Jucá avaliou que assume uma “honrosa missão” ao chegar no posto de comando da legenda e disse estar consciente que o trabalho a ser realizado é para garantir a unidade do partido. “A força do maior partido do Brasil está na sua unidade e capilaridade. Mais do que nunca, os partidos precisam procurar representar os anseios da população. Os partidos precisam trabalhar para serem respeitados e admirados”, alegou o parlamentar.
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Para explicar a debandada do PMDB da base do governo, Jucá enfatizou que a atual conjuntura é reflexo do cenário vivido internamente pelo partido. “Em 2014 o partido debatia a inclusão de Michel Temer como candidato a vice-presidente da República na chapa de Dilma Rousseff. Na época, cerca de 40% dos integrantes do PMDB eram contra a união com o PT, mas 60% votaram a favor e seguimos a democracia”, acrescentou.
Nesse momento do discurso, Jucá lembrou que, para não votar em Dilma, optou por Aécio Neves (PSDB-MG) nas últimas eleições presidenciais, em 2014. “Infelizmente previ tudo o que está acontecendo. E, na campanha política, não vimos correção de rumos. Vimos um debate para inibir os adversários daquilo que se saberia por números depois da reeleição”, afirmou.
“Durante a campanha eu não vi o presidente Michel Temer fazer ataque a ninguém, fazer promessa vã, prometer nada que pudesse descredenciá-lo. Quando acabou a eleição nós tivemos um quadro de frustração da sociedade. As promessas que foram feitas não foram cumpridas, mais do que isso. O castelo de cartas ruiu. E o quadro se desnudou. A situação da economia entrou em descontrole e o governo perdeu os pilares que um país tem que ter para ter o mínimo de funcionamento”, acrescentou o cacique peemedebista.
União ocasional
PublicidadeRomero Jucá, então, passou a explicar que desde a eleição até a convenção realizada no último dia 29, quando o PMDB rompeu definitivamente com o governo, 40% dos parlamentares do partido que eram contra a aliança na chapa presidencial se transformaram em 82% depois de 1 ano e 3 meses de governo. “Nunca vi o PMDB votar tão unido”, disse.
Mais cedo, foi a vez de Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Congresso Nacional, afirmar que a decisão de se licenciar foi uma “boa opção” de Temer para a legenda. Em poucas palavras “para não estreitar o papel exercido como presidente do Congresso”, Renan avaliou que Jucá pode fazer esforço pela unificação. “O Temer foi eleito pela unanimidade do PMDB, mas é muito importante que essa unanimidade se refaça a cada momento e Jucá tem todas as condições para refazer isso”.
Crise econômica
Ao avaliar que o PMDB esteve disposto a ajudar em todas as propostas para retomada da economia brasileira, Jucá afirmou que em sete anos a meta do superávit foi alterada cinco vezes, com permissão do Congresso Nacional. De acordo com ele, as medidas apresentadas por ministros do governo ao Legislativo tiveram apoio iminente da legenda. Para o senador, não foi o partido quem “pilotou o avião da crise econômica”.
“Michel era comissário de bordo, não era sequer co-piloto. Nós segurávamos as pessoas nos cargos, mandávamos apertar os cintos e entregávamos o saquinho para vomitar”, disse.
Para Lindbergh Farias (PT-RJ), o PMDB ganha com Jucá na presidência, mas o senador criticou o que chamou de “chapa do golpe”, que de acordo com ele é formada por Temer e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atual presidente da Câmara. “A saída de Temer só mostra que ele está há muito tempo articulando o impeachment. Se tivermos um impeachment vamos ter um governo frágil, sem legitimidade. Os senhores acham mesmo que vão dar estabilidade? É capaz de unificarmos o Brasil. As duas passeatas irem às ruas pedindo “Fora Temer!”, afirmou o petista.
Jucá retrucou a fala de Lindbergh e ponderou que Cunha pertence ao partido, mas não é o PMDB. “Estão tentando universalizar um quadro que não é verdadeiro. Cunha não é o PMDB, ele faz parte. E vai ter oportunidade de se defender. Isso não é questão do partido, é questão do Supremo Tribunal Federal (STF) e da Operação Lava Jato. Em uma democracia madura não há nenhum demérito em ser investigado. Demérito é ser condenado. E na hora que for condenado, quem for condenado, cai fora”, destacou.
“Entre o certo e o duvidoso, eu fico com o duvidoso. Hoje, já temos o ‘Fora Dilma’. Se Temer assumir, setores bolivarianos e islâmicos vão se juntar contra a candidatura, mas teremos que enfrentar. E isso também faz parte da democracia. Não são críticas direcionadas à Dilma”, acrescentou Jucá, de forma irônica.
Aécio Neves (PSDB-MG) também comentou a fala do novo presidente do PMDB. “Não há nada mais grave para um partido político do que ficar alheio, virar de costas para àqueles que o transformaram nesse grande partido. Espero que a decisão do PMDB seja pela virada de página do Brasil. Espero que seja um ato de absoluta coragem porque o Brasil não pode mais viver essa paralisia instalada em todos os setores da economia nacional”, ponderou.
A senadora Vanessa Graziottin (PCdoB-AM) revelou que desde que assumiu, Dilma não conseguiu fazer as mobilizações necessárias pela falta de possibilidade de governabilidade, já que a crise política e econômica se tornaram vigentes nos quase dois anos do mandato. Graziottin avaliou ainda que a base do governo sequer agiu para impedir ou atrasar os trabalhos realizados pela Comissão Especial de Impeachment, e retrucou a lentidão do Conselho de Ética da Câmara, que analisa a cassação do mandato de Cunha, integrante da legenda de Jucá.
Oportunismo
Apesar de avaliada como manobra oportunista por senadores em plenário, o presidente nacional do PMDB explicou que a decisão proferida pela legenda para deixar a base do governo não foi precipitada. Jucá avaliou que a sociedade esperava “movimentos” do maior partido do Brasil sobre a realidade vivida no país.
“Não é precipitado tomar uma decisão a favor do povo. É uma decisão acertada com o momento de falta de representatividade que vivemos no Brasil. Se quisermos ser respeitados temos que ter posicionamento que respeite o povo que está lá fora”, pontuou Jucá, acrescentando que este pode ser o momento de o PMDB agir como “defensor do bem comum”.
O senador Álvaro Dias (PV-PR) foi um dos que criticou o afastamento do PMDB da base do governo: “Me espanta ver o senhor tentando lavar as mãos do PMDB. O partido é um dos maiores patrocinadores da falta de governabilidade. Não vejo como ato de grandeza do partido se afastar da base na antevéspera do impeachment. Gesto de grandeza seria o partido anunciar ao país que o vice também renuncia para que o país possa assistir ao espetáculo da democracia”.
“Coragem”
Jucá, então, respondeu, mais uma vez, de forma irônica: “Jamais pensaria que o senhor foi para o PV em uma atitude oportunista, senador. Jamais pensaria que é porque o Beto Richa (PSDB-RS) está todo enrolado”, fazendo referência às investigações da Operação Lava Jato. “Não vamos estadualizar a disputa, estamos agindo pelo país e o país é muito grande para tornarmos o debate pequeno”, pediu o presidente do PMDB.
Já Tasso Jereissati (PSDB-CE) avaliou como corajoso o discurso de Jucá em plenário. “A população não está mais interessada em discussões vazias, mas está interessada em sentir o rumo para onde o país vai. Se a presidência da República não dá esse rumo, nós, políticos brasileiros, precisamos mostrar o caminho certo”, disse o senador.