Congresso em Foco – A Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, trouxe à tona a relação do bicheiro Carlos Cachoeira com vários políticos, e há denúncias que envolvem o governo de Agnelo Queiroz, do Distrito Federal. O senhor faz parte da base aliada do Agnelo, ajudou a elegê-lo. Como o senhor vê esta situação?
Rodrigo Rollemberg – Nós temos o local adequado para fazer as investigações que precisam ser feitas. É importante que sejam feitas com profundidade, responsabilidade e seriedade. Ali que vai se definir efetivamente quem teve relação de culpa ou promíscua com Carlinhos Cachoeira. Os elementos que vieram à tona até aqui, no meu entendimento, são insuficientes para definir que havia uma relação direta do governador com Carlinhos Cachoeira. Agora, o que é fato é que toda essa crise política acaba prejudicando a gestão, que já vem enfrentando muitas dificuldades. O governo não consegue se concentrar em uma agenda positiva, e em uma agenda de enfrentamento aos problemas da cidade, porque tem que se defender, tem que responder à mídia.
Teve o caso do chefe de gabinete do governador, Cláudio Monteiro, que acabou se afastando, as suspeitas com relação aos secretários de Governo, Paulo Tadeu, e de Saúde, Rafael Barbosa. O DF viu nos últimos anos seus governadores, como Joaquim Roriz e José Roberto Arruda, envolvidos em escândalos. Na campanha, Agnelo prometia mudanças e agora está sendo alvo de denúncias. Qual a avaliação?
O que a gente percebe é que não houve uma ruptura definitiva com as forças do passado. A própria composição conservadora do governo Agnelo mostra que a ruptura não foi total. Essas crises políticas acabam contribuindo para o insucesso da gestão. Hoje essa é a questão mais grave. A apuração das denúncias, que é preciso que sejam apuradas, elas estão sendo feitas e devem ser feitas no foro adequado, no Superior Tribunal de Justiça, em função da prerrogativa de foro do governador, e na Comissão Parlamentar de Inquérito. Essas duas instâncias serão fundamentais para esclarecer qual a participação do governador. Em relação, aos secretários, creio que seja muito importante o esclarecimento de qualquer situação. De fato, o que já ficou claro até este momento foi a existência de uma relação muito próxima e inaceitável do chefe de gabinete do governador com o possível esquema do Carlinhos Cachoeira.
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Nos últimos meses, vimos nomes do governo federal sendo nomeados para o governo local, como Swedenberger do Nascimento Barbosa na Casa Civil e Luiz Paulo Barreto, ex-ministro da Justiça, na Secretaria de Planejamento. É uma intervenção branca no GDF?
Olha, se é uma intervenção eu não tenho elementos para afirmar. O fato é que desde o início eu defendi junto ao Agnelo que ele montasse uma equipe de pessoas experientes, que tivessem um trânsito junto ao governo federal, porque com a situação delicada que passava Brasília, essas pessoas seriam muito importantes na constituição do enfrentamento dos primeiros meses de administração. Desde o começo defendi o nome do Berger (Swedenberger do Nascimento Barbosa) para secretário de Governo. No entanto, por conveniências políticas e partidárias internas do PT – e só o PT, porque os aliados históricos, especialmente o PSB e o PDT, foram excluídos do processo decisório –, isso não aconteceu logo no início. O governador montou uma equipe com pessoas com pouca experiência. Com um acúmulo muito grande de poderes e com pouca experiência administrativa. É um ambiente tumultuado. O resultado está aí, uma gestão mal avaliada pela população, o que obrigou a vinda de pessoas experientes para buscar ajudar a socorrer o governo do Distrito Federal. Talvez se essas pessoas mais experientes tivessem vindo no início, nós tivéssemos uma outra situação com relação ao governo.
O senhor disse que não houve uma ruptura definitiva com as forças do passado. O que permanece do passado no atual governo?
Eu não vou citar especificamente, mas a própria avaliação da base de apoio na Câmara Legislativa mostra que não houve um rompimento total com o passado.
Desde o início do ano, antes da Operação Monte Carlo, o PSB discute a saída da base aliada. Afinal, o partido permanece como aliado ou não?
O PSB está em um processo de discussão interna. A postura hoje é uma postura crítica, de cobrança de modificações na gestão, e de cobrança relativa ao programa de governo apresentado na campanha. Este é o momento político do PSB.
Pessoas próximas ao governador avaliam que, pelos seus movimentos políticos, o senhor pode se candidatar ao governo em 2014. O senhor já pensa nisso ou não?
Quem acompanha a minha atividade política diária, desde o início do meu mandato, sabe que isso é absolutamente inverídico. Eu tenho me dedicado ao meu mandato de senador, de presidente da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) do Senado. Desde o ano passado, eu construí um ambiente de entendimento para a apreciação do Código Florestal no Senado. Entendo que aqui conseguimos produzir um texto equilibrado. Infelizmente, a Câmara, em um ato injustificável e inaceitável, produziu um grande retrocesso em relação ao texto produzido por entendimento. Neste momento, estou muito envolvido na organização da Rio + 20. Também tenho estado muito concentrado em ajudar a resolver os problemas do Distrito Federal. Como a recente greve dos professores, em que a bancada federal teve uma atuação importante, ao convocar UnB e OAB para construir uma saída para a greve.
O senhor planeja cumprir os oito anos de mandato? O senhor assinaria um papel garantindo a permanência?
Eu quero dizer que estou procurando desempenhar meu mandato de senador com toda a responsabilidade. É uma honra ser senador pela capital do meu país. E a política é assim: cada coisa no seu tempo. Este é o momento de focar no meu mandato de senador, de ter um bom desempenho. Este é o meu objetivo no momento. Agora, o futuro, a Deus pertence.
Uma reclamação usual da bancada é a falta de diálogo com o governo local. Nestes casos, foi possível abrir as conversas?
É verdade. Acho que até pela imensa dificuldade que há neste momento, o GDF aceitou a intermediação da bancada para a solução da greve dos professores. Aí, a bancada mostrou o quanto pode ajudar o Distrito Federal e, também, ao governo. Foi através de uma iniciativa minha que fomos atrás da UnB e da OAB. Duas instituições que, por sua credibilidade, construíram uma proposta intermediária entre professores e governo, que levou ao fim da greve.
Nessas reuniões da bancada um assunto discutido foi a imensa quantidade de grampos feitos na capital para investigar autoridades e políticos. Um assunto que veio à tona quando se denunciou o suposto uso desse expediente pela Casa Militar do governo local para monitorar adversários e até aliados. O caso estourou, mas nenhuma providência, aparentemente, foi tomada …
Não, as providências foram tomadas. Pedimos informações ao Ministério Público do DF e ao Federal e também ao Ministério da Justiça para saber se havia grampo a parlamentares federais.
Mas não havia uma parte da bancada que queria uma posição mais contundente, com a emissão de uma nota repudiando a atitude?
Não, a posição foi tomada por unanimidade. É importante ressaltar que o PSB apoiou a instalação de uma CPI na Câmara Legislativa. As denúncias são muito graves. Em função da sua gravidade, é preciso investigar se ocorreram ou não. Se ocorreram, é importante que tenham posição exemplar.
Sobre a CPMI do Cachoeira no Congresso, muito se fala sobre a possibilidade de uma “operação abafa” por parte da base aliada da presidenta Dilma Rousseff. Existe alguma movimentação neste sentido?
Não vi. E quero registrar que, se houver, ela será mal sucedida. Com imprensa livre e com o acesso de parlamentares aos documentos da CPI, acho que é impossível, contraproducente e ruim para qualquer parlamentar fazer isso. O importante é que a investigação seja feita com profundidade, responsabilidade e serenidade, para evitar que reputações sejam destruídas.
O governador Agnelo Queiroz deve comparecer à CPMI para prestar depoimento?
Só tendo acesso aos documentos que estão em posse à CPMI para dizer com responsabilidade se o governador Agnelo, se o governador Marconi (Perillo, de Goiás) e o governador Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, devem ser convocados para a CPI.
O senhor teve uma atuação importante no ano passado durante a discussão do Código Florestal, até por ser presidente da CMA. A Câmara rompeu o acordo feito no ano passado para que o texto aprovado no ano passado pelo Senado fosse mantido?
É lamentável o desfecho em relação ao Código Florestal. Acho que a própria Câmara já se deu conta do desastre. O texto do Senado já deveria ter sido votado no final do ano passado. O texto do Senado era equilibrado, buscou afastar os radicalismos tanto do lado ambiental, daqueles que não queriam uma solução, como também afastava os radicais ruralistas, que queriam anistia e perdão das dívidas. Era um texto que permitia ao Brasil continuar produzindo, que dava segurança jurídica ao produtor rural, mas que determinava a recomposição nas beiras de rios, definia critérios rigorosos. Tudo foi negociado com representantes da Câmara. Neste sentido, a morte do deputado Moacir Michelletto foi de um prejuízo enorme. Porque ele era o grande avalista, a grande liderança. Os produtores rurais ficaram sem uma liderança firme. Acabou prevalecendo uma visão imediatista de alguns deputados. A discussão também foi contaminada pela insatisfação politica em alguns setores da base, especialmente do PMDB. Isso provocou esse retrocesso imenso. Ele precisa ser vetado. Minha dúvida hoje é se vou defender o veto de toda a parte transitória do Código, que definia a recomposição das áreas de proteção permanente, ou se defenderei o veto ao Código inteiro. Estou estudando isso, mas já defendo que a presidenta tem que vetar.
A apresentação de um novo texto pelos senadores Luiz Henrique (PMDB-SC) e Jorge Viana (PT-AC) é uma solução para os problemas do Código Florestal?
Nós temos que caminhar em todos os sentidos para retomar o texto do Senado. Temos que ter claro que, aprovado no Senado, este texto vai para a Câmara. Ao mesmo tempo, podemos trabalhar com a hipótese de uma medida provisória restabelecendo o texto do Senado. Temos um problema porque ela começa a tramitar na Câmara, vem para o Senado e depois retorna à Câmara. Mas a medida provisória ao menos tem a vantagem de ser aplicada imediatamente. É importante que o governo seja bastante firme nesta negociação.
O senhor falou que a insatisfação da base contribuiu para a aprovação de outro texto do Código. O que aconteceu?
O que eu ouvi de diversos líderes partidários foi que a discussão do Código foi muito contaminada por insatisfações pontuais da base, localizada em todos os partidos. São questões políticas regionais que precedem a eleição e que geram insatisfação. Como, por exemplo, a não execução de emendas parlamentares. São insatisfações de todo o tipo que o governo às vezes não consegue corresponder. E num momento desses, também prevalecem muito os interesses regionais acima da filosofia partidária.