Fernando Baiano passou a colaborar com a força-tarefa da Lava Jato, em regime de delação premiada (que exige provas em troca de redução de pena), desde o início de setembro. Com o depoimento, ele confirma a acusação feita pelo lobista Júlio Camargo (ex-consultor da Toyo Setal), em meados de julho, estopim para a decisão de Cunha em romper com o governo em 17 daquele mês e, no mesmo dia, dar andamento a 11 processos de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
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Segundo Baiano e Camargo, o dinheiro repassado a Cunha teve origem em contratos de aluguel de navios-sonda da empresa Sansumg para a petrolífera. Na ocasião da denúncia, Cunha disse ao Congresso em Foco que Camargo estava a mentir “a mando” do procurador-geral da República, Rodrigo Janot – segundo essa tese, Janot e o Planalto estariam a tramar sua condenação.
A reportagem quis então saber por que Julio Camargo teria mentido, uma vez que o beneficiado por delação premiada deve apresentar provas do que diz – para legitimar, por meio de seu depoimento, uma eventual redução de pena. Para Cunha, as novas declarações só pioram a situação de Camargo, porque supostamente desmentiriam o próprio depoimento anterior.
“Pior, ele mentiu. Porque já deu vários depoimentos”, acrescentou o deputado, prometendo recorrer a toda e qualquer medida que lhe esteja ao alcance. “Vou reagir com tudo o que puder”, respondeu, depois de questionado pelo site se reagiria com ação por calúnia e difamação.
Em 20 de agosto, Cunha e o senador Fernando Collor (PTB-AL) foram formalmente denunciados por Janot ao Supremo Tribunal Federal (STF) sob a acusação de lavagem de dinheiro e corrupção. Hoje (sexta, 25), Collor apresentou sua defesa ao ministro-relator do caso no Supremo, Teori Zavascki. Ontem (quinta, 24), Cunha recebeu mais 30 dias de prazo para fazê-lo.
Condenado
Fernando Baiano está preso desde novembro de 2014, com condenação de 16 anos de cadeia pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. A sentença foi proferida pelo juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos de investigados sem foro privilegiado no âmbito da Lava Jato. Baiano foi condenado justamente por envolvimento no caso dos navios-sonda, que movimentou R$ 15 milhões em propinas.
Nesta sexta-feira (25), Moro determinou a prisão preventiva de outro suposto operador do PMDB no esquema de corrupção, o engenheiro João Henriques, dono de empresa que recebeu R$ 20 milhões de empreiteiras investigadas na Lava Jato. O PMDB negou as acusações. A defesa de Henriques alega que o empresário não tinha conhecimento do sistema de fraudes na estatal.