Eduardo Militão
Para justificar os pagamentos que recebeu da Planam – empresa apontada pelo Ministério Público e pela Polícia Federal como pivô da máfia dos sanguessugas –, o ex-deputado Lino Rossi (PP-MT) admitiu à Justiça ter recebido pelo menos R$ 800 mil do empresário Luiz Antônio Vedoin, dono da Planam. Em depoimento prestado à 2ª Vara Federal de Mato Grosso, Lino disse que o dinheiro se referia empréstimos e a caixa dois de suas campanhas eleitorais.
Segundo o MP e a PF, Vedoin repassou a Lino Rossi R$ 3 milhões como propinas porque o então parlamentar fazia emendas ao orçamento que, posteriormente, se transformavam em licitações dirigidas para o grupo Planam – o engenho básico da máfia. O ex-parlamentar foi o campeão em propinas, de acordo com os investigadores, sendo também o principal responsável por apresentar o “esquema” a outros congressistas.
Mas, no depoimento da semana passada, Lino negou receber qualquer comissão por ato de corrupção. Disse que, na campanha para prefeito de Várzea Grande (MT) em 2000, recebeu R$ 800 mil. De acordo com o procurador da República Marcellus Barbosa Lima, que participou da audiência, o ex-parlamentar ainda disse ter recebido do empresário camisetas e cabos eleitorais.
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A versão do advogado de Lino, também presente à sessão, muda só um pouco. Ele diz que o pagamento de cabos eleitorais, camisetas, colchões e cobertores estava incluído nos R$ 800 mil. “Disso, parte era empréstimo e parte era doação”, frisou José Antônio Alvarez.
Lino concorreu pelo PSDB e perdeu as eleições. Em 2002, na campanha para deputado federal, ele também recorreu a empréstimos de Vedoin. Mas, segundo Marcellus, o ex-parlamentar não informou o valor recebido.
Passados sete anos, não houve devolução dos empréstimos para a Planam. A família Vedoin também nunca exigiu os valores na Justiça. “É que Lino não tem patrimônio algum. Ele tem apartamento financiado pela Caixa Econômica”, justificou Alvarez. A última declaração de bens de Lino informa que ele possui um patrimônio de R$ 146 mil – um veículo tipo reboque e um apartamento no bairro Araés, em Cuiabá (MT).
Irregularidade menor
Na campanha de 2002, nada recebido da família Vedoin foi declarado à Justiça, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral. De acordo com o advogado de Lino, “a maioria” dos valores não foi informada às autoridades. Entretanto, Alvarez nega que o ex-parlamentar tenha tentado, com o depoimento, sair da acusação de um crime (corrupção passiva) para uma irregularidade eleitoral (caixa dois).
“Isso não é admitir. Ele está falando a verdade. Se isso irá levá-lo a um crime, a Justiça é que irá dizer. Ele não está inventando uma coisa para sair da tipificação de um crime”, garantiu o defensor de Lino.
Prisão
Lino Rossi foi preso na semana passada em Brasília porque não era localizado pela Justiça para prestar depoimento no processo em que é acusado de cometer corrupção passiva, fraude em licitações, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. O ex-deputado foi solto após o depoimento.
De acordo com Alvarez, seu cliente não estava fugindo dos oficiais de Justiça para atrasar o andamento da ação penal. “Ele tem ficado em Brasília, para acompanhar o tratamento de saúde da filha.” Na capital federal, Lino também trabalha com “representação” de empresas paulistas em órgãos públicos.
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