A Polícia Federal (PF) cumpre nesta quarta-feira (27) 23 mandados judiciais em São Paulo e Santa Catarina. É a 22ª fase da Operação Lava Jato. Ao todo, 80 policiais que cumprem seis mandados de prisão temporária, 15 de busca e apreensão e dois de condução coercitiva – caso em que a pessoa é obrigada a prestar depoimento. São Paulo tem ação policial na capital, em Santo André e São Bernardo do Campo. Em Santa Catarina, as ações estão voltadas para a cidade de Joaçaba. Já foi presa a publicitária Nelci Warken.
A nova operação, denominada “Triplo X”, investiga uma estrutura criminosa criada para facilitar a abertura de empresas offshores e contas bancárias no exterior a investigados na Lava Jato. A manobra teria o objetivo de esconder valores obtidos com a prática de crimes de corrupção, com ênfase em recursos originados de delitos ocorridos na Petrobras.
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Triplex
A 22ª fase investiga a offshore Murray, sediada no Panamá. A empresa tem um triplex no condomínio na praia de Astúrias, no Guarujá. A obra foi iniciada pela Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop), que já foi presidida por Vaccari Neto. A Bancoop transferiu o empreendimento para a empreiteira OAS em 2009.
A OAS havia reservado, na outra torre do mesmo condomínio, um triplex para a família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula. A nova fase da Lava Jato foi batizada de “Triplo X” em referência ao triplex da Murray. Também apura suspeitas de corrupção, fraude, evasão de divisas e lavagem de dinheiro, entre outros.
Já foi presa a publicitária Nelci Warken, que trabalhou para a Bancoop na área de marketing. A força-tarefa suspeita que ela era uma das coordenadoras dos negócios da offshore. Parentes de Warken e representantes da empresa que cuidou da abertura da Murray também estão sendo procurados.
Os procuradores da Lava Jato investigam se Warken usou a estrutura da empresa no Panamá para operações de ocultação de patrimônio e lavagem de dinheiro para o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e da cunhada dele, Marice Correa de Lima.
A Bancoop foi fundada em 1996, pelo atual ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo). Seus dirigentes elaboravam projetos habitacionais e dividiam os custos entre os cooperados. As cotas eram referentes a imóveis na planta.
Em 2010, João Vaccari Neto, hoje preso, foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo, por suspeita de desvio de dinheiro da cooperativa para campanhas eleitorais do PT. Já Lula é alvo de investigação sobre a legalidade da transferência de empreendimentos da cooperativa à OAS.
Reformas realizadas no tríplex da família Lula, incluindo um elevador privativo, foram pagos pela empreiteira OAS. Uma cota de participação da Bancoop foi adquirida por Lula e Marisa, sua mulher. O empreendimento foi assumido pela OAS, que terminou a obra.
Nas eleições de 2006, Lula informou à Justiça Eleitoral que pagou pago R$ 47.695,38 pelo apartamento à Bancoop. Corretores locais dizem que o imóvel vale R$ 1,5 milhão.
“Passe Livre”
A 21ª fase da Operação Lava jato foi deflagrada no dia 24 de novembro. Recebeu o nome de “Passe livre” e prendeu o pecuarista José Carlos Bumlai, sob a suspeita de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras. O nome do empresário, amigo do ex-presidente Lula, surgiu na delação premiada de Eduardo Musa, ex-gerente da Petrobras, e do lobista Fernando Baiano.
Segundo o juiz Sérgio Moro, que autorizou a prisão de Bumlai, Eduardo Musa confessou que recebeu US$ 720 mil de propinas em depósitos na Suíça feitos por Fernando Schahin, ex-executivo do grupo. O delator informou que foi utilizado um argumento tecnicamente falso para direcionar a contratação da Schahin para operar o navio-sonda Vitória 10.000.
De acordo com declarações de Baiano, Bumlai recebeu R$ 2 milhões em propina. Conforme a delação premiada do lobista, era o pagamento da intermediação de Bumlai junto a Lula para um contrato com a petrolífera.
Silêncio
Chamado a depor na CPI da Câmara sobre a suspeita de ter intermediado empréstimo de R$ 60 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o Banco Schahin, Bumlai, que está preso na PF em Curitiba, ficou em silêncio, por força de um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF).
A PF prendeu ainda André Esteves, sócio do banco BTG Pactual. Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), por suspeita de obstrução das investigações da Operação Lava Jato. Esteves, que hoje cumpre prisão domiciliar, já foi o 13º mais rico do Brasil. Além dele, também foram presos o senador Delcídio Amaral (PT-MS), o chefe de gabinete dele, Diogo Ferreira, e o advogado Édson Ribeiro.
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