Domingo, dia 18 passado, logo pela manhã, um vídeo divulgado pela SCCP no Twitter circulava nas redes sociais. O vídeo mostra uma pessoa caída sendo violentamente agredida. Pior, pessoas que estão caminhando em rumo contrário ao agredido, e ao vê-lo apanhando, voltam atrás e correm para espancá-lo, pisoteá-lo e chutá-lo.
Há que se registrar que, no vídeo, também aparecem um ou dois bons samaritanos: não vacilaram em defender a vida e a integridade física do agredido. Acompanha o vídeo um curto texto informando que se tratava de uma briga entre torcedores do Coritiba e do Corinthians. Mas, no vídeo, só vejo uma pessoa caída e sendo agredida.
Com asco e indignação, me pergunto: Por que tanta violência? O que pensam essas pessoas? Qual o resquício de humanismo que têm? São essas mesmas pessoas que chegam em casa todos os dias, seja do trabalho, do estudo ou da diversão e abraçam e são abraçados por familiares (pais, mães, filhos e filhas)?
São essas mesmas pessoas que vão à igreja orar ou rezar? Orar e rezar, mesmo que quase insignificante, há uma diferença estre estas duas palavras. “Orem pelo Brasil”, é a frase que leio em alguns vidros traseiros de alguns carros. Não seria melhor orar pelos brasileiros e, mais do que isso, desarmar o ódio? Não seria melhor investir na educação? Não vacilar na defesa do direito do outro pensar diferente e no caso torcer por outro time de futebol.
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No texto que li, que divulga o vídeo, há a informação de que a confusão entre os torcedores aconteceu por volta das 8h30, próximo ao estádio Couto Pereira, em Curitiba.
Neste horário, domingo, o dia estava ensolarado e de temperatura agradável para o período do ano. Dia bonito, adequado para passear e, para os que gostam de futebol, ir para o estádio. Mas alguém não foi. Foi parar no hospital.Publicidade
Alguns, após espancarem um cidadão, foram para o estádio gritar, torcer por seu time e alegrar-se, caso vencesse. Caso perdesse, será que sairiam quebrando a cidade e espancando quem pela frente encontrasse?
Mas vem-me a pergunta: com que estado de espírito estes agressores conseguem festejar o gol de seu time? Com o de arrependimento ou o de satisfação?
Há aqueles que sentem satisfação em praticar a violência. Seja a violência física, psíquica, institucional, moral, política, etc.. É visível o aumento da violência, por satisfação, no nosso país, nos últimos tempos, e parece que não há perspectiva de que seja freada.
Já era grande. Piorou depois do golpe. Ganhou um caráter institucional.
Dia 12 passado, as pessoas que ainda acreditam na possibilidade da solidariedade, do humanismo e na recuperação das pessoas que vivem em conflito com a lei se indignaram quando tomaram conhecimento de que um adolescente de 17 anos teve sua testa tatuada com a frase “eu sou ladrão e vacilão”. Tomamos conhecimento no dia 12, mas o fato ocorreu no dia 31 de maio.
No Brasil, cada vez mais ganha força o preceito da justiça pelas próprias mãos. Ao lado deste, caminha outro preceito, o de que “ladrão bom é ladrão morto”. O crescimento destes dois preceitos na inconsciência (é isto mesmo, inconsciência) da população abre o caminho para que cada um entenda o que é justiça e passe a praticá-la.
Foi isso que fizeram o tatuador Maycon Wesley Carvalho dos Reis, de 27 anos, e seu amigo, Ronildo Moreira de Araújo, 29 , ao tatuar a frase na testa do jovem.
Para eles, isso seria justiça, quando nada mais é que vingança ou pura maldade. Marcar um garoto como se marcava um bezerro. A marca é para sempre. Não levaram em consideração que poderia ser um portador de sofrimento mental, como afirmou a família, ou que no futuro poderia vir a ser um ‘bom samaritano’.
Não entrarei no mérito se o jovem vive ou não em conflito com a lei, mas Ronildo e Maycon não têm o direito de punir ninguém. Se no Brasil falta justiça, e falta, é na política e coletivamente que faremos a luta para conquistá-la e não “praticando-a” com as próprias mãos.
Justiça com as próprias mãos não é justiça, é justiçamento. No dia a dia, são muitos os horrores a que assistimos. Assistimos porque muitas vezes os próprios autores das crueldades colocam as filmagens nas redes sociais.
É preciso não vacilar: combater a violência e construir a justiça.