“O SR. PRESIDENTE (Michel Temer) – Tem a palavra o Deputado Ciro Gomes para uma breve intervenção.
O SR. CIRO GOMES (Bloco/PSB-CE. Pela ordem. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, eu havia aberto mão da gentileza de V.Exa., mas, dado o que ouvi, senti necessidade de, em nome da Casa, voltar à tribuna.
Compreendo a largueza e a nobreza da intenção com que a Mesa Diretora — que tem à testa V.Exa. — está agindo em relação ao regramento do uso das passagens aéreas. Por favor, não me leve a mal, mas quero dizer que, no meu entendimento, cometemos um erro.
O meu nome foi envolvido como se eu houvesse autorizado a emissão de duas passagens para a minha mãe ir para os Estados Unidos. Uma, em abril de 2007. Minha mãe, porém, não fez essa viagem. Portanto, não tendo viajado, nem ela nem ninguém pagaram por tal viagem. Para demonstrar o absurdo dessa informação, ressalto que sequer visto para entrar nos Estados Unidos ela tinha nessa data.
Na segunda viagem, a de dezembro de 2008, minha mãe viajou comigo e pagou sua passagem com recursos próprios.
Portanto, não passa de grosseira mentira o que disseram O Globo, Folha de S. Paulo, Congresso em Foco e Ministério Público Federal. Trata-se de leviana e grosseira mentira envolvendo o nome de minha mãe, uma senhora octogenária.
Não foi essa, porém, a razão pela qual me movimentei até aqui. A fala do Deputado Fernando Gabeira e a decisão da Mesa é que me motivaram a fazê-lo. A população brasileira, a quem servimos, deve ser informada. Quem sabe não fosse o caso de V.Exa. pedir uma cadeia nacional de rádio e televisão para discutir, clara e transparentemente, com os nossos verdadeiros patrões, que não são a plutocracia e seus serviçais na grande mídia, mas a população brasileira, qual o sentido de o contribuinte custear essa, aquela ou aquela outra despesa?
Se o regramento do uso de passagens — e não as usei, mas estou defendendo a Casa — está em vigor há 40 anos, o que explica a oportunidade desse escândalo sistemático hoje? Há regras que regulamentam o uso de passagens. E toda regra pode ser discutida. Não é porque tem 40 anos que é uma boa regra.
Aplaudo qualquer iniciativa no caminho moralizador e do controle social. Está em vigor no Parlamento brasileiro, há 40 anos, regra segundo a qual as passagens podem ser usadas autonomamente pelo Parlamentar para uso próprio, de familiar, de eleitor, de amigo, de quem quer seja.
Volto a dizer: discutir isso é oportuno. Podemos entender que o tempo amadureceu, que se trata de um privilégio descabido. Pessoalmente, já fiz o meu voto, porque inclusive não usei os créditos. Devolvi as sobras aos cofres públicos — R$189 mil dos exercícios de 2007 e 2008. Não ensino isso para ninguém, até porque quem não fez assim não fez nada errado.
Apenas estou aqui querendo me referir a essa sanha violenta, intimidatória. Não pensem que estou aqui em causa própria. Estou defendendo uma questão republicana. O povo brasileiro, pelo nosso exemplo, deve aprender a amar e respeitar esta Casa, o Parlamento, a sua nobreza. Ainda que possua azedas críticas ao Congresso, a sociedade deve tomar o cuidado de, nas próximas eleições, não escolher, entre nós, aqueles que não estejam à altura de um mandato parlamentar. É a democracia que está sendo ferida, e duvido que os jornalistas tenham essa intenção. Não creio que tenham.
Pensam os jovens brasileiros hoje que a política é um pardieiro de pilantras, enganadores e defensores de privilégios, porque não temos tido a compostura — como coletivo — de dar explicações à população. Os americanos têm direito à passagem? Têm. O Parlamento norte-americano tem cartão sem limite para custear a viagem do parlamentar. A França tem custos pagos pelo contribuinte francês? Tem. A Suécia tem? Tem. A Dinamarca tem? Tem. Todos os Parlamentos têm, e falta isso ser explicado ao povo brasileiro.
Sr. Presidente, agradeço a V.Exa. a paciência. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Michel Temer) – Muito bem.”
Deixe um comentário