FOLHA DE S.PAULO
Tribunal de Contas liga ONG de Roriz a mensalão do DEM
O instituto fundado pela candidata ao governo do Distrito Federal, Weslian Roriz (PSC), foi beneficiado pelo mesmo esquema que mais tarde patrocinou o mensalão do DEM, segundo o Tribunal de Contas do DF. O Instituto Integra aparece na lista de irregularidades em contratos de informática da Codeplan (Companhia do Desenvolvimento do DF). Na época, a companhia estava sob a administração do governador Joaquim Roriz (2003-2006) e era presidida por Durval Barbosa. Barbosa veio a ser o delator do mensalão do DEM.
O caso envolve empresas também contempladas pelo esquema já no governo José Roberto Arruda (2007-2010). Essas empresas foram indiciadas pela Polícia Federal na operação Caixa de Pandora. Segundo o delator e a CPI da Codeplan, a companhia de desenvolvimento foi o embrião do esquema do mensalão – possibilidade admitida pelo próprio Roriz.
Todas as “falhas graves” apuradas pelo tribunal no Instituto Integra são do período em que Weslian era presidente da ONG (2004-2006). O TCDF afirma que as facilidades obtidas pela ONG podem ser consideradas uma violação do princípio constitucional da impessoalidade, dada a relação do “casal 20”- slogan de Weslian na campanha ao governo após substituir o marido “ficha-suja” na disputa.
Segundo o tribunal, a ONG recebeu da Codeplan obras e equipamentos para montar laboratórios de informática para cegos, e o governo bancou os instrutores, sem a ONG ter comprovado que ofereceu os cursos. O governo pagou a manutenção dos computadores sem a organização oferecer de fato o programa de inclusão digital. Mesmo assim, o convênio foi renovado duas vezes. A auditoria apontou também que os programas da ONG “Fábrica Minha Sopa” e “Cão Guia” não tinham relação com inclusão digital.
Usada na campanha como principal experiência da novata Weslian, a Integra contou ainda com outras facilidades no governo Roriz. A sala do instituto foi doada pelo governo e, segundo a auditoria, material de informática foi deixado para a ONG. Só para “adequar o ambiente”, o governo gastou R$ 343 mil (em valores atualizados).
Lula é um mito, mas mitos e muros são derrubados (entrevista Itamar Franco)
Um dos articuladores do voto “Lulécio” em 2002, a favor do petista Lula para a Presidência e do tucano Aécio Neves para o governo de Minas, o ex-presidente da República Itamar Franco (1992-1994) agora critica duramente Luiz Inácio Lula da Silva e diz que ele tem de parar de falar “nunca antes neste país”: “O Lula não é dono do Brasil e não inventou o Brasil”.
Segundo ele, “Lula não é democrata”: “Um presidente que vai a Minas dizer que não pode ter um senador de oposição, que zomba da imprensa, que zomba da Constituição, não é democrata.” Ex-senador (1975-1990), Itamar, 80, volta à Casa pelo PPS com a língua afiada. Ao lembrar de Getúlio Vargas, diz que “Lula tornou-se um mito, mas mitos e muros também são derrubados”.
Folha – Por que Serra e não Dilma?
Itamar Franco – Porque ela tem um discurso monotemático. Se fosse uma estudante, seria uma aluna boa para decorar as lições, não para fazer cálculos. Ela vem com um discurso preparadinho que o presidente ensinou. Já o Serra tem pensamento próprio. Mas, se não mudar o discurso, vai perder.
Mudar em quê?
Tem de parar de elogiar ou de ser condescendente com o Lula. Imagine o cidadão que está em casa ouvindo isso: “Puxa, se o candidato da oposição elogia tanto o presidente, para que mudar?”
E o argumento que Lula tem 80% de popularidade e não dá para bater nesse muro?
Ele tornou-se um mito, mas mitos e muros também são derrubados.
Não foi o sr. que criou o voto “Lulécio” de 2002?
Procurado pelo Zé Dirceu, desisti da disputa e apoiei o Aécio para o governo e o Lula para presidente. Daí surgiu o voto Lula-Aécio.
O que aconteceu depois?
Sabe o que o Lula fez em 2006? Foi na minha terra, levou todo mundo e subiu no palanque até com o Celso Amorim, que também foi meu chanceler, para falar mal de mim. Fiquei triste. Agora o Lula fez uma campanha muito violenta em Minas contra a gente de novo, uma campanha que raiou o imoral, agredia os princípios democráticos. Bem, um presidente que faz no Senado o que ele faz, que nem presidente militar fez…
PT tenta apagar fama “antiverde” de Dilma
Para atrair os votos ambientais de Marina Silva (PV), o PT está tentando passar uma demão de tinta verde em Dilma Rousseff. A operação deve começar por um ataque à reforma do Código Florestal do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), aprovada em comissão especial da Câmara e que aguarda votação em plenário. Será difícil, porém, apagar a fama de antiambientalista de Dilma.
A ex-ministra da Casa Civil sempre antagonizou com Marina, e é frequentemente apontada como um dos pivôs da saída da senadora do governo e do PT. Na opinião de gente que acompanhou os embates entre as duas, Dilma potencializou um desenvolvimentismo que o próprio Lula não manifestava no começo do governo, e que culminou com a retirada de apoio do presidente à pasta de Marina. Essas fraturas devem dificultar a aproximação entre Marina e a petista agora.
Todas as negociações entre a Casa Civil e o Meio Ambiente nos três anos em que as duas ministras conviveram precisaram “subir” para a arbitragem presidencial. O pomo da discórdia, desde o início, foram as obras de infraestrutura. Já em 2005, antes do lançamento do PAC, Dilma mandou excluir a componente de infraestrutura do PPCDAm (Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia), coordenado por ela.
O plano, assim, deixava de abordar alguns dos principais vetores da devastação – hidrelétricas e estradas. Em 2007, com o PAC na rua, Dilma pressionou o Ministério do Meio Ambiente pela liberação de licença para as bilionárias hidrelétricas do rio Madeira (RO). O episódio, conhecido como a “crise do bagre”, terminou com o atropelo de um parecer do Ibama contrário à licença.
“Onda verde” não amplia número de mandatos do PV nessa eleição
Apesar dos quase 20 milhões de votos de Marina Silva (PV) na disputa pela Presidência, seu partido manteve o naniquismo. Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), 37 deputados estaduais do PV foram eleitos neste ano – em 2006, foram 34.
Na Câmara Federal, subiu de 13 para 15 parlamentares verdes. Com a candidatura de Marina, o PV ainda perdeu seu único representante no Senado Federal. Motivada pela candidatura nacional, a legenda lançou 1.400 candidatos no país -maior número entre todos os partidos. Para alguns dirigentes, o distanciamento entre a campanha de Marina e as dos demais candidatos contribuiu para o baixo desempenho.
Candidatos nanicos ainda estão indecisos sobre quem apoiar
Cinco dos seis candidatos nanicos à Presidência, que juntos somaram pouco mais de 1,1 milhão de votos, não definiram ainda se vão apoiar Dilma Rousseff (PT) ou José Serra (PSDB) no segundo turno. Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), o mais votado do grupo, com 886 mil votos, afirma que está consultando os diretórios do partido, simpatizantes e filiados.
Levy Fidelix (PRTB), José Maria Eymael (PSDC) e Ivan Pinheiro (PCB) também esperam decisão dos filiados dos seus partidos. Rui Costa Pimenta (PCO) também não se decidiu, mas adiantou que provavelmente deve pedir aos seus 12 mil eleitores que votem nulo. Zé Maria (PSTU), que conseguiu 84 mil votos, foi o único a declarar o voto do segundo turno, optando pelo nulo.
Filho de Tiririca diz que pai sabe ler e irá comprovar à Justiça
O humorista Tiririca, deputado federal eleito mais votado do Brasil, está descansando com a família no Ceará. De acordo com seu filho, Everson Silva, o palhaço Tirulipa, ele está numa praia próxima à Fortaleza, “só curtindo”, e deve se apresentar à Justiça de São Paulo para provar que sabe ler e escrever no dia 14 de outubro. Segundo denúncia do Ministério Público Eleitoral, acatada pela Justiça, Tiririca falsificou o documento que apresentou para mostrar que é alfabetizado.
Tirulipa afirmou que o pai não é analfabeto. Para ele, as acusações contra Tiririca são decorrentes de interesses da oposição, pelo fato de sua votação ter levado para a Câmara mais três candidatos e ter excluído outros. Apesar da polêmica, ele disse que o pai está muito bem.
Serra não deve usar tom agressivo em confronto na TV
Nada disposto a repetir a experiência de 2006, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, deverá evitar investidas agressivas hoje no primeiro debate com a adversária petista Dilma Rousseff [TV Bandeirante, hoje, às 22h]. Segundo integrantes do comando da campanha de Serra, o candidato reservará seus comentários mais ácidos para respostas e réplicas. Mas não deverá reproduzir a estratégia de 2006, quando, instado pelo PSDB, Geraldo Alckmin partiu para o ataque no debate com o presidente Lula – e teve sua performance mal avaliada.
Como o adversário fica com a última palavra nos confrontos diretos, Serra deverá evitar perguntas agressivas para Dilma. Serra não deixará de abordar temas polêmicos, como denúncias de tráfico de influência na Casa Civil e loteamento de cargos no governo, mas as críticas serão diluídas ao longo de suas respostas. Deve concentrar seus questionamentos em áreas que considera falhas no governo – como saneamento, resultado negativo do Banco Central e deficiências do programa de habitação.
Agnelo tem 50% contra 36% de Weslian
O candidato Agnelo Queiroz (PT) saiu na frente no segundo turno da disputa pelo governo do Distrito Federal. Ele tem 50% das intenções de voto, contra 36% de Weslian Roriz (PSC), segundo pesquisa Datafolha encomendada em parceria pela Folha e pela Rede Globo. Os votos brancos e nulos somam 8%, e 6% dos eleitores estão indecisos.
Se a eleição fosse realizada hoje, Agnelo venceria a mulher do ex-governador Joaquim Roriz (PSC) por 58% a 42% dos votos válidos, que excluem brancos, nulos e abstenções. A pesquisa revela que os eleitores de Toninho do PSOL, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno com surpreendentes 14% dos votos válidos, tendem a aderir ao candidato petista. Agnelo seria escolhido por 45% dos eleitores de Toninho, enquanto 19% migrariam para Weslian. Outros 24% dos eleitores do candidato do PSOL votariam nulo ou em branco.
CORREIO BRAZILIENSE
Caixa milionário ajuda. E muito
Um caixa de campanha farto é fundamental para a eleição. Essa regra vale tanto para candidatos a cargos proporcionais, como deputado federal, como para aqueles que concorrem a cargos majoritários, como governador ou senador. Levantamento feito pelo Correio, com base na segunda parcial das doações registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mostra que a grande maioria das campanhas milionárias obteve sucesso nas urnas. Das 43 maiores campanhas para deputado federal, todas acima de R$ 1 milhão, apenas sete candidatos não se elegeram. Nas disputas pelos governos estaduais, 20 candidatos que ficaram na primeira colocação contaram com mais dinheiro do que os concorrentes. As doações pesaram menos na disputa pelo Senado. Das 37 campanhas milionárias, 15 fracassaram.
O valor das campanhas ainda vai aumentar quando for feita a declaração definitiva dos candidatos, até 2 de novembro. O levantamento atual leva em consideração as campanhas que já ficaram acima de R$ 1 milhão. Com o resultado da eleição, também é possível avaliar o custo do voto. Esse número será maior para todos após a declaração final no TSE, mas os atuais permitem comparar o valor do voto entre as diversas campanhas. Entre os candidatos à Câmara, a campanha mais cara foi a de Vaccarezza (PT-SP), com R$ 2,79 milhões arrecadados até agora. Como ele fez 131 mil votos, cada um custou R$ 21,2 — um valor bem acima da média de R$ 9,34. O voto mais barato foi o de Anthony Garotinho (PR-RJ), que declarou ter arrecadado cerca de R$ 1 milhão. Ele fez 694 mil votos — ou R$ 1,46 a unidade.
Os milionários do Paraná fracassaram nas urnas. Wilson Picler (PDT-PR) investiu R$ 2,43 milhões (quase a totalidade do próprio bolso) e conquistou 69 mil votos. Cada um custou R$ 35. Ficou como terceiro suplente da coligação que reunia grandes partidos, como o PMDB e o PT. Como suplentes da mesma coligação ficaram os candidatos do PMDB Odílio Balbinotti e Marcelo Almeida. Cada voto de Almeida custou R$ 20. Ele é também o candidato de maior patrimônio declarado: R$ 683 milhões. Marcelo é filho do lendário empresário Cecílio do Rego Almeida, dono da empreiteira CR Almeida.
Picler não acha que tenha desperdiçado o dinheiro: “Investi nesse ideal. Eu podia comprar um iate, uma mansão, mas não me sentiria feliz com isso. Eu me sentiria um covarde. Me sinto feliz, honrado em receber esses 69 mil votos”. Apesar do discurso, ele demonstra mágoas com o processo eleitoral. “Não tem campanha barata. É que o pessoal não pode declarar. Vai declarar a origem como? O mundo da política é um submundo de acertos, de ardilosidades.”
PV dividido nos estados
O PV é um partido dividido nos estados que decidem as eleições em segundo turno. Em nove unidades da Federação, a disputa pelos governos não terminou no dia 3 e, a exemplo do que ocorre na corrida presidencial, os verdes têm posições diferentes sobre quem apoiar na etapa decisiva das eleições. O partido está com candidatos que apoiam Dilma Rousseff (PT) em quatro unidades da federação. Em outros quatro estados, a legenda apoia os alinhados a José Serra (PSDB). Em Roraima, onde a disputa também foi para o segundo turno, o PV não participou de nenhuma chapa inscrita.
As realidades regionais repetem a divisão do partido em âmbito nacional e, mais do que isso, antecipam apoios antes mesmo da convenção nacional do PV, marcada para o próximo dia 17. Na convenção, 80 votantes vão decidir quem a sigla vai apoiar — Dilma ou Serra — ou se ficará neutra na disputa.
A ex-presidenciável Marina Silva, que recebeu 19,6 milhões de votos no primeiro turno, tende a ficar neutra. A executiva nacional vai na direção contrária da principal expoente do PV e quer apoiar Serra. Verdes e tucanos estão aliados há tempos em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.
Nos estados onde há segundo turno, as lideranças do PV não querem esperar a convenção nacional para tomar uma posição. Na semana passada, dois candidatos do PV derrotados nas urnas anunciaram quem apoiam nesta etapa. Eduardo Brandão, que recebeu 78,8 mil votos no DF, declarou apoio ao candidato do PT, Agnelo Queiroz. Teresa Britto, que deixou a briga pelo governo do Piauí com 24,8 mil votos, apoia oficialmente o candidato do PSDB, Silvio Mendes.
Romário, se bobear, é “banco”
Com Romário (PSB-RJ) noCongresso, as peladas parlamentares nunca mais serão as mesmas. A chegada do baixinho à Câmara no próximo ano já movimenta a escalação do time de futebol formado por deputados. Frequentadores assíduos da pelada das terças-feiras pós-votação no plenário, no clube da Associação de Servidores da Câmara (Ascade), já especulam a lista de convocação com nomes do tetracampeonato mundial de futebol de 1994. Os reeleitos ainda lamentam o desfalque da equipe. Marcelo Ortiz (PV-SP) e Deley (PSC-RJ) não conseguiram renovar o mandato e deixarão o time sem dois titulares. Como Ortiz não volta, os deputados planejam escalar Romário no lugar do parlamentar de 75 anos.
Os dois têm estilo de jogo semelhante, segundo o deputado Zenaldo Coutinho (PSDB-PA), que também é atacante da equipe. “Nosso futebol teve algumas perdas. O Deley e o Marcelo Ortiz eram figuras exponenciais no time. O Ortiz é banheira, joga embaixo da trave do goleiro”, explica.
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) afirma que, apesar de ser estrela, Romário não terá vida fácil na seleção dos parlamentares. O deputado mineiro aposta na volta de Ortiz como suplente e diz que o deputado do PV é titular absoluto. “Ele não será só deputado novo, será colega de futebol novo. Não vai chegar, como ele diz, sentando na janela. O dirigente sou eu, o cartola sou eu. Vamos ver se damos a vaga do Ortiz para o Romário, mas se ele ficar marrento igual estava no fim de carreira, vai para o banco”, brinca Delgado.
Além de Romário, a nova Câmara contará com o ex-goleiro do Grêmio Danrlei (PTB-RS). A chegada do gremista ameaça a posição do deputado colorado Afonso Hamm (PP-RS). Ex-goleiro, com participação nas categorias de base do Inter, Hamm era o parlamentar com melhor histórico no futebol no grupo. Danrlei, contudo, chega para por fim ao reinado do deputado gaúcho no futebol parlamentar. “Nós estamos precisando de um goleiro, Danrlei já chega titular”, defende o “cartola” Júlio Delgado.
O parlamentar do PSB cogita organizar uma partida de boas-vindas aos eleitos em novembro, depois do segundo turno. “Retornando depois do feriado, vamos marcar um jogo com os eleitos, mesmo sem diplomação.”
Desde o início do recesso, na segunda quinzena de julho, o grupo não se reúne. A chegada das estrelas do futebol para a nova legislatura animou os atletas de fim de semana. A assessoria de Romário informou que o ex-atleta aceitará o convite se a partida for organizada com antecedência para que ele se desloque a Brasília. E se estiver na capital nas terças, marcará presença no futebol parlamentar a partir de fevereiro do próximo ano, quando assumirá o mandato.
O campo da Ascade pode marcar o reencontro da dupla do tetra: Romário e Bebeto. O deputado Zenaldo Coutinho conta que no futebol parlamentar é comum a participação de deputados estaduais convidados para “completar a equipe”.
Até os redutos estão rachados
O resultado das urnas goianas confirmou a divisão de forças no estado. Se, por um lado, Iris Rezende (PMDB) se destacou na região metropolitana de Goiânia, formada pela própria capital e por Aparecida de Goiânia, onde abriu 12% de vantagem à frente do adversário; de outro Marconi Perillo (PSDB) dominou o interior. O tucano ganhou em 176 dos 246 municípios, vencendo o adversário, na apuração final, por uma diferença de 300 mil votos (10% do total). A campanha rumo ao segundo turno em Goiás, portanto, começa com o eleitorado dividido. Mas não apenas geograficamente. Até nos redutos tradicionais de um e de outro, há divergências.
No conjunto habitacional Filostro Machado, obra de Iris em Anápolis batizada com o nome do próprio pai, em 1994, é possível ver adesivos de Perillo nos portões das casas e nos comércios do bairro. Morador do setor há 11 anos, onde é dono de uma padaria, Arthur Antonio do Nascimento Filho não tem dúvidas. “Voto no Marconi. Ele conseguiu linha de crédito para os pequenos empresários, fez um bom governo aqui”, diz o paraibano de 48 anos. Para o prefeito Gomide, a resistência ao nome de Iris entre a população anapolina tem relação com as administrações ruins do PMDB na cidade. O grande trunfo agora será mostrar à população as vantagens de ter prefeito, governador e presidente aliados, já contando com a vitória de Dilma Rousseff na disputa nacional.
Para Lenita Dias de Assunção Almeida, o argumento das esferas coordenadas nem é necessário. Ela faz parte de um tipo de eleitor cativo de Iris: o que recebeu das mãos do pemedebista o lote no Filostro Machado. “Eu sou Iris até morrer porque ele dá condições ao povo de melhorar, ele te dá a vara para você pescar. O Marconi, não. Esse fica fazendo política para os seus”, critica a anapolina de 41 anos, que exibe, no portão de casa, a sua preferência por meio de adesivos.
Com o objetivo de tentar convencer eleitores como Lenita, que associa o candidato do PMDB às demandas mais populares, o núcleo de marketing da campanha de Perillo pretende reforçar, na propaganda eleitoral, as propostas do tucano por meio de uma linguagem simples e direta.
“Queremos falar de forma mais didática no programa de TV e também trazer inovações no formato”, adianta o deputado federal Leonardo Vilela, presidente licenciado do PSDB em Goiás. Produtor da propaganda eleitoral e homem de confiança de Iris, Hamilton Carneiro também promete novidades, especialmente voltadas a um eleitor muito resistente. “O jovem não conheceu a administração do Iris, que ocupou o cargo de governador há 16 anos. Então, vamos investir em coisas mais criativas”, conta.
Todas as mágoas do PMDB
“Eles nos tratoraram.” Assim, os deputados peemedebistas se referiam em conversas e reuniões fechadas ao longo da semana ao sentimento que o resultado das eleições lhes deixou em relação ao principal aliado, o PT. Tarimbados em sentir o cheiro da traição e da ação coordenada em busca de um objetivo, eles perceberam em alguns locais movimento estrategicamente ensaiados entre PT e PSB para tirar dos peemedebistas o pódio de maior bancada da Câmara. O efetivo é fundamental para garantir o maior tempo de TV das próximas eleições, em 2012 e 2014, além de permitir controle sobre o Legislativo.
O que deixou em todos a sensação de que “aí tem” foi o fato de os deputados terem recebido no dia da eleição uma mensagem de texto dos deputados Cândido Vaccarezza e Arlindo Chinaglia, ambos do PT de São Paulo, desejando sorte aos colegas. E, como em política um gesto vale mais que mil palavras, os peemedebistas foram às urnas certos de que os dois são hoje candidatíssimos à Presidência da Câmara. E mais: vão propor deixar para o PMDB a Presidência do Senado, onde o projeto de Lula de desancar os tucanos deu certo, mas não o suficiente para entregar ao PT a maior bancada.
A revolta era maior entre representantes de estados em que o PMDB sempre conquistou mais deputados que o PT e agora ficou com menos. No Pará, por exemplo, o PMDB geralmente elegia o dobro de deputados do PT. Em 2006, foram seis peemedebistas eleitos e três petistas. Agora, o PMDB perdeu dois e o PT ganhou um. Ainda que Jader Barbalho, do PMDB, bom puxador de votos, não tenha concorrido à Câmara, os paraenses reclamaram porque a governadora-candidata, Ana Júlia, entrou nos redutos eleitorais do PMDB disposta a queimar os votos. Tanto é que agora terá dificuldades em atrair apoios para esse segundo turno contra o tucano Simão Jatene. “Se forem lá ajudar a Ana Júlia eu voto no Serra”, comentou um parlamentar do partido.
No Paraná, embora aliados na eleição estadual em torno da derrotada candidatura de Osmar Dias (PDT) ao governo estadual, PT e PMDB passaram a campanha para a Câmara numa briga de foice pela eleição de deputados. O PMDB viu sua força cair de oito para seis cadeiras e o PT subiu de quatro para cinco. No Espírito Santo, de quatro sobraram dois. Apenas Rose de Freitas, que tem tradição na politica estadual, e Lelo Coimbra, médico sanitarista que já ocupou vários cargos executivos.
Aliança PSDB e PT naufragou
Há 21 anos, quando foi realizada a primeira eleição presidencial em dois turnos, PT e PSDB estavam juntos para tentar eleger Luiz Inácio Lula da Silva, que disputava o Planalto com o alagoano Fernando Collor de Mello — à época no PRN. Os tucanos se aliaram aos petistas na segunda fase da campanha, assim como fez Leonel Brizola (PDT), um ícone da política nacional, que por pouco não foi ao segundo turno com Collor. O PT de Lula rejeitou o apoio do PMDB, que amargou uma sétima colocação no primeiro turno com Ulysses Guimarães, um líder político da época, mas que vinha se desgastando com o governo de José Sarney. Os outros partidos liberaram seus correligionários para escolher o melhor candidato.
Mário Covas, então candidato do PSDB, logo que perdeu a eleição — ficou na quarta colocação — manifestou seu apoio a Lula, unindo-se a Brizola, que havia obtido o terceiro lugar. Do lado de Collor, ficaram outros partidos, como o PDS, pelo qual Paulo Maluf disputou a Presidência da República. Outros postulantes ao cargo, como Ronaldo Caiado, Fernando Gabeira e Guilherme Afif Domingos deixaram seus eleitores à vontade.
Enquanto os brasileiros se divertiam com Tieta, a novela da TV Globo que estreou na metade de 1989, os políticos começavam os seus contatos visando o segundo turno ainda na primeira etapa das eleições. Em sua última propaganda nas emissoras de TV, Ulysses Guimarães parecia perceber que não havia nenhuma chance para ele se tornar o presidente do país. E estava inclinado a apoiar Lula, a quem tinha um grande apreço. Mas o PT, por meio de José Genoino, recusou qualquer parceria envolvendo o PMDB e, consequentemente, Ulysses.
Coluna Brasília-DF – Bismarck
Como se sabe, o encouraçado da oposição no Senado foi a pique. Naufragaram os almirantes Heráclito Fortes (PI), Marco Maciel (PE), Efraim Morais (PB), do DEM; Arthur Virgílio (AM), Tasso Jereissati (CE) e Papaléo Paes (AP), do PSDB; e Mão Santa (PI), do PSC.
Titanic
Também foi de grandes proporções o naufrágio da oposição nas eleições para a Câmara. Ficarão sem mandato, entre outros, João Almeida (BA), Luiz Paulo Vellozo Lucas (ES), Rita Camata (ES), Raquel Teixeira (GO), Bonifácio de Andrade (MG), Affonso Camargo (PR), Gustavo Fruet (PR), Marcelo Itajiba (RJ), Sílvio Lopes (SP), Albano Franco (SE), Antonio Carlos Pannunzio (SP), Arnaldo Madeira (SP), Silvio Torres (SP), Walter Feldman (SP), do PSDB; José Carlos Aleluia (foto), da Bahia, Alberto Fraga (DF), Alceni Guerra (PR), Cassio Taniguchi (PR) e Márcio Junqueira (RR), do DEM; Augusto Carvalho (DF), Humberto Souto (MG), Raul Jungmann (PE), Fernando Coruja (SC) e Nelson Proença (RS), do PPS. Eram comandantes da oposição.
Copa de 2014
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não vai liberar os recursos para a construção da Arena Amazônia enquanto houver indícios de irregularidade na obra. Valor do empréstimo para o complexo esportivo: R$ 400 milhões.
Risco
Sob comando do governador eleito Geraldo Alckmin (foto), do PSDB, os tucanos paulistas preparam a visita de José Serra ao santuário de Nossa Senhora da Aparecida, em 12 de outubro, dia da Padroeira, um dos maiores eventos religiosos do país. Apesar do convite do arcebispo de Aparecida, dom Raymundo Damasceno Assis, que organiza o evento, essa agenda é um programa de alto risco. É muito fácil organizar uma vaia entre os milhares de fiéis. A petista Dilma Rousseff também foi convidada, mas está em dúvida se vai comparecer.
O ESTADO DE S. PAULO
Nomeado de Erenice nos Correios fecha contrato superfaturado em R$ 2,8 mi
O presidente dos Correios, David José de Matos, e a diretoria da estatal aprovaram um contrato superfaturado em R$ 2,8 milhões para favorecer uma empresa de carga aérea. Documentos obtidos pelo Estado mostram que a nova direção da estatal, nomeada pela então ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, manobrou para ressuscitar, em agosto, uma licitação que havia sido cancelada três meses antes pelo comando demitido da estatal.
Os documentos da presidência dos Correios e os registros dos pregões revelam o esforço da nova diretoria, que assumiu no dia 2 de agosto, para, duas semanas depois da posse, entregar à Total Linhas Aéreas um contrato de R$ 44,3 milhões. A licitação foi concluída em meio à crise que derrubou Erenice da Casa Civil. Coube ao presidente Davi de Matos e seus diretores aprovarem no dia 15 de setembro, um dia antes da demissão da ministra, a contratação da Total, como mostra a ata da 36.ª reunião interna do comando da estatal.
O contrato foi publicado no Diário Oficial da União de 4 de outubro, um dia depois do primeiro turno eleitoral. No período de um ano, a Total vai transportar cargas dos Correios no trecho Fortaleza-Salvador-São Paulo-Belo Horizonte. Tudo começou no dia 2 de junho, quando um pregão foi feito para o serviço pelo preço limite de R$ 41,5 milhões. A Total entrou sozinha no leilão e ofereceu R$ 47 milhões. A proposta foi recusada pelos Correios. “Solicito a redução do último valor proposto ao preço de referência, sob pena de ter sua proposta desclassificada do certame”, disse o pregoeiro, segundo registro eletrônico. A empresa não mudou o preço e a licitação foi anulada.
Para conseguir o contrato de R$ 44,3 milhões, na licitação de agosto – com posterior aprovação da manobra pela diretoria, em setembro -, a Total contou com o apoio de outro personagem central da crise dos Correios, o coronel Eduardo Artur Rodrigues Silva, então nomeado diretor de Operações. Em agosto, o coronel foi procurado pelos donos da Total para tentar reverter juridicamente o pregão revogado em junho. A empresa MTA, que ganhara na Justiça uma licitação dos Correios, foi consultada sobre a possibilidade de orientar a Total a conseguir fechar esse contrato.
O objetivo, naquele momento, era tentar transformar as duas empresas de carga aérea no embrião da unidade de logística que o governo pretende criar em 2011 – uma sociedade mista entre governo e empresas privadas avaliada em US$ 400 milhões. A solução dada foi fazer uma nova licitação no dia 19 de agosto. Dessa vez, os Correios subiram de R$ 41,5 milhões para R$ 42 milhões o preço máximo para contratação. Mais uma vez, só a Total participou dos lances. Chegou ao preço de R$ 44,3 milhões e avisou que não poderia mais reduzir o valor, apesar dos alertas do pregoeiro: “Solicitamos que a arrematante faça mais uma revisão em sua planilha de custos, reduzindo sua proposta para, pelo menos, o valor estimado da contratação.”
O artigo 48 da Lei de Licitações é claro. Diz que serão desclassificadas “propostas com valor global superior ao limite estabelecido”. Já o artigo 40 veda faixas de variação em relação a preços de referência. Diante do conflito legal, o resultado do pregão foi remetido ao coronel Artur, que era o diretor de Operações. Num relatório de 13 páginas, a que o Estado teve acesso, ele deixa de lado os alertas no pregão e justifica a contratação da Total Linhas Aéreas por um preço R$ 2,8 milhões acima do valor estipulado na licitação revogada em junho e R$ 2,3 milhões superior ao preço definido no edital da segunda concorrência. Segundo ele, os métodos dos Correios para chegar a uma estimativa “não são absolutamente precisos”. “Fato este que permite a homologação excepcional de licitações por valor acima do previamente estimado em decorrência da variação normal de mercado e desde que haja interesse público”, diz.
O parecer do ex-diretor foi então submetido em 15 de setembro ao comando dos Correios. David José de Matos, amigo e colega de Erenice desde os tempos em que trabalharam na Eletronorte, dirigiu a reunião que aprovou a contratação da Total por R$ 44,3 milhões, vigorando por 12 meses. O contrato foi publicado na semana passada. Na ata estão os nomes dele, do coronel Artur e dos diretores Décio Braga de Oliveira, Ronaldo Takahashi de Araújo, José Osvaldo Fontoura e Nelson Luiz de Freitas. No dia seguinte, Erenice Guerra pediria demissão da chefia da Casa Civil, em meio ao escândalo envolvendo assessores e parentes dentro do governo.
O coronel Artur demitiu-se no dia 19 de setembro, depois de o Estado revelar que era testa de ferro de um empresário argentino na MTA, outra empresa contratada pelos Correios e personagem da queda de Erenice Guerra da Casa Civil. Um filho de Erenice, Israel, fez lobby e cobrou propina para ajudar a MTA.
Estatal alega que variação de preço é normal
Procurado pelo Estado, o presidente dos Correios, David José de Matos, disse que não vê irregularidades no contrato de licitação firmado com a Total Linhas Aéreas. Matos argumentou que essa situação é comum em um mercado com poucos concorrentes, como no caso de transporte de carga aérea postal. “Quando se faz um preço de referência em um mercado escasso, aceitam-se essas variações, desde que sejam razoáveis”, disse.
Segundo ele, o caso da Total Linhas Aéreas foi o primeiro que subiu para aprovação da diretoria dos Correios depois da demissão da diretoria anterior, então comandada por Carlos Henrique Almeida Custódio, um apadrinhado do então ministro das Comunicações, Hélio Costa. “Normalmente, esse tipo de coisa não sobe para a diretoria. Na maioria dos casos, o pregoeiro negocia com a empresa, tentando fazer com que o preço baixe. Caso contrário, ocorre o cancelamento da licitação”, admitiu Matos. Diante dessa proposta da Total, porém, explicou o presidente dos Correios, como a diferença, na avaliação deles, era “pequena” – quase R$ 3 milhões -, a estatal preferiu pagar acima do preço de referência do que extinguir o processo licitatório e abrir outra concorrência.
Ele acrescentou que, em caso de cancelamento, a Empresa de Correios e Telégrafos corria o risco de comprar os serviços aéreos por valores ainda maiores, devido às variações de custo de junho a setembro. “Você tem um preço de referência, que muda ao longo do tempo, se o combustível subir, por exemplo. Se fica 5% a 10% acima do preço de mercado, é normal, e no caso em questão a diferença não chega a 5%”, justificou.
Em seu relatório, o coronel Artur Rodrigues, ex-diretor de Operações, cita acórdãos do Tribunal de Contas da União (TCU) que permitem contratações acima do valor estimado. Esse contrato da Total Linhas Aéreas, aliás, tem uma cláusula que permite aos Correios arcar com os gastos de combustível das empresas, algo questionado pelo TCU. O Estado procurou a direção da Total na sexta-feira à tarde. A empresa, no entanto, alegou que só poderia comentar o caso a partir da próxima quarta-feira.
Escândalos rondam empresa no governo Lula
O esforço do novo comando dos Correios para contratar e pagar R$ 2,8 milhões a mais para uma empresa aérea é um novo capítulo na vida de uma empresa estatal que tem sido palco de irregularidades e escândalos em sequência no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) que começou o escândalo do mensalão, em 2005 – crise que derrubou o ministro José Dirceu da Casa Civil e até ameaçou o cargo do presidente da República.
Cinco anos depois, a novela se repete, pelo menos na Casa Civil. Lula e a então ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, prometeram fazer uma limpeza nos Correios, dominado majoritariamente por grupos do PMDB nos últimos anos. Trocaram o presidente e alguns diretores, mas não mudaram os métodos. Davi de Matos foi nomeado para a presidência. Meses antes, uma filha dele ganhou um emprego de assessora de Erenice – um dos filhos da ministra, Israel Guerra, era funcionário fantasma da Terracap, órgão do governo do Distrito Federal que já teve Davi de Matos como presidente.
Erenice nomeou para a Diretoria de Operações o coronel Artur Rodrigues, testa de ferro do empresário argentino Alfonso Rey na Master Top Linhas Aéreas (MTA). O jovem Israel Guerra, filho de Erenice, é investigado por suspeita de cobrar propina para ajudar a MTA no governo antes da chegada do coronel Artur aos Correios. Por trás dos acertos estava a ideia de montar e dirigir a empresa de logística (sociedade mista entre governo e capital privado) do governo Lula – uma promessa de Erenice dentro do Planalto.
É Weslian, mas pode chamar de Joaquim
Tudo passou muito rápido para Weslian Roriz (PSC). Em nove dias, a mulher de Joaquim Roriz foi catapultada à corrida ao Palácio do Buriti, assumiu a campanha do marido, ganhou fama, participou de debates – quer dizer, tentou participar -, virou “hit” na internet, faturou 440 mil votos e empurrou para o segundo turno a disputa pelo governo do Distrito Federal que já parecia definida. Por pouco a candidata do tripé “amor-carinho-assessores técnicos” não roubou do palhaço Tiririca (PR) o posto de “sensação destas eleições”.
O plano original era botá-la como vice, e não no lugar do marido, barrado pela Lei da Ficha Limpa. A ideia, no entanto, foi rejeitada pelo aliado Jofran Frejat (PR), que compõe a chapa. A poucos dias das eleições, seria difícil montar uma nova estrutura de campanha – bandeiras, jingles, programas – e mobilizar o eleitorado de Joaquim Roriz com outra figura à frente da coligação. A saída improvisada estava logo ali: trocar apenas o nome do candidato, deixando a força, simbolismo e “capital político” do sobrenome Roriz. A absoluta falta de experiência administrativa de Weslian seria compensada pelo carimbo de “responsabilidade social” e a garantia de seguir com o “jeito Roriz de governar”. Truque mágico.
Discreta, mas de personalidade forte, Weslian é uma católica convicta, daquelas que colocam um painel com imagem da Nossa Senhora do Sagrado Coração no portão de casa. “Sempre que estou sozinha não me esqueço de Deus”, diz ao Estado. Entre os seus destinos turísticos favoritos estão Jerusalém e o Vaticano, para onde viajou mais de uma vez. Comemorou 68 anos no último dia 7, na mesma igreja onde se casou com Joaquim Roriz, meio século atrás. Na ocasião, vestiu até um chapéu sertanejo com a cor vermelha do arquirrival PT, mas não chegou a perceber o ato falho.
Weslian não gosta de holofotes, colunas sociais, álcool, nem de jornalistas – embora tenha passado a conversar mais com a imprensa. É mãe de três mulheres – duas delas, Liliane e Jaqueline, foram eleitas para a Câmara Legislativa e a dos Deputados, respectivamente. A mais velha, Wesliane, cuida dos abundantes e milionários negócios da família. O marido, com patrimônio declarado de R$ 5,2 milhões, governou o DF por quatro mandatos, renunciou depois ao cargo de senador para fugir de um processo de cassação e foi alçado ao papel de cabo eleitoral-mor da mulher. O clã Roriz já prepara as próximas gerações, garantindo-lhe sobrevivência política – a novidade, aqui, é a figura da mãe, sempre deixada no papel de coadjuvante.
No debate, estratégia é de ”paz e amor”
No primeiro enfrentamento direto do segundo turno, os comandos das campanhas de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) orientaram os seus respectivos candidatos, conhecidos por terem temperamento forte, a exibirem uma postura “paz e amor”, evitando agressividade desnecessária no debate da Band de hoje. Dilma e Serra também foram preparados a abordar e a responder a questões polêmicas, como o aborto e as privatizações.
A candidata petista foi orientada a pôr em prática, mais do que nunca, a “terapia do copo d”água”. Trata-se de tomar um copo de água – ou de refletir por alguns segundos – antes de dar uma resposta malcriada, caso não goste da pergunta ou de uma insinuação do tucano. O PSDB orientou Serra a adotar um tom “ameno” e a evitar erros cometidos na eleição de 2006, quando o então candidato Geraldo Alckmin caiu nas armadilhas colocadas pelo PT e manteve postura agressiva contra o adversário Luiz Inácio Lula da Silva, que tentava a reeleição.
Dilma muda discurso para melhorar imagem
Ao defender o direito das mulheres pobres de ter acesso ao aborto no serviço público de saúde, e ao abordá-lo não como questão de foro íntimo, mas de saúde pública, na entrevista à Istoé e noutras declarações, Dilma Rousseff estava apenas expondo uma posição aprovada em congressos do PT e amplamente aceita entre intelectuais e a classe média, não só de esquerda. Mas ardentemente rejeitada por outra fatia importante da sociedade.
Esse e outros vídeos são exibidos à exaustão em programas religiosos, nos quais pastores evangélicos e padres católicos pedem que não se vote em Dilma – que associam também à união civil de homossexuais. Um vídeo apresentado pelo pastor Paschoal Piragine Júnior, da 1ª Igreja Batista de Curitiba, chega a vincular as posições do PT à desagregação da família e à pedofilia.
Oficialmente, a CNBB não apoia nem veta candidatos. Mas uma declaração intitulada “Votar Bem”, emitida em 29 de junho pela regional de São Paulo, aconselhava a “ver se os candidatos e seus partidos estão comprometidos com o respeito pleno pela vida humana desde a concepção até à morte natural”. O texto levou o bispo de Guarulhos, d. Luiz Gonzaga Bergonzini, a recomendar aos fiéis que não votassem em Dilma.
A candidata do PT lançou em agosto uma “Carta ao Povo de Deus”, o equivalente moral da “Carta ao Povo Brasileiro” – com que Lula procurou dissipar, em 2002, os temores de que ele poria a perder a estabilidade econômica. Nela, Dilma (como Marina) também lava as mãos, transferindo a decisão sobre o aborto e os homossexuais para o Congresso. Quatro dias antes do primeiro turno, ela reuniu 27 líderes católicos e evangélicos para desmentir que tivesse dito que “nem Jesus Cristo tiraria sua vitória”, como circulava na internet. A rede espalha boatos ainda mais extravagantes, como o de que seu vice, Michel Temer, praticaria o “satanismo”, e faria o câncer de Dilma voltar, para assumir a presidência.
Tucano desfila na Oktoberfest
O candidato à Presidência da República pelo PSDB, José Serra, passou o sábado em campanha por Chapecó e Blumenau, em Santa Catarina, Estado onde teve maioria de votos no primeiro turno. Ele manteve encontros políticos, fez discursos e, à tarde, participou do desfile da 27ª Oktoberfest, a festa da cultura alemã realizada em Blumenau. Serra desfilou na Centopeia do Chope acompanhado de lideranças políticas, como o governador Leonel Pavan (PSDB) e o deputado federal Paulo Bornhausen (DEM). Ao contrário dos demais políticos, Serra dispensou o traje alemão para o desfile, ficando só com o chapéu típico da Oktoberfest.
“Há muito tempo que eu não participava de uma festa tão alegre diretamente”, comentou. Questionado sobre os números da pesquisa Datafolha para a corrida presidencial no segundo turno, divulgada ontem, na qual apresenta crescimento, ele preferiu não avaliar os resultados. “Eu não comento pesquisas”, limitou-se a dizer.
Em sua passagem por Chapecó, no oeste de Santa Catarina, o candidato rebateu a afirmação feita na véspera pela rival Dilma Rousseff (PT), de que boatos vindos da campanha tucana teriam causado a queda das ações da Petrobrás na Bolsa de Valores. “Isso é uma coisa delirante.” Mais tarde, já no palanque, em discurso em frente à catedral da cidade, voltou ao tema e atacou a petista. “Falta verdade, eu nunca disse nada disso. Depois, colocam a culpa na imprensa.”
Eleição mostra influência das igrejas
A estridência com que o debate moral e religioso emergiu para o topo da agenda nessa eleição presidencial criou a sensação de aumento da influência das igrejas sobre o voto, e de que os candidatos – em especial Dilma Rousseff – foram pegos de surpresa e vitimados pelo dilúvio bíblico. Mas a religião está intensamente envolvida na política brasileira desde que o Descobrimento foi celebrado com uma missa. E os políticos – incluindo Dilma – têm lutado pelo voto religioso com a mesma sofreguidão com que pastores e bispos têm buscado influência e poder – seja por lobby ou por participação direta nos partidos.
Embora se mostre agora perplexa com a “invasão” de temas morais e religiosos no debate eleitoral, Dilma está em “peregrinação” pelo voto católico e evangélico desde o fim de 2008, lembra o sociólogo Ricardo Mariano, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Em novembro daquele ano, com um véu cobrindo a cabeça – como manda o protocolo -, Dilma participou de audiência com o papa Bento XVI no Vaticano.
Nela, Lula selou acordo com a Santa Sé, comprometendo-se com uma lista de reivindicações da Igreja, incluindo a orientação católica no ensino religioso nas escolas públicas, o que originou uma ação do Ministério Público questionando sua legalidade. Mediante a bênção do papa, Lula lançou Dilma para a presidência, em entrevista a cinco jornalistas italianos. De lá para cá, Dilma visitou inúmeras lideranças religiosas – assim como Serra e Marina.
Atuação de Lula na campanha abre discussão
A atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha à sua sucessão tem sido tema recorrente nas eleições deste ano. Dois fatos na última semana reacenderam a discussão: na terça-feira, Lula e correligionários reuniram-se no Palácio da Alvorada para debater os rumos da campanha de Dilma Rousseff (PT) e foram acusados pelo PPS de conduzir evento eleitoral em edifício público; no dia seguinte, o tucano José Serra prometeu que regulamentará, se eleito, a atuação dos chefes do Executivo nas eleições.
“Com o apoio do Congresso, vamos aprovar um marco para regulamentar a participação dos chefes de Executivo nas campanhas eleitorais”, disse Serra a uma plateia composta por aliados. Mas será que a legislação atual de fato precisa de revisão? O Congresso apoiaria a regulamentação de uma medida que poderá restringir a atuação de políticos?
Para o cientista político Fábio Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é “incoerente” discutir a regulamentação da participação dos chefes do Executivo em campanhas.
“É incoerente discutir a atuação dos governantes nas eleições depois da aprovação da reeleição, quando esta questão não foi suscitada. Se o presidente pode fazer campanha em nome próprio, por que imaginar que ele não pode fazer a campanha de um companheiro de partido?”, questiona o professor, que chama a proposta de Serra de “oportunismo”. Ele afirma que “certamente houve destemperos e excessos” na atuação de Lula na campanha, mas defende que a legislação atual é suficiente para coibir estas manifestações.
O GLOBO
Lula desabafa e diz que disputa no 2º turno ficou mais difícil
A realização do segundo turno levou a campanha de Dilma Rousseff (PT) para o divã. Na primeira semana da disputa polarizada com o tucano José Serra, a cúpula petista demonstrou insatisfação com o rumo da campanha – desde a dificuldade de Dilma em encontrar um discurso para reassumir o protagonismo da agenda à incorporação, às vezes atabalhoada, de aliados no comando da campanha. Até mesmo o presidente Lula demonstrou forte apreensão com o rumo da campanha de Dilma no segundo turno.
Nas conversas que teve esta semana, Lula desabafou para um interlocutor que a disputa ficou mais difícil e que o desafio agora é reverter o quadro político de adversidade da campanha. Na sexta-feira, o clima era de preocupação com o fato de que pesquisas internas indicavam uma redução na diferença entre Dilma e Serra. Como parte da estratégia de campanha na primeira semana pós-primeiro turno, o presidente Lula foi poupado e evitou aparecer em eventos ao lado da sua candidata, Dilma Rousseff.
O objetivo foi preservar o capital político de Lula do ambiente de derrota da campanha petista, por causa do anticlímax do segundo turno. Já esta semana, Lula pode voltar a aparecer ao lado de Dilma, para influir como cabo eleitoral decisivo. Na campanha, há o entendimento de que Dilma se cobrou muito por não ter vencido a disputa no primeiro turno, e isso mexeu com seu estado de espírito.
Coordenadores da campanha tentaram, ao longo da semana, dar uma nova motivação à candidata e demovê-la da ideia de que foi a responsável por isso. Mesmo assim, a cúpula petista ainda não conseguiu encontrar uma nova linha de atuação. Existe um forte desconforto do núcleo duro petista com a presença de novos coordenadores, como o deputado e ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE) e o ex-governador Moreira Franco (PMDB-RJ). Tanto que, na semana passada, houve reuniões reservadas sem que os dois tivessem sido chamados.
Para petistas, campanha de Dilma no 1º turno foi ‘insossa’
Na avaliação de um integrante da equipe petista, Ciro Gomes vocalizou muitas críticas à antiga condução da campanha, pedindo que Dilma fosse mais autêntica no segundo turno – além, claro, dos torpedos que ele lançou contra o principal aliado de Dilma, o PMDB. Até então, ela era fortemente blindada pelos três coordenadores originais da campanha: o presidente do PT, José Eduardo Dutra, e os deputados Antonio Palocci (PT-SP) e José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP).
– Fala-se muito na necessidade de mudanças. Mas não vejo necessidade. Se tivesse ganhado no primeiro turno, ninguém estaria falando nisso – diz o líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). Tudo o que Dilma falava era controlado e testado para evitar escorregões no improviso. Além disso, aliados e petistas agora criticam internamente o marqueteiro João Santana por ter optado por uma “campanha insossa” no primeiro turno, com o objetivo de garantir a vantagem.
O problema é que a falta de uma reação imediata, agora é apontada como um dos erros, cristalizou temas negativos associados à Dilma: a defesa pela descriminalização do aborto, a proximidade com a ex-chefe da Casa Civil Erenice Guerra e a quebra de sigilo fiscal da filha de Serra. A situação só não está pior, dizem petistas, porque a campanha do tucano também enfrenta dificuldades. – Agora, Dilma será menos olímpica. Vai rebater todas as acusações – diz o presidente do PT, José Eduardo Dutra.
A cautela é para evitar que o excesso de opiniões e “pitacos” possa dificultar mais o encontro de uma nova bússola para a campanha. O maior exemplo de que o discurso de Dilma estava errático foi o fato de ter levantado espontaneamente o polêmico debate sobre o aborto, quando a equipe tentava tirar o assunto da agenda.
‘Lula já não assombra mais nossos aliados’, diz oposição
Nos cinco estados em que o PSDB disputará segundo turno para governador haverá um investimento maior e folhetos exclusivos com a imagem de Serra junto à do candidato ao governo estadual. A campanha tucana também aposta numa redução do efeito Lula nos estados como um fator positivo para Serra no segundo turno. – As coisas que ele podia fazer no primeiro turno já não pode fazer no segundo turno. Lula já não é mais um fantasma assombrando nossos aliados – afirma o coordenador da campanha, senador Sérgio Guerra (PE).
No primeiro turno, muitos aliados esconderam Serra nas campanhas locais, gesto de sobrevivência diante da popularidade de Lula. Agora, com a eleição encerrada para deputados e senadores em todo o país e para governadores em 18 estados, a cúpula da campanha avalia que os aliados estarão mais à vontade para pedir voto para Serra.
O trabalho de cabo eleitoral por parte dos aliados é considerado estratégico, pois Serra não terá condições de cumprir agenda de viagens tão intensa como no primeiro turno. Primeiro, porque o tempo de campanha é menor. Segundo, porque Serra terá que destinar boa parte da agenda à gravação do horário eleitoral.
Candidatos: aborto é encarado pelo viés moral e religioso
Quando a campanha presidencial começou, a então candidata do PV, Marina Silva, foi a primeira a se posicionar sobre o aborto. Ainda em junho, Marina declarou que, se fosse eleita, faria um plebiscito para decidir sobre a descriminalização. Na época, o assunto ainda não dominava as campanhas. Responsável, segundo pesquisas, por ajudar a levar a eleição para o segundo turno, o aborto tem sido encarado pelos candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) a partir do viés moral e religioso.
Em suas andanças pelo Brasil e na propaganda de TV, petista e tucano repetem que são a favor da vida, e Serra tem acusado a adversária de mudar de lado: “Quem é a favor de repente diz que é contra por motivos eleitorais. Isso está errado”. Ainda ministra, em 2007, Dilma declarou em uma entrevista ser a favor da descriminalização do aborto. Este ano, já como candidata, a petista disse várias vezes que aborto era questão de saúde pública, mas que pessoalmente era contra.
Em nota enviada ao GLOBO, a assessoria da candidata repete o discurso: “Dilma Rousseff é pessoalmente contra o aborto e não vai propor mudanças na legislação brasileira atual. (…) Mas entende que, como presidente da República, não poderá ignorar o fato de que há mulheres, jovens, adolescentes que, no desespero, no abandono, se utilizam de práticas absurdas para interromperem a gravidez. Considera que cabe ao Estado uma política de atendimento, assistência e prevenção, com uma abordagem integral no âmbito do Ministério da Saúde”.
Aborto ilegal mata uma mulher a cada dois dias
Enquanto religião e política se misturam na campanha presidencial, reportagem de O GLOBO deste domingo revela que uma mulher aborta a cada 33 segundos e a prática insegura mata uma brasileira a cada dois dias, sendo que um abortamento é feito para cada 3,5 nascidos vivos. Tema polêmico, desde que o aborto passou a ser assunto central da campanha, sendo responsável, segundo pesquisas, por ajudar a levar a eleição para o segundo turno, os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) têm se esforçado para manter a discussão vinculada ao viés moral e religioso.
– O debate não devia tratar de quem é contra e quem é a favor, mas de como é possível resolver um problema de saúde pública. Mulheres de todas as classes sociais, idades, escolaridades e religiões abortam. Muitas acabam no serviço público de saúde, onde são negligenciadas, julgadas e condenadas, o que contribui para que o número de mortes seja alto – diz Paula Viana, do grupo Curumim, que pesquisou a questão em cinco estados: Rio de Janeiro, Paraíba, Mato Grosso do Sul, Bahia e Pernambuco.
De acordo com dados do Sistema Único de Saúde (SUS), 183,6 mil atendimentos de mulheres que abortaram, sofreram complicações e precisaram passar por uma curetagem foram feitos em 2009. Segundo as estimativas dos médicos, para cada caso que acaba no hospital, outros quatro abortos foram feitos no mais absoluto silêncio. Só em 2009, 942.713 abortamentos induzidos foram realizados no país. A conta, feita pelo pesquisador Mario Monteiro, da Uerj, a partir de dados do SUS, não leva em conta os abortos espontâneos e as mulheres que abortaram em clínicas particulares ou em casa e não precisaram recorrer ao sistema público.
Marina reclama de institutos de pesquisa
Marina Silva, terceira colocada na disputa presidencial na eleição do domingo passado, sugeriu neste sábado que os institutos de pesquisa prejudicaram seu resultado eleitoral, ao colocar mais baixa sua posição nas pesquisas. Segunda ela, eles não revelaram realmente o que estava acontecendo com o crescimento de sua candidatura no primeiro turno.
– O que tinha nas ruas era maior do que aparecia nas pesquisas, eu dizia que o Brasil ia ter uma surpresa em relaçao a isto e de fato teve. E se lamentavelmente não tivéssemos tido este descompasso entre as ruas e as pesquisas, com certeza a motivação seria maior da sociedade. E completou: – Hoje encontro milhares de pessoas se manifestando que se arrependeram de não ter votado porque confiaram nas pesquisas.
Marina voltou a admitir que o PV poderá tomar uma decisão e ela outra quanto ao segundo turno das eleições. Será realizada no próximo dia 17 uma convenção do partido para decidir se apoia José Serra do PSDB, ou Dilma Rousseff, do PT, ou ainda se ficará neutro. – Há uma expectativa quanto a minha opinião também. Eu não posso ter uma atitude de falsa modéstia e dizer que não há uma expectativa em relação a minha opiniâo também – disse.
Nova classe média sonha com inclusão social
A nova classe média brasileira já é maioria da população, pode decidir uma eleição sozinha, responde por quase metade do consumo nacional, compra eletrônicos, carro e até a casa própria. Mas ao mesmo tempo em que festeja esse boom de consumo, ela sonha mesmo é com a inclusão social, um bem que não é vendido no shopping e tem que ser adquirido aos poucos, num prazo ainda maior que o dos financiamentos de mercado.
Esta é a principal conclusão da pesquisa “Sonhos da Nova Classe Média”, um estudo qualitativo realizado em São Paulo com pessoas que ganham entre R$ 1.126 a R$ 4.854 por mês, mostra reportagem de Nice de Paula, publicada neste domingo pelo jornal ‘O GLOBO’. – Não adianta ter dinheiro para freqüentar o Leblon ou os Jardins, em São Paulo, porque o linguajar é diferente, ele não estudou numa boa escola. Foram 500 anos de um país dividido entre a casa grande e a senzala – diz Andre Toretta, publicitário e sócio-diretor da Ponte Estratégia, consultoria especializada em estudos sobre a classe C.
A pesquisa identificou duas outras grandes categorias de sonhos: o da realização pessoal e o de consumo. Os sonhos de realização pessoal estão ligados fundamentalmente à profissão. Mas, ao mesmo tempo em que avança o acesso aos cursos de nível superior, ainda é um privilégio escolher a profissão.
Câmbio vira arma protecionista
O “derretimento” do dólar em todo o mundo acendeu a luz vermelha em vários países e alçou os Estados Unidos, com endosso de seu Congresso, ao comando da batalha contra a China, que insiste em manter sua moeda, o yuan, desvalorizada artificialmente, tornando suas mercadorias simplesmente imbatíveis. Aos poucos, os americanos vêm ganhando apoio do Japão e da União Europeia (UE) na ofensiva.
Na semana passada, o euro bateu o oitavo mês consecutivo de alta contra o dólar. Levantamento feito pela Austin Rating indica que, dos 130 países analisados, 52 tiveram suas moedas valorizadas em relação ao dólar desde setembro de 2009 até agora, mostra reportagem de Martha Beck e Vivian Oswald, publicada neste domingo pelo jornal O GLOBO.
– Certamente existe um risco de alguns países, como o meu, se aborrecerem com outras nações, como a China, no que diz respeito a políticas cambiais, usando sanções comerciais para pressioná-los e, assim, perturbar o comércio internacional – disse o economista e professor da Universidade da Califórnia Barry Eichengrenn, lembrando que, por enquanto, os sinais mais fortes vêm da China e dos EUA.
Obama e democratas enfrentam desânimo do eleitorado
Faltando menos de um mês para as eleições legislativas que mudarão a composição do Congresso dos Estados Unidos, o presidente Barack Obama enfrenta o desânimo do eleitorado que o levou à Casa Branca, mostra reportagem da correspondente do Globo em Nova York, Fernanda Godoy, na edição deste domingo.
Apenas 34% dos eleitores do Partido Democrata se dizem entusiasmados para votar no próximo dia 2, em comparação com 54% dos republicanos, segundo pesquisa da CNN divulgada na sexta-feira. Estimativas apontam que entre 35 e 50 cadeiras estão em jogo na Câmara, devendo trocar de ocupante.Os republicanos precisam ganhar 39 delas para garantir maioria na Casa, e são considerados favoritos.
No Senado, a disputa é mais apertada, mas não está descartado o risco de os democratas perderem a maioria, com até dez vagas passando para o lado republicano. A mesma pesquisa apontou que 52% dos entrevistados vão optar por candidatos republicanos – contra 45% que se disseram inclinados a votar em democratas.
Resgate de mineiros deve começar na quarta-feira
O ministro das Minas chileno, Laurence Golborne, informou, em entrevista coletiva realizada neste sábado na mina São José, que o processo de retirada dos mineiros presos há mais de dois meses em uma mina chilena deve começar na quarta-feira. De acordo com ele, após uma análise do poço cavado, chegou-se à conclusão de que não será preciso revestir todo o buraco, mas apenas 96 metros.
No entanto, o ministro alerta que o processo de subida colocará os presos em situações difícieis e deve durar 48 horas. – O processo de retirada de todos os mineiros presos é bastante delicado. Existe a preocupação de como eles irão reagir à subida pelo elevador cilíndrico. Eles terão que lidar com situações difíceis. Qualquer pedra, batida no elevador pode dificultar a subida – disse o ministro durante a coletiva.
Antes da retirada dos mineiros, que deverão ser conduzidos pelo elevador cilíndrico um a um , um médico da marinha vai entrar na mina para avaliar o estado de saúde dos trabalhadores presos. Os mineiros terão que usar óculos para proteger os olhos, após tantos dias longe da luz solar.
Chávez e Kirchner: Twitter vs Mídia para falar com o mundo
Durante a última crise política latino-americana, que teve como cenário o Equador, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, decidiu utilizar seu Twitter para contar ao mundo o que estava acontecendo com o colega Rafael Correa. Em 30 de setembro passado, dia em que o presidente equatoriano enfrentou uma rebelião policial que, segundo seu governo, foi uma tentativa de golpe de Estado, a presidente argentina escreveu mais de dez mensagens no microblog sobre o conflito, como mostra a reportagem da correspondente do Globo em Buenos Aires, Janaína Figueiredo, na edição deste domingo.
“Estou na Casa Rosada, 21.10 hs. Rafael Correa está no telefone”, escreveu Cristina naquele dia. Minutos depois, a presidente argentina continuou seu relato: “Comovido (Correa) me comentou que franco-atiradores dispararam contra seu automóvel. Tem cinco impactos de bala”.
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