O Partido dos Trabalhadores (PT) aprovou ontem uma política de alianças ampla, que inclui a possibilidade de coligações com os partidos mais identificados com o escândalo do mensalão (PP, PTB e PL), além do PMDB. O PT decidiu vetar apenas eventuais alianças com o PSDB e o PFL, que estarão juntos nas eleições deste ano. O partido também pretende restringir ao máximo as alianças com o PPS, que decidiu apoiar um eventual pedido de impeachment que venha a ser feito por um representante da sociedade civil.
Com 1,2 mil delegados partidários de todo o país, o 13º Encontro Nacional da legenda, que se encerra neste domingo, também confirmou o presidente do partido, Ricardo Berzoini, como coordenador-geral da campanha. "O PT é um partido que tem base. Não se pode dar ao luxo de fechar portas e já fixar parâmetros absolutos em relação à reeleição", disse Berzoini. "Só não entram nas alianças o PSDB e o PFL, e também faremos fortes restrições ao PPS, devido às posturas deles", ressaltou.
Vale-tudo
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Na diretriz aprovada ontem por 70% dos presentes, a direção petista fez uma pequena concessão a alguns agrupamentos de esquerda, que estavam preocupados em evitar um "vale-tudo" nos estados. De acordo com o documento aprovado, as alianças nos estados serão submetidas ao Diretório Nacional, composto por 81 membros. A idéia é fortalecer, principalmente, as negociações com o PMDB, que pretende eleger pelo menos nove governadores.
A decisão de liberar coligações com legendas claramente de direita, como o PP, veio um dia depois de o presidente Lula cobrar dos "companheiros" que cedam espaço para outras legendas nos estados e montem palanques grandes, pensando sempre no projeto nacional, no caso, a sua reeleição. "Não vou decidir se sou candidato enquanto não souber de uma coisa: se o que vocês estão falando é um projeto nacional ou não. Porque estou com a impressão que muita gente aqui está mais preocupada em eleger o seu companheiro deputado. Muito cuidado com os interesses regionais", disse Lula anteontem, ao discursar na abertura do encontro.
Em outra concessão a grupos como Articulação de Esquerda e Movimento PT, a diretriz aprovada pede uma "governabilidade de novo tipo" em um eventual segundo mandato de Lula, com "maior incidência do PT e demais partidos de esquerda". Tendências mais à esquerda defendiam que o partido restringisse as coligações a aliados históricos dos petistas, como o PCdoB e o PSB.
Punição, fora de pauta
A crise provocada pelo escândalo do mensalão foi praticamente ignorada no 13º Encontro Nacional do partido. O documento aprovado cita rapidamente o tema, num parágrafo perdido no meio de um texto. "As acusações de corrupção contra membros do partido devem ser investigadas, garantida ampla defesa, e, havendo comprovação, cabe punição rigorosa." Propostas mais ousadas, como o envio dos petistas envolvidos no escândalo para a comissão de ética interna, foram deixadas de lado, assim como uma referência à quebra do sigilo do caseiro Francenildo Costa.
Alckmin ironiza PT
O pré-candidato do PSDB à presidência da República, Geraldo Alckmin, criticou a decisão anunciada ontem pelo PT de não fazer restrições às alianças partidárias para garantir a reeleição do presidente Lula.
"É interessante ver como as coisas mudam no poder. Antes, o PT era o maior crítico de alianças amplas. Hoje, eles topam qualquer coisa para tentar reeleger o Lula. Mas eu digo que nem isso adianta porque as alianças partidárias são construídas baseadas em um projeto, e eles não possuem nenhum projeto."
Para Alckmin, Lula está "deslumbrado" pelo fato de ter conseguido chegar ao comando do Executivo nacional. "Ele está perdido. Está usando salto tipo 15. Mas eu não. Eu estou pronto para trabalhar e colocar as sandálias da humildade porque o país não precisa de discurso e de palanque", concluiu.
O tucano também negou os rumores de que estaria negociando, nos bastidores, uma composição com o pré-candidato do PMDB, Anthony Garotinho, alvo de uma série de denúncias. Sem citar nenhuma vez o nome do peemedebista, Alckmin reafirmou apenas o interesse em ter o PMDB em seu palanque, caso o partido opte por desistir de uma candidatura própria à presidência.