Começaram as férias. Não as escolares, estas estão mais para a metade do mês de julho. Começaram as férias dos juízes e, junto, a alegria. Alegria de quem entra em férias, que pode ficar com a família e viajar, e a alegria de alguns membros da elite brasileira que, por mais suspeitos que sejam de corrupção, recebem afagos do judiciário e podem ir viver com a sua família e a sua fortuna.
É isto que ocorreu com Aécio Neves (PSDB) e Rocha Loures (PMDB), o homem da mala de 500 mil reais, segundo informações, para entregar a Temer.
Alguns podem dizer: “sorte deles”. Não é sorte, não. Eles não são do PT. Se fossem, continuariam na cadeia.
Caso do senador Aécio, presidente do PSDB. Por muito menos do que ele (Aécio) fez, Delcídio do Amaral foi preso e cassado. Não tenho e nunca tive nenhuma simpatia pelo Delcídio, mas ele levava, infelizmente, a marca PT.
O Aécio, flagrado negociando uma propina de dois milhões de reais, está solto e autorizado a exercer o mandato de senador. Pior, a Comissão de Ética do Senado arquivou o processo de investigação por quebra decoro parlamentar. É ou não é seletiva a justiça? São ou não seletivas as ações do Senado do Brasil?
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Na última semana de junho, João Vaccari foi absolvido por falta de provas.
PublicidadeAquilo que muitos juristas têm dito: só a delação não é o suficiente para condenar, são necessárias provas. Este foi o entendimento do TRF-4, que absolveu Vaccari. Mas como ele é do PT, o juiz Sérgio Moro, até o momento que escrevo este artigo, não o soltou.
Há um discurso de membros da lava jato de que no Brasil ”não há ninguém acima da lei”. As decisões do final de junho mostram que há, sim, pessoas acima da lei. Há juízes, procuradores, promotores, senadores, deputados e alguns mais que estão acima da lei, que não vale para eles. A regra e a régua para medir o comportamento de um petista não são as mesmas usadas para medir o comportamento dos membros dos outros partidos e da elite do judiciário brasileiro. Poderia escrever um trabalho acadêmico sobre isto, mas ficarei apenas em dois exemplos.
Em março deste ano, o ministro Fux, do Supremo Tribunal Federal, através de uma liminar, sustou o acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo que condenou o juiz de Direito Gersino Donizete do Prado a oito anos e quatro meses pelo crime de concussão.O juiz Donizete Prado, segundo o Ministério Público, cometeu crime de concussão por 177 vezes contra um empresário do município de Santo André. Se ele fosse do PT, como seria?
Fernando Brito, no seu blog, divulga que “dos mais de 1.400 membros do Ministério Público de São Paulo, apenas 60, cerca de 3% deles, recebem abaixo do teto constitucional de R$ 33,7 mil, equivalente ao vencimento de um ministro do STF”. No Brasil, a Constituição e a lei são para todos? Não. Há juízes, procuradores e promotores que recebem acima do teto constitucional e acham que isso é legal.
A aplicação da lei no Brasil depende de vários fatores, como, por exemplo, a cor da pele, a posição social e ideológica partidária, o montante (reais ou dólares) acumulado, as origens familiares, ou seja, ser de “boa família”, região em que mora da cidade, gênero, etc.
É fácil constatar isso. Novamente para não cansar, ficarei num só exemplo: Aécio x Rafael Braga. Você não sabe quem é Rafael Braga?
Rafael Braga foi preso em 2013, naqueles protestos dos aumentos de vinte centavos na passagem de ônibus. Ele foi preso com duas garrafas de Pinho Sol na mochila. A elite não sabe o que é Pinho Sol, pois é a empregada que compra para limpar a sujeira que eles fazem no banheiro.
Acusação? Que o item seria usado para fazer coquetel molotov.
Claro que ele, jovem e negro, foi condenado, por portar Pinho Sol, a onze anos de prisão, com base unicamente nos depoimentos dos policiais.
Não sei se Rafael é do PT, mas é portador de dois Ps, o P de preto e o de pobre. Os outros são os de puta, e no momento foi incluído o P de PT. Esses merecem cadeia. Quanto a Aécio, este tem sangue da elite branca e escravagista. Não pode ser preso. É tucano, é do PSDB.
Como a lei parece que só vale para os portadores do P, é provável que, sem provas, Lula seja condenado por um apartamento que simplesmente não é e nunca foi dele.