O jornalista norte-americano Larry Rohter, até a semana passada correspondente do prestigioso New York Times no Brasil (e demais países do Mercosul), falou pela primeira vez, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, sobre o episódio que quase resultou na sua expulsão do país, em 2004, quando assinou um artigo que se transformou em polêmica nacional. O titulo era: “Hábito de bebericar do presidente vira preocupação nacional”.
O jornalista, que deve ser correspondente do Times em Pequim, a partir do ano que vem, conta que está preparando um livro sobre sua experiência no Brasil, em que narrará também os bastidores da polêmica reportagem. “Estou escrevendo um livro sobre o Brasil, contando bastidores dos momentos polêmicos que vivi e oferecendo minha visão dos fatos. Não vou embora de imediato. Vou ficar até terminar o livro, no começo do ano que vem.”
Larry chegou pela primeira vez ao Brasil na primeira metade dos anos de 1970. Foi correspondente do Washington Post e da Newsweek, e deixou o país na década seguinte. Retornou em 1998, pelo NYT.
Casado com uma brasileira, o jornalista disse que, por uma política do jornal que trabalha, ficou impedido de se manifestar quando a matéria sobre os hábitos do presidente Lula foi publicada. “O New York Times tem uma norma que todos os correspondentes devem acatar: não fazer nenhum comentário pessoal sobre assuntos internos do país onde atuam. Então, fiquei quieto. Só que setores inescrupulosos da imprensa brasileira se aproveitaram do meu silêncio e passaram a me atacar”, afirmou. Segundo conta, os ataques a ele foram liderados pelas Organizações Globo.
Após a publicação da matéria, Larry Rohter teve a suspensão do visto temporário pelo Ministério da Justiça. O atual governador do Rio, Sérgio Cabral, na época senador, entrou com pedido de habeas-corpus em favor do correspondente, além da necessidade do embaixador brasileiro em Washington se reunir com o jornal americano. Só depois, a crise foi solucionada.
“O presidente foi mal assessorado. Difícil saber o que de fato aconteceu no Palácio do Planalto naqueles dias, mas tudo indica que as coisas ficaram muito ruins pro meu lado. Só mudaram de curso quando o então senador Sérgio Cabral entrou com um habeas-corpus a meu favor. Ali, e só ali, senti que, num eventual julgamento da questão, o Supremo, inteiro ou em boa parte, ficaria contra o governo. O ministro Márcio Thomaz Bastos (da Justiça) não tinha outra opção a não ser costurar um acordo”, declarou sobre o episódio.
Segundo o correspondente, sua fonte para a matéria foi Leonel Brizola, ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul. Segundo Rohter, atualmente o presidente Lula não enfrenta mais problemas com bebida. “Hoje ele enfrenta dificuldades de outra ordem”, disse. O jornalista sugere que sua reportagem possa ter contribuído para a mudança de hábito do presidente. (Lucas Ferraz)
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