Sylvio Costa
Quem assina o "Manifesto por uma mídia democrática e independente", além de se identificar com nome completo e e-mail, pode deixar publicadas suas observações sobre o comportamento da mídia nacional.
Selecionamos algumas opiniões encontradas lá. Elas mostram o elevado nível de indignação dos signatários, além de darem forma a críticas específicas, contra diferentes veículos. Há de tudo, desde ingênuos apelos por imparcialidade até uma autoritária manifestação pelo fechamento da revista Veja.
Preciso explicar porque ponho um tiquinho a mais de pimenta nessa moqueca. Profissionais de jornalismo com alguma experiência e o mínimo de senso crítico sabem que ser imparcial é algo impossível. Eles podem – e devem – ser, isto sim, honestos, dignos, dar igual espaço a partes que se vêem em conflito em determinada cobertura jornalística, seguir critérios compreensíveis e transparentes para.sua atuação. Ninguém consegue, no entanto, livrar-se completamente de suas opiniões, trajetória pessoal, idiossincrasias, conceitos ou mesmo preconceitos ao apurar, narrar, editar e publicar notícias.
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No segundo caso, por mais que se possa acusar a mais lida e influente revista do país de emperdenidos alckmismo ou antilulismo, soa bastante esquisito que um defensor da democratização da informação inclua em sua pregação a supressão de vozes contrárias à sua perspectiva ideológica ou visão de mundo.
Sem falar da signatária que conclama todos a quebrarem sua televisão, porque "ela envenena a alma com tanta mentira e aleivosia". Exageros à parte, a inspiração comum é uma saudável reação virtual contra uma mídia que, como qualquer outra instituição, não não pode estar imune a questionamentos numa sociedade democrática.
Veja alguns comentários dos signatários do manifesto:
Marcia Chevrand – "Sinto-me extremamente lesada pela mídia!!"
Carlos Antonio de Alencar Mendes – "Concordo plenamente que a mídia vem manipulando os fatos e tingindo, tendenciosamente, com cores fortes, quaisquer cenários que possam atingir o candidato Lula."
Marcos A. Maia – "As editorias fabricam, de forma vergonhosa e manipulada, manchetes explosivas nas primeiras páginas sobre fatos corriqueiros abordados dentro da matéria. As retificações, quando o fazem, restringem-se a notas de rodadpé. Os fatos negativos ao "outro lado" são esquecidos, protelados ou publicados em letrinhas miúdas. Uma mídia típica da elite arrogante que domina o Brasil há 500 anos."
Patrícia Paixão – "Sou mestre em Comunicação Social pela Umesp e estou enojada com a cobertura da imprensa nestas eleições. Repete-se o cenário anti-Lula sujo das eleições de 1989. É inaceitável que jornais, TVs e rádios continuem fazendo uma campanha pró-PSDB, transgredindo o conceito da imparcialidade no jornalismo. Meu mestrado foi sobre a cobertura da Folha de S.Paulo nas eleições de 2002 e tive o mesmo triste diagnóstico. A Folha fez uma cobertura declaradamente pró-Serra. Isso porque se diz o jornal mais ‘apartidário’ do país. Algo tem de ser feito. A imprensa não pode agir assim, sem controle."
Sergio Isoldi – "A liberdade democrática pressupõe uma imprensa igualmente responsável, que saiba separar opinião de informação, e não queira manipular a mente dos leitores, que já não são tão passiveis de manipulações. Chega de mentiras, viva a Verdade!"
Tânia Elias Magno da Silva – "Espero que a Justiça não seja cega e a verdade dos fatos seja apurada, basta de uma época de imprensa tendenciosa e burra."
Vitor Tadeu F. de Oliveira – "Avisem a eles que isso não cola mais!!!"
Douglas Soldan – "Fim da Veja já!"
Adriano Garcia da Silva – "A rádio-pião é mil vezes mais confiável que essa mídia parcial."
Ana Maria dos Santos – "Está na hora de lutarmos pela reforma ‘agrária’ da comunicação. Chega de engolir os concessionários da ditadura e do ACM, o Malvadeza que foi ministro do FHC [aqui, a signatária comete um equívoco; ACM foi ministro das Comunicações de José Sarney] e distribuiu para sua súcia de apadrinhados os meios de comunicação deste país. Faz 30 anos que eu prego: ‘Queres vencer na vida, quebre a tua televisão. Ela envenena a alma com tanta mentira e aleivosia, pois está em mãos inescrupulosas, tendenciosas, vendidas, cavilosas’."
Luís Roberto Cândido – "Uma ilustração da situação: uma jornalista de O Globo escreveu que ‘o povo está indo contra a opinião pública’, ao avaliar as pesquisas eleitorais. Ora! Então. o que é opinião pública? A opinião do povo ou dos meios de comunicação?"