O presidente Lula atribuiu, há pouco, a negociação do dossiê que associaria os tucanos Geraldo Alckmin e José Serra à máfia das ambulâncias a uma “insanidade”. Em entrevista ao Bom Dia Brasil, da TV Globo, o presidente afirmou que esse tipo de comportamento não condiz à sua trajetória política e não ajuda em nada sua campanha. “Como um candidato que tem, segundo as pesquisas, 50% dos votos, que está muito próximo de ganhar as eleições e que tem um adversário que não está oferecendo risco, se envolveria nisso?”, questionou.
Ele disse que “faz questão de saber quem deu dinheiro para o pagamento do dossiê” que envolve candidatos do PSDB com a máfia dos sanguessugas e cobrou também a apuração do conteúdo do dossiê. Lula defendeu que a Polícia Federal investigue “as entranhas” do escândalo, que ele classificou de “imoral”. “As pessoas são insanas quando têm esse tipo de comportamento”, disse em relação aos envolvidos na negociação do dossiê. “O dossiê não ajuda em um mílimetro a minha campanha”, emendou.
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Lula repetiu três vezes que teve oportunidade de usar material contra adversários políticos em pelo menos duas campanhas (1989 e 1998) e jamais recorreu a esse tipo de expediente. “Eu entreguei o dossiê Cayman ao Mário Covas”, citou como exemplo. Ele também saiu em defesa do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), cujo coordenador de campanha, Hamilton Lacerda, se afastou ontem da campanha, após admitir ter intermediado a entrevista de Luiz Antonio e Darci Vedoin à revista Istoé.
Questionado sobre a sucessão de escândalos envolvendo seus assessores, Lula disse que tem cumprido o seu papel ao afastar os suspeitos, mas ressaltou que não tem poder para julgar ninguém. “O papel do presidente da República é afastar as pessoas, não posso prender nem julgar. Quando afasto o companheiro Ricardo Berzoini da coordenação da campanha não é porque eu considere culpado, mas é que não posso, a dez dias das eleições, ter alguém que passará os próximos dez dias respondendo sobre o dossiê. Preciso de alguém que coordene a campanha”, afirmou.
O presidente negou que tenha havido mais escândalos em seu governo do que nos anteriores e disse que a diferença está no fato de que sua gestão “não joga o lixo para debaixo do tapete”. “Mas não esperem que eu execre alguém antes de ele ser julgado”, disse o candidato.
Na entrevista de 20 minutos, concedida no Palácio da Alvorada, Lula ainda eximiu o governo de responsabilidade pela crise na agricultura. Atribuiu os problemas enfrentados pelos agricultores às intempéries e ao descaso dos governos anteriores com a adoção de um seguro-rural. O presidente também minimizou o conflito com o governo boliviano, afirmando que a disputa pela refinaria da Petrobras na Bolívia será resolvida em breve.
Segundo Lula, desde a proclamação da República (1889), o Brasil nunca desfrutou de um conjunto de condições tão favoráveis à economia. Disse que as exportações estão crescendo, assim como o poder de compra dos salários. “Não resolvemos as coisas por mágica. Se não tivermos alicerce, a casa cai”, afirmou, ao rebater críticas sobre o aumento da carga tributária.
Por fim, o presidente não teve tempo para se despedir e lamentou: “Eu não usei meus trinta segundos porque achei que ia discutir programa de governo e acabei não discutindo programa de governo”.
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