Ricardo Ramos |
O deputado federal João Batista Oliveira de Araújo, o Babá (PSOL-PA), é um ateu assumido. Acredita que, para o bem do país, os 594 deputados e senadores não deveriam misturar crenças religiosas com atividades parlamentares. “A política não pode ser atravessada pela religião”, critica. O ex-petista, entretanto, nem pensa em exigir a retirada do crucifixo em marfim que ornamenta o plenário da Câmara. Coroinha nos tempos de adolescente, Babá sempre foi voto vencido em sua militância por um Estado laico. O deputado sabe que a negação da existência divina ainda afugenta eleitores num país de fé predominantemente cristã. Por gabinetes, comissões e salões da Câmara e do Senado, símbolos sacros, pregadores a caráter e doutrinadores espirituais demonstram a intimidade da religião com a política. Leia também Mas a poderosa influência da Igreja Católica ainda é discreta no Congresso Nacional. Ao contrário dos evangélicos, que se reúnem em bloco para lutar por projetos de seu próprio interesse, os católicos não conseguem sequer constituir uma bancada parlamentar. Para se contrapor à ameaça que vem das igrejas neopentecostais à sua seara, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) decidiu intensificar a formação de lideranças políticas, com a criação, em fevereiro, do Centro Nacional de Fé e Política “Dom Hélder Câmara”. “O Centro vem para ser um espaço de troca de experiências, debate e reflexão. Isso vai contribuir para que cheguemos a este manancial que é a formação”, explica o senador Pedro Simon (PMDB-RS), membro da Ordem Franciscana. A idéia é conciliar o discurso religioso ao político e ocupar o espaço que vem sendo tomado pelos evangélicos. O contra-ataque dos católicos não pára por aí. De olho no poder midiático dos evangélicos, os católicos têm aumentado o lobby pela aprovação de concessões de rádio e TV com conteúdo religioso. Só a Rede Vida e a Canção Nova, as mais conhecidas delas, compõem um complexo de 922 retransmissoras e operadoras de TV país afora. Os pedidos de autorização de concessão têm sido renovados pelos bispos todos os meses aos 50 parlamentares católicos que se reúnem na sede da CNBB em Brasília. Na discussão da pauta legislativa também há espaço para pedir a votação de projetos de alcance social. A comunicação de massa tem sido uma das principais apostas da Igreja Católica para conter a diáspora de seus fiéis. Na década de 1970, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 92,7% dos brasileiros eram católicos. No ano 2000, esse índice caiu para 73,9%. E a persistir essa queda, em 2010, serão 59,3% da população (leia mais). “Estamos preocupados com o avanço dos evangélicos”, afirmou ao Congresso em Foco o deputado Luiz Couto (PT-PB), que também é padre. “Mas não vamos fazer política em cima de uma dimensão moralista”, completa o petista, numa crítica velada aos evangélicos. Há duas semanas, eles tentaram barrar, sem sucesso, a visita de um grupo de representantes do movimento gay ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), católico de origem conservadora. Depois de apoiarem a eleição de Severino, os religiosos cobram do novo presidente da Casa que impeça a votação do projeto de lei que permite a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Os evangélicos também apostam na aliança com os católicos para impedir a liberação do aborto e da eutanásia no país. A parceria, porém, mostrou-se ineficaz em seu primeiro teste. Na votação da Lei de Biossegurança, no início do mês, os religiosos não conseguiram excluir do projeto a autorização para pesquisas com células-tronco embrionárias. "Mesmo perdendo, vamos acompanhar (as pesquisas) de perto", avisa Adelor Vieira, coordenador da Frente Parlamentar Evangélica. |
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