Em junho do ano passado, eu também estava nas ruas, acompanhando minhas filhas nas manifestações populares que aconteceram aqui em Brasília, assim como em todo o país. Agora teremos novamente muita gente nas ruas das capitais, 12 delas – num surto de megalomania – transformadas em cidades-sede da Copa da Fifa. E, espera-se, a retomada das manifestações sob o signo da anti-Copa.
Junho carrega uma marca pesada, relacionada a Juno, rainha dos deuses na mitologia romana, invejosa e vingativa, simbolizada pelo pavão. Juno não gostaria que a realização da Copa da Fifa no Brasil fosse mais uma oportunidade perdida de mostrar ao mundo nossa capacidade de potência emergente.
Mas seria recomendável que ela deixasse um pouco a vaidade de lado e ouvisse Jano, o deus da cara-dupla. Ele lhe diria que a Copa da Fifa se tornou um fenômeno típico da globalização. De um lado estão os que são considerados fortes e vitoriosos: o espetáculo, os grandes eventos e os interesses comerciais. Mundo sem fronteiras, onde manda quem tem padrão-Fifa e obedece quem tem rabo preso. Mas existe o outro lado, a linha do ‘outro mundo possível’, da solidariedade planetária e dos “occupy” que se estendem da Europa ao Oriente, passando pelo México e Brasil.
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Juno talvez preferisse que os estrangeiros vissem aqui um país gentil, fazendo cara de paisagem para a corrupção. Jano sabe que nossos visitantes repartem conosco o mesmo mundo globalizado. Torcedores nas ruas cantando felizes e manifestantes nas ruas protestando livremente são apenas o retrato do Brasil contemporâneo.
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