Na guerra eleitoral, as estratégias para captação de votos dos candidatos não encontram barreiras. Nem religião vira tabu quando o assunto é cooptar mais eleitores.
O prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Gilberto Kassab (DEM), participou de culto na Igreja Evangélica da Comunhão Plena, no dia 20 de setembro passado. Mas seus assessores garantiram hoje (24) ao Congresso em Foco que ele ainda é católico e que o gesto – típica confissão de fé para os protestantes – não significou uma conversão.
Na ocasião, Kassab aceitou Jesus como seu senhor e salvador e decidiu entregar sua vida a Deus. Recebeu as bênçãos do apóstolo Sérgio Lopes e de mais de 5 mil mulheres fiéis presentes ao evento na Barra Funda, distrito da região oeste de São Paulo. A “conversão” foi gravada em vídeo.
Kassab atendeu ao pedido do pastor e o acompanhou em uma oração: “A partir de hoje, diante do teu altar, eu o consagro minha vida, meus sonhos, minha carreira política e a minha reeleição para prefeito e, em nome de Jesus, se o senhor me conceder essa oportunidade de voltar a ser o prefeito de São Paulo, quero fazer um voto contigo hoje. Vou fazer um culto de ação de graças para louvor e honra a partir de agora para meu senhor e salvador Jesus Cristo, amém”, orou o prefeito, diante do rebanho
A assessoria de Kassab na prefeitura afirma que ele não se converteu à nova religião e que mantém sua fé católica. Já segundo os assessores da campanha à reeleição, é natural que o candidato participe de cultos de credos diversos durante o período eleitoral, e que o prefeito apenas atendeu a um convite da Igreja ao comparecer ao evento.
Os auxiliares dizem que, apesar de Kassab ter afirmado que aceitou Jesus durante o culto, isso não altera sua fé na Igreja Católica. “Claro que ele aceita Jesus, mas ele não mudou de religião”, afirmou um dos assessores do prefeito.
Dever do povo de Deus
A pastora Viviane Nascimento, do setor de comunicação da Igreja Comunhão Plena, conta que foi a assessoria de Kassab que procurou a Igreja a fim de promover o encontro do prefeito com os fiéis. Ela defende que é um dever do “povo de Deus” receber e abençoar as autoridades.
Mas Viviane relativiza a conversão do candidato. Ela alega que aceitar Jesus publicamente não configura necessariamente que o prefeito tenha se convertido. A pastora explica que a conversão é uma mudança interior, e que é preciso acompanhar os passos seguintes à aceitação de Jesus para saber se a pessoa realmente passou a seguir a fé em questão.
“Só o prefeito pode dizer se aceita Jesus em seu coração. É uma pergunta que deve ser feita a ele”, aponta. Viviane não crê que Kassab possa ter usado sua participação entre os mais de 5 mil fiéis com fins políticos. “Não foi campanha política, ele teve a oportunidade de ter a experiência com Deus e declarar isso diante do público”, assegura.
O momento exato da conversão nas igrejas neo-pentecostais varia conforme orientações próprias a cada igreja. Para o pastor Alexandre Florêncio Junior, um dos secretários da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil, dizer que está aceitando Jesus caracteriza, sim, a conversão. Porém, para ele, só Kassab pode responder se verdadeiramente converteu-se.
Numa cena do vídeo, o prefeito responde “sim” à pergunta se ele aceita Jesus em seu coração. Nesse caso, pastor Alexandre é enfático: “Sim, isso faz dele um evangélico”. (Júnia Gama)