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Em entrevista ao Congresso em Foco, o criador das bandas Kid Abelha e Heróis da Resistência se mostrou preocupado com o agravamento da crise política no país e com a propagação de discursos de intolerância e ódio. Para ele, é ilusão imaginar que uma troca imediata na Presidência da República resolverá o problema da corrupção no país.
“A corrupção não é obra de um ou dois partidos. É um sistema que permite que as oligarquias políticas se aliem às oligarquias econômicas e tenham seus interesses atendidos. Não acredito que a corrupção começou há pouco tempo e nem vai acabar quando mudar o governo”, diz o cantor. “Não tenho a ilusão de que a corrupção seja algo que possa ser isolado num partido ou num grupo de pessoas”, completa.
O cantor também criticou o discurso dos saudosistas da ditadura de que, na época dos militares, havia menos corrupção no país. “É uma ilusão achar que alguém com poder, ainda mais com poder absoluto – como no caso de uma ditadura – não se corromperia. A corrupção não é de uma vertente política, não é de direita, não é de esquerda, a corrupção é do ser humano”, observa.
Direitos humanos
Leoni diz que aproveita a visibilidade que tem como artista nas redes sociais para esclarecer o verdadeiro papel das organizações de defesa de direitos humanos, muitas vezes retratado, segundo ele, de maneira distorcida. “A gente precisa educar as pessoas para saber o que são os direitos humanos, que é para proteger o cidadão dos abusos do Estado, para proteger grupos de pessoas dos abusos dos mais poderosos. Mas, às vezes, as pessoas não entendem isso. Elas têm certa raiva. Estamos num momento muito raivoso, de ‘nós’ contra ‘eles’, em vez de uma coisa mais solidária”, avalia.
O cantor lamenta que receptividade do público para o diálogo não seja das melhores. “As pessoas estão pouco dispostas ao diálogo, elas querem logo atacar, dizer que você é um idiota, que deve morrer, que você a decepcionou, que vão deixar de ser fã. Mas eu não me furto a isso, ainda que eu perca uns fãs aqui e ali. É uma função do cidadão colocar esses assuntos para debate.”
Cultura
Para o músico, o Brasil ainda trata a cultura como um tema de menor importância na hora de discutir políticas públicas. “A cultura é a identidade do povo, é a autoestima do povo, e as pessoas hoje em dia acham que a cultura é supérflua, como se não fosse exatamente tudo o que o povo faz, produz, todos os nossos processos, interação entre grupos. Tudo isso é cultura. E as pessoas acham que cultura é o de menos”, lamenta.
O cantor cita como exemplo a Lei 11.769, que institui o ensino de música na educação básica. Aprovada durante o primeiro mandato do governo Lula, em 2008, a norma ainda não é aplicada. “Nunca se conseguiu implementar por causa do MEC, que nunca regulamentou essa lei – quem pode dar aula, qual o currículo etc. Essa é uma coisa que a gente acha muito importante. É a valorização da cultura”.
Direitos autorais
Integrante do Grupo de Ação Parlamentar Pró-Música (GAP), Leoni participa ativamente de discussões sobre direitos autorais. O cantor libera suas músicas para download em seu site, e comenta a Lei 12.853/13, que instituiu um novo marco regulatório dos direitos autorais no Brasil, dando mais transparência à gestão dos recursos do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). Na ocasião o Ecad ingressou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF), questionando a norma.
“Essa é uma lei bastante importante. E é tão importante que o Ecad entrou com uma ação de inconstitucionalidade no Supremo contra a lei, o que é muito louco porque os nossos representantes estão indo contra a gente. Os autores conseguiram aprovar a lei e nossos representantes – que representantes são esses? – entraram com uma ação de inconstitucionalidade contra tudo o que a gente fez para melhorar para o nosso lado, é muito doido isso”.
‘Presidencialismo de conchavo’
Leoni também condenou a forma com que a presidente Dilma Rousseff conduziu a reforma política. “Vejo com muita tristeza que a gente tenha hoje um presidencialismo de conchavo, que a gente precise fazer conchavo com pessoas que pensam diferente do governo para poder governar”, critica.
Uma das mudanças lamentada por Leoni foi a saída do filósofo Renato Janine do Ministério da Educação, pasta assumida por Aloizio Mercadante, que deixou a Casa Civil. “Sei que é do jogo político, sei que são necessárias concessões. A democracia não é atender às expectativas de um grupo, mas tentar compor com as expectativas de todos, nunca vai ser ideal para ninguém. Eu sei disso, mas eu acho que esse jogo explícito de toma-lá-dá-cá do qual o governo é refém – e se fez refém também – é pouco convidativo aos cidadãos participar dessa história, de se ver envolvido nisso, de brigar pelos seus direitos, pelo que acredita, quando vê que os nossos representantes não estão pensando do jeito que a gente pensaria”, lamenta o cantor.
Para Leoni, não há saída para o país sem uma profunda reforma política. Contrário ao financiamento privado de campanhas, o cantor defende a ampliação dos espaços de participação popular para qualificar a representação no Congresso Nacional. “Há uma crise de representatividade. Por isso, falo sempre que a reforma política é fundamental para que a gente seja mais bem representado e tenha mais voz do que tem.”
Apesar do momento de crise, o cantor é otimista e espera que, superado esse momento político, a sociedade possa sair fortalecida e, principalmente, mais esclarecida. “Espero que a gente consiga aprender as lições daí. Que pelo menos a gente não desperdice as lições.”
Enquanto formos governados por bandidos, nada mudará.
E os congressistas estão pouco se importando com o que o povo pensa e quer.
Cada um no seu quadrado. O que tem que mudar é o caráter do brasileiro, pois seus representantes agem de acordo com quem os elegem. Esse papinho corretamente político não combina com o contexto do país atualmente. Qualquer sistema que se adote, os ladrões irão a continuar, dentro da população brasileira e apoiados por grande parte que pensam e atuam como eles. Portanto, o que tem que se mudada é essa cultura de bandidos que temos, reforçada por ONGs e comunidades que apoiam bandidagem.