Um dos principais ideólogos da chamada Teologia da Libertação, o ex-frade franciscano Leonardo Boff acaba de lançar o livro O ovo da esperança – o sentido da festa de Páscoa (editora Mar de Idéias), a sua primeira obra voltada para o público infantil. No volume, com ilustrações de Adriana Miranda, o teólogo explica a festa pascal sob as perspectivas judaica e cristã e se debruça sobre a origem dos principais símbolos da páscoa, como o coelho, o ovo e a luz da vela.
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Boff fala também da importância da leitura e tenta convencer as crianças de que uma boa leitura pode, sim, ser mais saborosa e nutritiva do que qualquer pedaço de chocolate. Num país onde o índice de leitura está entre os baixos do mundo – em média, o brasileiro não lê sequer dois livros por ano – e a educação ainda está longe de ser, na prática, um direito universal, o desafio chega a ser utópico. Mas não menos nobre, diga-se de passagem.
Compartilhando da “gula literária” defendida por Leonardo Boff, o Congresso em Foco também lançou um desafio a cinco deputados: que cada um deles sugerisse três leituras obrigatórias para este feriado. Como se pode ver a seguir, Antonio Palocci (PT-SP), Gustavo Fruet (PSDB-PR), Chico Alencar (Psol-RJ), Paulo Renato Souza (PSDB-SP) e João Paulo Cunha (PT-SP) mostram que, a despeito de eventuais divergências partidárias, em alguns casos compartilham do mesmo ponto de vista.
Veja quais são as sugestões deles:
Antonio Palocci (PT-SP)
De volta à Câmara, o ex-ministro da Fazenda acaba de lançar o seu terceiro livro – Sobre formigas e cigarras (Editora Objetiva). Antes, Palocci já havia publicado Dando a volta por cima e Reforma do Estado e os municípios, que abordaram sua experiência como prefeito de Ribeirão Preto (SP).
Por modéstia ou esquecimento, o ex-ministro preferiu não incluir nenhuma de suas obras no pacote literário da Páscoa. Não que o seu último lançamento não tenha despertado interesse. Pelo contrário, em Sobre formigas e cigarras, o petista narra a sua passagem pelo Ministério da Fazenda, do auge à queda, ocorrida há um ano, após a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.
No restante daquele ano, o ex-ministro permaneceu em completo isolamento, mesmo elegendo-se deputado nas eleições de outubro. E ainda hoje são raras as suas entrevistas, assim como de outros integrantes da cúpula do PT que se envolveram na crise política que abateu o partido e o governo Lula, em 2005.
Coincidência ou não, Palocci cita o clássico Cem anos de solidão, do colombiano Gabriel García Márquez, como principal pedida literária. O livro narra as aventuras da família Buendía na imaginária cidade de Macondo, que conhece o ápice, a decadência, retorna aos dias de glória, e assim vai, em altos e baixos, tudo com doses do chamado realismo mágico. “É um livro profundamente humano”, disse o deputado ao Congresso em Foco.
Palocci indica ainda Seis propostas para o próximo milênio, de Ítalo Calvino (1923-1985), uma coletânea de textos que deveriam ser apresentados pelo escritor em conferências na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Calvino, no entanto, morreria antes das palestras. “É um texto essencial sobre atitudes e condutas, de grande valor literário e de muito conteúdo”, explica o deputado.
Por fim, o ex-ministro sugere Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis (1839-1908), considerado por muitos o maior escritor do país. “É uma leitura obrigatória”, resume. Narrado por um defunto, o anti-herói Brás Cubas, o livro é considerado obra inaugural do realismo brasileiro.
Gustavo Fruet (PSDB-PR)
O tucano Gustavo Fruet também recomenda Machado de Assis. Mas aponta outra famosa obra do escritor do Cosme Velho: Dom Casmurro. “É um clássico. A história é bonita e é um trabalho universal, valorizando a literatura brasileira”, diz. Fruet guarda outro ponto em comum com Palocci – o encantamento por Cem anos de solidão, de García Márquez, sua segunda indicação.
Na área de não-ficção, Fruet cita a biografia de Sir Winston Churchill (1874-1965). O primeiro-ministro britânico foi um dos maiores estadistas do século passado e personagem decisivo no desfecho da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). “Para mostrar que não existe perfeição na vida pública, mas que há certos líderes com a capacidade de se antecipar e assumir riscos”. Aos interessados, Churchill é o nome do livro escrito pelo reitor da Universidade de Oxford, Lord Roy Jenkys.
Chico Alencar (Psol-RJ)
Conhecido pela contundência de suas declarações na Câmara, o líder do Psol indica uma leitura, como ele mesmo diz, espiritualizada. O livro é Entre todos os homens, do frade Frei Betto, uma biografia romanceada de Jesus Cristo. “Estou relendo-o agora. É uma leitura que vai fundo na trajetória do homem Jesus na Palestina. Muito bonito literariamente, com fundamento bíblico”, conta Chico Alencar.
O parlamentar fluminense também sugere a leitura de Sagarana, volume de contos de João Guimarães Rosa (1908-1967). “Sagarana é uma obra-prima, como Grande sertão: Veredas. Aqueles que não conhecem Guimarães Rosa aproveitem esses dias para começarem a ler, é brasileiríssimo”, aconselha o deputado, que é professor licenciado de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A terceira indicação dele é o best-seller Caçador de pipas, de Khaled Hosseini, que conta a história de um afegão que emigrou para os Estados Unidos. “É um romance muito tocante, que nos emociona a cada capítulo”, diz.
Paulo Renato Souza (PSDB-SP)
Caçador de pipas não tocou apenas o líder do Psol. Ganhou elogios também do ex-ministro da Educação do governo FHC, o tucano Paulo Renato Souza: “Achei o livro muito interessante”.
“Para uma leitura mais filosófica”, o deputado paulista recomenda A montanha mágica, de Thomas Mann (1875-1955) – obra apontada pelo Círculo do Livro da Noruega como uma das 100 mais importantes de todos os tempos. Para quem quer aprofundar os conhecimentos em história e política, Paulo Renato sugere Brasil: da independência a Lula: dois séculos de política brasileira, de Bolívar Lamounier, cientista político ligado aos tucanos.
João Paulo Cunha (PT-SP)
O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha gosta mesmo do escritor Joseph Conrad (1857-1924). O deputado indicou duas obras do britânico de origem polonesa: No coração das trevas e Juventude. “O primeiro, por causa do drama humano”, justifica o petista. “O segundo, curtinho e facinho de ler, é sobre a fase mais linda de nossa vida: a juventude”.
O terceiro livro apontado pelo ex-presidente da Câmara é De vagões e vagabundo – memórias do submundo, uma espécie de autobiografia do norte-americano Jack London (1876-1916). “Mostra uma fase da vida do autor em que ele realizava quase um trabalho escravo. Tem um pedaço deste livro que tem muito a ver com uma passagem de minha juventude também… depois ele virou socialista, uma opção a partir de sua própria vida”, diz.
Em Osasco (SP), seu reduto eleitoral, João Paulo se envolveu desde cedo no movimento sindical. Foi metalúrgico, filiou-se ao PT em 1981 e, assim como muitos, conta o petista, também acreditou no socialismo como solução para o mundo. Tal como Antonio Palocci, o deputado paulista conheceu o inferno político logo depois de deixar o seu “céu”, no caso, a presidência da Câmara. Acusado de receber R$ 50 mil dos cofres do valerioduto, na época do escândalo do mensalão, por pouco não perdeu o mandato. Apesar da recomendação do Conselho de Ética pela sua cassação, João Paulo foi absolvido pelo Plenário.
E por falar em livros…
O presidente Lula pode até não ser um leitor compulsivo. No início do ano passado, Lula foi severamente criticado por causa de um comentário feito ao receber de presente um livro com as páginas
De lá pra cá, Lula se reelegeu e se reencontrou com os livros. O último que ele leu foi Sobre formigas e cigarras, de seu ex-ministro Antonio Palocci. Lula gostou muito do livro, conta o autor, tanto que o indicou para todo mundo no Palácio do Planalto. “O presidente me falou que gostou bastante”, confirma Palocci.
E não é à toa. Lula é o nome mais citado nas 256 páginas da publicação, sempre de forma elogiosa. Palocci dá grande crédito ao presidente, principalmente nas negociações de bastidores para a definição da política econômica no início do governo e o esforço para recuperar a credibilidade do país no mercado internacional.
Entre os livros que leu e gostou, o presidente costuma citar Estrela solitária, biografia de Mané Garrincha escrita por Ruy Castro; Olga, de Fernando Morais, e Esta noite a liberdade, de Dominique Papierre e Larry Collins. Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, e As veias abertas da América Latina, do uruguaio Eduardo Galeano, também estão entre as obras preferidas do presidente.
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