente volte a uma certa normalidade no Oriente Médio”, declarou.
O presidente afirmou que é preciso se perguntar quem é que não quer a paz e detectar quais são os grupos que radicalizam para que o entendimento não prevaleça na região. “Porque é com esses que nós precisamos procurar parceiros para conversar”, ressaltou. “Não aceito intolerância de pessoas que acham que não se pode conversar. Quem acha que a gente não pode conversar é tão intolerante quanto aqueles que não querem a paz”, acrescentou.
Lula voltou a defender a realização de uma partida de futebol entre a seleção brasileira e um combinado Israel-Palestina como uma tentativa de aproximação entre os dois povos.
Clique aqui para ouvir ou leia abaixo a íntegra do Café com o Presidente:
“Apresentador: Olá você em todo o Brasil. Eu sou Luciano Seixas e começa agora, o Café com o Presidente, o programa de rádio do presidente Lula. Olá, presidente, como vai? Tudo bem?
Presidente: Tudo bem, Luciano.
Apresentador: Presidente, entre a semana passada e o início dessa, o senhor teve e terá reuniões com líderes do Oriente Médio. Que estratégia o Brasil adota ao conversar com esses líderes mundiais?
Presidente: Olha, primeiro Luciano, é importante o povo brasileiro compreender que poucos países têm a primazia de em 15 dias receber o presidente Shimon Perez, de Israel; receber o presidente Mahmoud Abbas, Autoridade Palestina; e receber o Ahmadinejad, presidente do Irã. Ora, são três países que estão envolvidos em conflito, três países que têm muita responsabilidade pela paz no Oriente Médio, e tem muita gente que acha que nós deveríamos receber só um, ou seja, iraniano acha que nós deveríamos receber só Irã, palestinos acham que nós deveríamos receber só palestinos e judeus acham que nós deveríamos receber só judeus. Ora, acontece que se tem um conflito, se tem uma divergência, e não é curta, é uma divergência muito longa, de muito tempo, não adianta você isolar as pessoas. É preciso você estabelecer um diálogo, uma política muito séria de conversação, para que você possa, então, acreditar que é possível estabelecer a paz no Oriente Médio. Eu tenho uma tese, sabe, que não é possível que não se encontre um caminho do meio para fazer a paz. Ou seja, porque nos achamos que é preciso envolver outros países, outros atores, outros negociadores, para que a gente possa tentar discutir a paz de verdade. Por exemplo: você tem dentro da Palestina, a Autoridade Palestina que quer a paz. Mas você tem o Hamas, que não quer a paz. Então, é preciso que, primeiro, tenha um acordo interno dentro da Palestina, para saber se eles são capazes de produzir uma proposta única de paz, que atenda aos interesses de vários grupos. Você tem, dentro de Israel, o povo que quer a paz, o presidente de Israel, Shimon Perez, que quer a paz, mas, certamente, tem gente que não quer a paz. É por isso que ela não existe. E não adianta você ficar instigando a discórdia entre eles. É preciso que a gente encontre um ponto de equilíbrio que possa permitir que haja paz no Oriente Médio. E eu acho que quem deveria estar negociando eram as Nações Unidas. A ONU deveria estar negociando, estabelecer com os países qual é o critério, qual é base para fazer o acordo e fazer o acordo e viver tranqüilo. Porque o mundo precisa de paz, o Oriente Médio precisa de paz. Aquelas pessoas estão cansadas de guerra, estão cansadas de morte, estão cansadas de ataques. Ou seja, é preciso encontrar um jeito. Não adianta alguém ficar pensando que é melhor do que o outro. Não adianta ninguém ficar acusando ninguém. É preciso olhar um pouco o passado, mas pensar no futuro. E o futuro tem que ser de paz. Eu acho que é um momento rico, porque mostra a capacidade de conversação que o Brasil tem, nesse momento. Ou seja, você tem uma série de países que não conversam com Irã. Não adianta você deixar o Irã isolado. Se o Irã é um ator importante em toda essa discórdia, é importante que alguém sente com o Irã, converse com o Irã e tente estabelecer um ponto de equilíbrio, para que a gente volte a uma certa normalidade no Oriente Médio. Eu, na verdade, nesse momento, Luciano, eu tenho uma inquietação dentro de mim que é o seguinte: ou seja, se é verdade que o povo palestino quer paz e o presidente da autoridade palestina quer paz; se é verdade que o povo do Israel quer paz, e o presidente de Israel quer paz, é preciso que a gente agora comece a perguntar quem é que não quer a paz. E detectar quais são os grupos que estão radicalizando para não ter a paz. Porque é com esses que nós precisamos procurar parceiros para conversar. Quem confia em quem para a gente poder restabelecer essa conversa. É com essa convicção que eu trabalho, e por isso eu converso com todo mundo. Não aceito intolerância de pessoas que acham que não se pode conversar. Quem acha que a gente não pode conversar é tão intolerante quanto aqueles que não querem a paz.
Apresentador: Você está ouvindo o Café com o Presidente, o programa de rádio do Presidente Lula.
Presidente, o senhor tem alguma agenda de viagens, marcada para o Oriente Médio?
Presidente: Tenho. Depois de receber os três presidentes aqui, já está mais ou menos marcado. No mês de março, eu vou visitar Israel, vou visitar a Jordânia, vou visitar a Palestina. Mais do que visitar, eu estou trabalhando, já conversei com o presidente, Shimon Perez, ele concordou; já conversei com o presidente da Autoridade Palestina, ele concordou. Ficaram de conversar com seus pares, quando regressarem aos seus países, e me darem uma resposta, que eu tenho já há três anos, o sonho de fazer um Jogo da Paz, sabe, em um estádio que possa ser neutro, de uma seleção mista, Israel e palestinos, para jogar contra a seleção brasileira. Eu acho que seria uma marca extraordinária para o Brasil e, sobretudo, um sinal muito importante para paz, porque os jogadores brasileiros são muito conhecidos no mundo inteiro. E eu acho que isso poderia mexer com a cabeça de muita gente.
Apresentador: Muito obrigado, presidente Lula, e até a próxima semana.
Presidente: Obrigado a você, Luciano, e até a próxima semana.
Apresentador: A partir de hoje, o site do Café com o Presidente está de cara nova. Você pode acessá-lo no endereço www.cafe.ebc.com.br. O programa Café com o Presidente, volta na próxima segunda-feira. Até lá.”
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