Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), correligionário de Jader, recorreu ao regimento interno da Casa para repreender o colega, que passou a respondê-los aos gritos e socos na mesa de madeira do púlpito, desafiando-o a cassar-lhe o mandato.
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A manchete do suplemento esportivo, edição desta quarta-feira, traz os seguintes dizeres: “És um fanfarrão, excelência!”. Ao fundo, uma imagem de Mário Couto no que parece ser um discurso na mesma tribuna do plenário. “Você me chamou de fanfarrão – esse é o adjetivo que tu usaste no teu jornal. Eu te chamo, Jader Filho, de ladrão. Tu és ladrão, Jader Filho! Vai, vai a juízo questionar contra mim, vai. Eu te peço que tu vás!”, bradou o tucano, com a capa do jornal focalizado pela TV Senado.
Renan interrompeu o discurso do tucano e, citando o artigo 19 do Regimento Interno do Senado, disse que o dispositivo proíbe que senadores usem expressões “descorteses ou insultuosas” no exercício do mandato. “O quê, presidente? Descortês com quem, senador? O regimento não diz com quem?”, ironizou Mário Couto. “Eu vou lhe atender, mas quero dizer o seguinte a vossa excelência: eu não vou parar de combater a corrupção. Eu posso ser cassado, presidente, vossa excelência pode me cassar. Eu não sou covarde!”
Renan disse que não queria “polemizar” com o interlocutor, mas endureceu o discurso quando este manteve a postura de contestação das normas do Senado. “O regimento é impessoal. Vossa excelência vai ter de cumprir o regimento”, intercedeu Renan, comunicando que determinaria a retirada das declarações dos registros taquigráficos da sessão plenária. Minutos depois, aparecia nos registros taquigráficos de Mário Couto a transcrição “Art. 19 do RISF [Regimento Interno do Senado Federal]” no lugar do termo ladrão.
“Eu não vou ter que cumprir nada! Se eu não cumprir o regimento, eu sou cassado, e cassado por vossa excelência”, reagiu o paraense. A partir desse ponto da discussão, o tucano passou a dar gritos de protesto e a esmurrar o púlpito, enquanto Renan o observava em silêncio.
O senador do PSDB tem ido à tribuna, com certa frequência, para fazer denúncias contra a Federação Paraense de Futebol. Segundo Mário Couto, há um esquema de enriquecimento ilícito na entidade que consiste, entre outras ações, em direcionar a compra de passagens aéreas, por parte dos clubes de futebol do Pará, na mesma empresa, pertencente a um dirigente da federação. A reportagem da editoria de esportes do jornal paraense, exibida pelo senador em plenário, seria uma resposta encomendada às críticas do tucano.
CPI rasgada
Além do diário paraense, Mário Couto levou à tribuna o requerimento de instalação da CPI da Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia), que ainda não obteve apoio suficiente para ser instalada, apesar das 31 assinaturas de adesão, quatro a mais que o necessário – a matéria ainda não foi lida em plenário pela Mesa Diretora, como exige o regimento. A comissão parlamentar já havia sido abortada em abril de 2001, quando o PT era oposição. Curiosamente, o então líder do partido na Câmara, o hoje senador Walter Pinheiro (BA), era um dos responsáveis pela coleta de assinaturas de adesão àquela CPI.
Diante do posicionamento “regimental” de Renan, Mário Couto ficou ainda mais nervoso, e rasgou o documento, dirigindo-se ao colega de Senado. E voltou a desafiá-lo a cassar seu mandato, a ser encerrado em janeiro de 2015. “Tem 31 senadores que assinaram essa CPI e querem apurar as irregularidades daqueles corruptos que saquearam os cofres da Sudam. Trinta e um! Olha, presidente, a minoria não tem vez nesta Casa. Eu rasguei a CPI, presidente. Rasguei! Pronto!”, vociferou Mário Couto, jogando os papéis à frente. “Eu já senti que o Brasil está perdido.”
Depois da discussão, presenciada por menos de dez senadores em plenário, Mário Couto disse ao Congresso em Foco que está acostumado às ofensas jornalísticas dos órgãos de imprensa sob o controle dos Barbalho, no Pará. Para o tucano, Renan o repreendeu por razões extraordinárias. “Ele [Renan] é amigo do Jader Barbalho, são amigos. Deve ter ficado chateado”, declarou o senador. Jader Barbalho, um dos menos assíduos parlamentares do atual Congresso, não esteve em plenário nesta quarta-feira.
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