A força-tarefa da Lava Jato informou, nesta quinta-feira (23), que senadores do PMDB estão entre os políticos e agentes públicos que receberam US$ 40 milhões em propina, ao longo de dez anos, dos lobistas Jorge Luz e Bruno Luz, principais alvos da nova etapa da operação. Sócios, pai e filho não foram localizados pela Polícia Federal, que tentou cumprir os mandados de prisão expedidos pelo juiz Sérgio Moro. A informação que a PF tem é de que eles estão morando nos Estados Unidos.
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“Os beneficiários eram diretores e gerentes da Petrobras e também pessoas com foro privilegiado, agentes políticos relacionados ao PMDB. Há elementos que apontam que agentes políticos do Senado, ainda na ativa, foram beneficiários de parte desses pagamentos”, disse o procurador da República Diogo Castor de Mattos, em entrevista coletiva em Curitiba. Por terem foro privilegiado, os senadores não tiveram o nome divulgado. As investigações contra eles só podem ser levadas adiante pela Procuradoria-Geral da República com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF).
Jorge e Bruno Luz são investigados por corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Eles são suspeitos de intermediar propina de “forma profissional e reiterada”, segundo o Ministério Público Federal, na diretoria Internacional da Petrobras, com atuação também nas diretorias de Serviço e Abastecimento da estatal. Os investigadores afirmam que pai e filho utilizavam contas de empresas offshores na Suíça e nas Bahamas para dissimular o pagamento de propina.
Na linha de tiro da operação, o PMDB negou qualquer vínculo com os lobistas. “Não têm relação com o partido e nunca foram autorizados a falar em nome do PMDB”, sustentou a legenda em nota.
“Entre os contratos da diretoria Internacional, os alvos são suspeitos de intermediar propinas na compra dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitória 10.000; na operação do navio sonda Vitoria 10.000 e na venda, pela Petrobras, da Transener para a empresa Eletroengenharia”, afirmou o MPF.
Um dos beneficiários por essa transação, segundo o delator Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobras, foi senador Renan Calheiros (PMDB-AL). O líder do PMDB no Senado recebeu US$ 6 milhões pelo negócio, de acordo com Cerveró.
“O Jorge Luz era um operador dos muitos que atuam na Petrobras. Eu conheci o Jorge Luz, inclusive nós trabalhamos, também faz parte de uma propina que eu recebi, que faz parte da minha colaboração na Argentina. E foi o operador que pagou os US$ 6 milhões, da comissão. Da propina da sonda Petrobras 10.000, foi o Jorge Luz encarregado de pagar ao senador Renan Calheiros”, reforçou. Renan admite conhecer Jorge, mas nega ter recebido vantagens indevidas. E diz que não o vê há 25 anos.
“As prisões foram decretadas para garantia de ordem pública e para assegurar a aplicação da lei penal, tendo em conta a notícia que os investigados se evadiram recentemente para o exterior, possuindo inclusive dupla nacionalidade”, disse Diogo Castor. O procurador adiantou que as autoridades brasileiras tentarão trazer espontaneamente pai e filho. Do contrário, será pedida a extradição deles. Bruno, porém, tem também cidadania portuguesa.
Em sua delação, Cerveró reconheceu ter recebido propina do lobista por uma transação na Argentina. “O Jorge Luz era um operador dos muitos que atuam na Petrobras. Eu conheci o Jorge Luz, inclusive nós trabalhamos, também faz parte de uma propina que eu recebi, que faz parte da minha colaboração na Argentina. E foi o operador que pagou os US$ 6 milhões, da comissão. Da propina da sonda Petrobras 10.000, foi o Jorge Luz encarregado de pagar ao senador Renan Calheiros…”, reforçou.
Engenheiro e empresário, Jorge Luz já era apontado pela Lava Jato como um dos principais agentes do esquema de corrupção na Petrobras e na Eletronuclear. “O Jorge é um lobista dentro da Petrobras desde sempre. Eu vim a conhecê-lo quando ocorreu aquele fato de ter que ter apoio do PMDB para eu continuar na diretoria”, disse em depoimento o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, em sua delação premiada. Sua atuação também foi destacada por Fernando Soares (Baiano), outro lobista que atuava em favor do PMDB e que também virou delator.
No processo-mãe da Lava Jato, Jorge Luz é citado pelo procurador-geral da República como importante peça na engrenagem do esquema de corrupção. Na ação, o procurador já destacava a promessa do lobista de dar US$ 40 milhões em propina à diretoria Internacional da Petrobras para ser rateado entre os senadores da República. Batizada de Blackout, a 38ª fase da Lava Jato cumpriu 13 mandados de busca e apreensão no Rio nesta quinta-feira.