Vinicius Sousa dos Santos *
O ano de 2016 ainda não acabou, mas com toda a agitação política nos últimos meses, já podemos pensá-lo em retrospectiva. Afinal, por sorte, não é sempre que experimentamos o processo árduo de impeachment – inclusive, muitos dos jovens que se mobilizaram a favor ainda nem eram nascidos na época do impeachment do hoje senador e ex-presidente Fernando Collor. Ademais, não temos precedentes históricos no Brasil compatíveis à repercussão das operações deflagradas pela Polícia Federal, que inovaram não apenas pelos nomes das operações, mas pelo conteúdo de cada uma delas, elucidando evidências que aproximavam crimes contra a ordem pública de grandes caciques políticos.
Desse modo, meu objetivo com este breve artigo é relacionar esta realidade à minha atuação como coordenador de um projeto social voltado para a promoção de conscientização política e cidadã dos jovens. Para tanto, compartilharei algumas lições que aprendi ao longo deste ano.
Como pontapé inicial, uma constatação simples: a participação política dos jovens se tornou ainda mais associada ao uso das redes sociais como plataforma de comunicação. Obviamente, esse é um processo que também nos remete ao ano de 2013, significativo pelas manifestações de rua em torno de múltiplas pautas, que convergiam na intenção de deixar clara a insatisfação generalizada com as instâncias políticas. Como ilustração, recomendo a leitura e a avaliação das descobertas da pesquisa “Sonho Brasileiro da Política”, estudo este motivado pela repercussão das manifestações.
Leia também
Considerando tais aspectos, a linha histórica traçada até aqui permite afirmar que 2016 segue a tendência dos anos anteriores e é produto de um processo inacabado de consolidação das redes sociais como principal plataforma de manifestação política dos jovens.
PublicidadeAssim, destaco uma primeira lição deste ano, ao qual a divido em dois aspectos: primeiro, em tempos de difusão instantânea de informações, as redes sociais não estão isentas do compartilhamento de conteúdo político impreciso e inverídico – pelo contrário. Como exemplo, no mês de abril, no exato momento em que a Câmara autorizava a instauração do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, três das cinco notícias mais compartilhadas no Facebook eram falsas. Segundo, as discussões políticas em meios digitais têm ampliado suas capacidades nocivas, inclusive abalando amizades novas e antigas.
Em decorrência disso, surge a segunda lição: ainda não vencemos os dilemas da polarização política e ideológica, provada pela vivência nas redes sociais. Nós, jovens, precisamos entender que, assim como nas manifestações de 2013, é possível encontrar pontos de convergência sobre o que mudar na política. Por mais utópico que possa parecer, a lógica do “juntos somos mais fortes” pode prevalecer quando percebermos que é possível cooperar e dialogar politicamente, mesmo quando os interlocutores pensam diferentemente. Para tanto, um exercício inicial pode ser refletir sobre o princípio da alteridade e sua mensagem de interdependência de um sujeito em relação ao outro.
Por fim, destaco a última lição, referente à necessidade de ressignificarmos a participação do jovem na política. O ano de 2016 mostrou que podemos – e devemos – pensar em formas de melhorar essa participação. Os jovens são importantes agentes, têm se engajado cada vez mais e são os nossos futuros representantes nos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário – alguns até já ocupam estas instâncias.
Nesse sentido, acredito que três aspectos são importantes nesse processo que denominei de “ressignificação” da participação do jovem. Primeiro, precisamos empoderar e contribuir com coletivos sociais que buscam promover o diálogo entre diversas perspectivas político-ideológicas, a fim de mitigarmos a polarização nociva à convivência em sociedade; segundo, não podemos esquecer que a política não se resume a confrontação e discórdia, ela é também consenso e cooperação; e terceiro, precisamos reciclar constantemente o nosso ideal de política, ao passo que saibamos distinguir o que não é política – agressões verbais e físicas entram nesse contexto.
Portanto, o ano de 2016 deixa algumas lições para refletirmos nos anos que virão. Avançamos bastante, mas como a melhor escolha que temos é seguir em frente, precisamos pensar no que podemos melhorar para não estagnar em meio a nossa crise política e econômica.
*Formado em Relações Internacionais e fundador do coletivo Café Com Política