Por Matheus Andrade, de Juiz de Fora
Especial para o Congresso em Foco
O candidato do PSL à Presidência da República, deputado Jair Bolsonaro (RJ), saiu da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora (MG) por volta das 8h20 desta sexta-feira (7), com destino ao Aeroporto Regional da Serrinha, onde embarcou para São Paulo, rumo ao Hospital Albert Eistein. Desde a noite de ontem (quinta, 6), uma equipe da instituição paulista já acompanhava o quadro clínico do presidenciável, em mais uma sinalização de que, depois da facada que o presidenciável sofreu durante ato de campanha, o quadro caminha para a normalidade. O mesmo acontece na cidade mineira que, dada a proximidade com a fronteira entre Minas e Rio de Janeiro, é chamada de o “bairro mais distante do Rio”.
Mas tudo indica que o atentado ainda será, por muitos dias, o assunto principal no município. A reportagem do Congresso em Foco falou com alguns personagens centrais no cotidiano da cidade e verificou, em um dia de feriado, que a passagem de Bolsonaro vai deixar cicatrizes na memória dos juiz-foranos.
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Diante da remoção do candidato para São Paulo, o presidente da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, Renato Loures, fez questão de tranquilizar o público a respeito da situação de Bolsonaro: “A transferência foi um pedido da família. Ele saiu daqui muito bem, lúcido e falando. Acreditamos que possa haver um desfecho muito bom em São Paulo”, vislumbrou.
Durante a transferência do candidato, estava em curso em frente à Santa Casa de Misericórdia, localizada na Avenida Rio Branco, principal via da cidade, o tradicional desfile em comemoração ao 7 de Setembro. Gritos em apoio a Bolsonaro foram ouvidos e muitas camisas com a estampa do presidenciável eram visíveis. Apesar da aglomeração, o clima na cidade era bem mais tranquilo do que na véspera, quando foguetes já cruzavam os céus desde a chegada do presidenciável a Juiz de Fora.
Em visita de Bolsonaro à Associação Feminina de Combate ao Câncer de Juiz de Fora (Ascomcer), populares relataram tumulto na instituição. Diversos apoiadores do candidato se aglomeraram em frente ao hospital, o que causou dificuldades a pacientes e acompanhantes.
No caso da Santa Casa de Misericórdia, apesar da grande quantidade de apoiadores gritando expressões como “mito”, o presidente da instituição indicou que não houve transtorno: “O tumulto foi na rua, não no hospital. Não houve nenhum prejuízo.”
Efeito colateral
O atentado na tarde de ontem (quinta, 6) alterou a organização do desfile de 7 de Setembro. É o que confirma o coronel da Polícia Militar Alexandre Nocelli. “A gente teve que reduzir um pouco o contingente que iria desfilar para reforçar o policiamento. Potencializamos pensando que poderia ocorrer algum problema, mas não houve nada”, informou.
Segundo o oficial, aumentou o fluxo de pessoas na celebração deste ano. “Relacionado aos outros, pela experiência que temos, a participação foi maior na Avenida.” No local do ataque – a Rua Halfeld, bem próxima à Avenida Rio Branco – o clima era muito tranquilo e poucas lojas funcionavam na manhã do feriado. Nenhuma marca da confusão de ontem era visível.
Muitos políticos locais aproveitaram a ocasião para fazer campanha. Dentre eles se destaca a vereadora mais votada em Juiz de Fora na última eleição, Delegada Scheila. Também do PSL e candidata a deputada estadual, ela comentou o atentado.
“Penso que a população já está insatisfeita com a falta de segurança. Tanto que o Jair Bolsonaro vem despontando nas pesquisas justamente com isso”, avaliou.
A vereadora lamentou o ocorrido na cidade: “Nós não esperávamos que isto fosse acontecer em lugar nenhum, principalmente em Juiz de Fora, que tradicionalmente não é uma cidade tão violenta assim. Acho que a população está toda comovida, orando para que ele se recupere logo”, acrescentou Scheila.
Concorrência
O PSL foi o partido que mais se fez presente em campanha durante o desfile, mas agremiações como o PV também aproveitaram o espaço. Além dos tradicionais santinhos, uma publicação com a manchete “O Brasil exige militares no poder!” também era distribuída (foto abaixo).
Na Santa Casa de Misericórdia, o clima já era o habitual pouco depois da partida de Bolsonaro para São Paulo. Poucos repórteres permaneciam no local, situação diferente da ocorrida ontem, que para funcionários, só teria sido equiparado à morte do ex-presidente Itamar Franco, em 2011. Nas ruas da cidade o assunto, que teve grande repercussão até mesmo no cenário internacional, ainda é presença constante.
Em páginas locais de Facebook e em grupos de Whatsapp, diversas versões sobre o ocorrido foram postadas. Muitos questionavam a ausência de sangue nas imagens divulgadas do ataque, dúvida sanada pelos médicos responsáveis indicando que a especificidade da lesão no abdome provocava apenas uma hemorragia interna.
Ainda assim, teorias reforçadas por informações falsas ainda repercutem na cidade – como a imagem que apresentava Bolsonaro entrando pela manhã na Ascomcer como se fosse após do atentado. As supostas motivações religiosas do autor do atentado também eram frequentemente evocadas em frases como “quem faz uma coisa dessas não pode estar com Deus”. Expressões similares foram muito ouvidas pelas ruas de Juiz de Fora durante este feriado.
Tradição verde-oliva
Uma das propostas de Bolsonaro é a militarização das escolas no Brasil. Juiz de Fora é uma das duas cidades do interior do país dotadas de uma instituição do gênero. São 13 unidades militarizadas em todo o Brasil.
A cidade tem importante presença no cenário militar brasileiro e foi uma das grandes fornecedoras da Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a Segunda Guerra Mundial, com especial participação na tomada de Monte Castelo, na Itália, que dá nome a um bairro na cidade. Também partiram de Juiz de Fora as tropas capitaneadas pelo general Olímpio Mourão Filho responsáveis pelo golpe militar de 1964.
O militarismo é um dos últimos signos da importância cada vez mais longínqua que Juiz de Fora já possuiu. Conhecida na virada do século 20 como “Manchester Mineira” devido ao seu fervor industrial – foi sede da primeira grande usina hidrelétrica da América do Sul. Com o tempo, a cidade, tradicionalmente a segunda mais importante de Minas Gerais, perdeu relevância e foi ultrapassada por outras. Hoje, a maior parte da atividade econômica dos cerca de 600 mil habitantes depende do setor de serviços.
Flerte antigo
Outro momento que aproximou o candidato a Juiz de Fora foi em outubro do ano passado. Na ocasião, Bolsonaro publicou em sua página de Facebook um vídeo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em que uma personagem drag queen interagia com alunos do Colégio de Aplicação João XXIII, que pertence à UFJF.
Na postagem, o candidato escreveu: “Prestem atenção na canalhice que estão fazendo com nossas crianças”. O caso gerou grande comoção e serviu para demonstrar, à época, a divisão de opiniões sobre o assunto na cidade.
Boletim policial
Além do principal suspeito, Adélio Bispo de Oliveira, que confessou a autoria do crime na tarde de ontem (quinta, 6), as investigações abrangem mais duas pessoas, ainda sem identidade revelada. Segundo o Coronel Nocelli, a conclusão sobre as demais participações ainda não são possíveis e exigem cautela.
A Polícia Federal deve avançar no caso no transcorrer dos próximos dias. O jornal Folha de S. Paulo divulgou que Bispo mora em Juiz de Fora há apenas duas semanas. Em entrevista ao portal G1, o advogado do suspeito afirmou que ele trabalhava na cidade como garçom.
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