Correio Braziliense
“Temos uma coalizão estraçalhada”
No momento mais crítico da aliança PT-PMDB, que elegeu a presidente Dilma Rousseff e sustenta o governo no parlamento, o líder peemedebista Eduardo Cunha avalia que o Planalto está “literalmente perdido no Congresso”. Ele anuncia que a maioria dos deputados peemedebistas é favorável ao rompimento do acordo, mas o partido “ainda” não. “Hoje, o governo finge que tem base e a base finge que é governo”, diz, nesta entrevista exclusiva para o Correio.
A agressividade, entretanto, vem no tom de quem deseja que essa situação seja revista. “Vocês acham que a gente briga para sair, mas nossa briga é para entrar, participar das políticas de governo. Hoje, não temos ministérios, temos ministros”, repisa, em tom de mantra. Ele, entretanto, apesar de achar que “não há nada tão ruim que não possa piorar”, prevê uma recuperação da presidente Dilma “Não pense que a Dilma morreu, ela está no segundo turno da eleição do ano que vem. O mundo do governo não acabou, e a recuperação política só depende dela.”
A aliança PT-PMDB atravessa o pior momento. O senhor concorda?
A aliança está mal, parada por vários fatores, mas acho que o mais grave para esse governo é a relação com o Congresso como um todo. O que vemos é uma base parlamentar completamente esfacelada. Havia antes uma discussão sobre os fundamentos da aliança PT-PMDB, dificuldades nos estados, problema de sub-representação, para os quais eu já havia alertado. Da parte do governo, havia uma aversão ao debate e ao diálogo político com os partidos. Depois das manifestações, parece-me que a própria governabilidade entrou em risco. Basta ver o que houve nas últimas votações, por exemplo, dos royalties, em que o PMDB foi muito correto e leal, votando em sintonia com o governo e o PT. Fomos derrotados juntos. A votação foi a fotografia clara de uma coalizão estraçalhada.
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Como resolver isso?
Nós não somos o governo, somos o Congresso. Cabe ao governo buscar a saída, que é fazer mais política. Mas não tentando desviar do foco dos protestos e colocando os problemas no colo do Congresso, como na tentativa de plebiscito.
O que é “fazer mais política”?
Tratar das questões como sempre foram tratadas nesta Casa. Sempre afirmei que a articulação política do governo estava equivocada. Sempre houve uma dificuldade enorme de diálogo. E não estou dizendo novidade alguma. Li uma entrevista do ministro (da Educação, Aloizio) Mercadante dizendo a mesma coisa. Há quatro meses, mencionei esses problemas e fui chamado de rebelde. Até usei uma expressão, naquela ocasião: a ampulheta virou, entramos na contagem regressiva para as eleições, quando todos aqui passam a viver a síndrome TPE, tensão pré-eleitoral. A antecipação da campanha não foi feita por nós, e sim pelo próprio PT, no começo do ano, com o lançamento da candidatura da presidente Dilma. Quando isso acontece, as pessoas se sentem mais liberadas para expressar opiniões e a pensar no próprio umbigo. Esse quadro, que já prejudicava a governabilidade, foi agravado pelas manifestações e pelas quedas, que considero momentâneas, na popularidade da presidente.
Em ritmo de campanha
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, afirmou ontem que a presidente Dilma Rousseff precisa “dialogar mais” antes de tomar decisões para evitar aprofundar a crise econômica que o país vive. Ao chegar a encontro de militantes e parlamentares do PSB, Campos disse que o governo federal precisava apostar na retomada do crescimento e recuperar investidores. O governador, possível candidato à Presidência em 2014, também comentou a queda de popularidade da presidente Dilma Rousseff. Apesar do clima de campanha do evento do PSB, onde foi saudado sob os gritos de “presidente”, Campos evitou falar sobre candidatura.
O governador preferiu comentários sobre economia e deu pitacos sobre os impactos da inflação. “A gente tem, nos últimos três anos, um crescimento muito baixo. A sociedade está sentindo o impacto do crescimento da inflação, principalmente, no que diz respeito ao preço dos alimentos. O Brasil precisa retomar o padrão que tinha antes deste período”, avaliou. “(O governo) precisa recuperar a confiança dos investidores, aqui e de fora”, acrescentou. Segundo ele, é preciso deixar claro aos investidores que o país está no caminho certo e que “não vai haver nenhum cavalo de pau”.
Pauta distante dos pedidos dos eleitores
Além dos cartazes expostos em protestos pelas ruas, a população utilizou os canais de comunicação com a Câmara dos Deputados como uma forma mais direta de cobrar dos parlamentares uma atitude sobre suas reivindicações. Ainda assim não foi ouvida. Dados a que o Correio teve acesso revelam que a demanda espontânea dos eleitores enviada à Casa sobre o assunto reforma política, por exemplo, foi nitidamente maior a partir de junho deste ano. Mas nenhum dos 10 pontos mais pedidos pelos eleitores avançou ou foi totalmente votado pelos deputados no chamado “esforço coletivo” para responder às manifestações.
O primeiro ponto a se destacar no levantamento é que a votação da reforma política, trazida à tona pela presidente Dilma Rousseff como principal resposta ao clamor popular, só foi alvo dos comentários de eleitores após a iniciativa presidencial. De todas as manifestações feitas sobre o assunto neste ano, 81% surgiram entre 1º e 5 de julho. E, entre as mensagens surgidas a respeito do tema, poucas já foram contempladas pelas discussões feitas pelo governo e pelos parlamentares (veja quadro).
Os dados demonstram a opinião da população sobre a reforma e o modo como ela será feita e também apontam os itens considerados prioritários pelos eleitores. No topo do ranking das demandas está a aprovação do fim do voto secreto no Congresso Nacional. O tema estava contemplado na mensagem enviada pela presidente Dilma Rousseff aos parlamentares em 2 de julho, mas já tramitava na Câmara e no Senado desde 2001. Depois do recado presidencial, os deputados aprovaram uma versão mais tímida da ideia na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), abrindo o voto apenas para processos de cassação. No colegiado homônimo da Casa ao lado, os senadores aprovaram outro texto acabando com o segredo em todo tipo de votação. Ambas as propostas ainda precisam ir para o plenário, mas até agora não houve acordo para finalizar o assunto.
O Globo
No bunker dos ruralistas, cardápio de lobbies
É numa mansão de dois andares financiada por empresas privadas do agronegócio, no nobre bairro do Lago Sul de Brasília, que funciona o bunker da forte bancada ruralista do Congresso Nacional. Os deputados se reúnem ali num almoço toda terça-feira e traçam suas estratégias de ação no Câmara: que projetos aprovar, quais rejeitar e como pressionar o governo. Os senadores desse grupo também se reúnem na casa.
No dia 2 deste mês, um convite indicava o cardápio do encontro. “Três apetitosos pratos: como entrada, a audiência com a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente), para falar do Código Florestal”; “logo depois, será servido o indigesto prato da PEC do Trabalho Escravo”, tema que causa ojeriza aos ruralistas. Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência e interlocutor dos movimentos sociais, parece ser sempre o “prato do dia”. Na última terça, foram oferecidos cinco pratos, “que vão despertar a percepção gustativa dos comensais”, informava boletim da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
No encontro da última terça, acompanhado pelo GLOBO, 30 deputados ruralistas traçaram uma estratégia que era verdadeira chantagem ao governo. Eles decidiram que colocariam na pauta da Comissão de Agricultura da Câmara do dia seguinte, na quarta, a convocação de três ministros – Gilberto Carvalho, José Eduardo Cardozo (Justiça) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) -, o que foi feito. Os três ministros estiveram recentemente em audiência pública nesse colegiado. Nessa comissão, os ruralistas são ampla maioria. Para retirar as convocações, exigiam a votação da urgência de um projeto, do líder ruralista Homero Pereira (PSD-MT), que dificulta a demarcação de terras indígenas, outro empecilho para o agrobusiness.
Deputado da base liderou estratégia contra governo
O último encontro na mansão dos ruralistas tinha um líder: o presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, Fernando Giacobo (PR-PR). Ele é da base do governo:
– Quero me colocar à disposição para ir lá cobrar, como fiz com a Gleisi. Disse que, se não pautasse nesta semana (terras indígenas), ia apresentar novamente a convocação dela… Se não, pautamos todos os requerimentos de convocação de tudo que é ministro. Acabou a conversa – disse, aplaudido por alguns. – Para ficar mais interessante, o Giovanni (Queiroz, do PDT-PA) faz o requerimento da Gleisi de novo. Vou pautar a convocação.
– Vamos cansar esses caras – disse Giovanni Queiroz.
O projeto das terras indígenas, de interesse dos ruralistas, seria apreciado no plenário, mas a votação dos royalties para a Educação e a obstrução do PSOL e do PV, contra o projeto de Homero Pereira, impediram sua inclusão na ordem do dia.
No encontro, o coordenador da bancada, Luiz Carlos Heinze (PP-RS), mirou nos adversários no Congresso e citou o líder do PSOL, Ivan Valente (SP). Heinze se referia a críticas do deputado aos ruralistas, numa audiência na comissão.
– O Ivan Valente foi bem claro: “Agora vocês vão ver as ruas”. Ele foi claro nas ameaças, nessa questão indígena. Mas entre ameaçar e fazer vai uma distância – disse Heinze.
Procurado pelo GLOBO, Valente se surpreendeu:
– Eu, ameaça?! O que coloquei é que a pauta deles não é a mesma dos que estão nas ruas.
Agenda positiva muda rotina de trabalho do Congresso
A pressão das ruas modificou a rotina de trabalho no Congresso e produziu uma verdadeira maratona de votação de propostas que, em muitos casos, aumentam o problema das contas públicas e deverão produzir nas próximas semanas uma média maior de vetos da presidente Dilma Rousseff, nos casos dos projetos de lei. Do ponto de vista dos parlamentares, o novo ritmo de trabalho pode amenizar o desgaste da classe política. O Senado tem sido o principal palco de votações, com 17 projetos de lei e sete propostas de emenda constitucional (PECs) aprovados somente na semana passada. Nos bastidores, interlocutores do Palácio do Planalto mostram preocupação com a “sanha” do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para apresentar resultados, e veem com alívio o recesso branco que começa na quinta-feira.
Alertado pelos próprios colegas do exagero nas votações, algumas feitas de afogadilho, Renan deixou duas bombas para agosto: a aprovação do passe livre para estudantes, projeto de sua autoria e cujo impacto financeiro ainda não foi calculado, e a proposta que aumenta os gastos da União com a Saúde Pública. Só este projeto, que prevê a destinação de 10% da receita corrente bruta da União para a Saúde, causaria um rombo de quase R$ 40 bilhões imediatamente. As iniciativas já aprovadas, somadas a esta, gerariam um rombo de pelo menos R$ 50,8 bilhões.
‘A base está muito nervosa’, diz líder do PMDB
todo mundo à beira de um ataque de nervos. Assim está o clima entre parlamentares e integrantes do governo neste final de semestre, depois que a pressão das ruas mudou a pauta e, na tentativa de minimizar as perdas políticas, governo e Congresso tentam jogar a batata quente um no colo do outro. Ainda perplexos e sem saída, PT briga contra PT, o PMDB, contra aliados, e os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tocam a ferro e fogo uma “pauta positiva” para salvar a própria pele.
A semana termina com reuniões marcadas pelo estresse. Sem falar na presidente Dilma Rousseff, no limite da exaustão, tentando mostrar controle da situação, ouvindo movimentos sociais e fugindo de vaias. E dirigentes do Congresso já admitem o descontrole. Numa das votações da semana passada, com prejuízo para o governo, Henrique Alves teria comunicado ao vice-presidente Michel Temer que não tem mais como controlar as decisões do plenário.
No olho do furacão, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, chorou em reunião da Executiva do PT. Num discurso, disse que o PT tinha enfrentado muitas crises em seus 33 anos e que não eram essas dificuldades que iriam derrubar o partido.
– A base está muito nervosa – diz o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), saudado pelo líder do DEM , Ronaldo Caiado (GO), como “o novo líder da oposição”.
No Senado, estresse, cansaço e descrédito
A tensão está por todo lado no Congresso. No Senado, na noite de terça-feira, durante a primeira votação que rejeitou a proposta com novas regras para os suplentes de senadores, o até então ponderado Delcídio Amaral (PT-MS) explodiu. Em discurso emocionado, chamou a sessão de dantesca e dirigindo-se a Renan, de dedo em riste, disse que ele tinha que se responsabilizar por tudo que estava sendo votado:
– O senhor tem responsabilidade, porque o senhor é o nosso condutor. Há verdadeiras barbaridades que estão sendo feitas no Senado nos últimos dias. Muita gente está reclamando, mas está intimidada e ninguém fala. Nós estamos votando coisas que são absolutamente irresponsáveis. Eu espero que isso termine logo e que venha o recesso parlamentar. Eu espero que a gente avalie bem as nossas agendas, porque nós estamos chegando a uma situação absolutamente inadministrável!
Ao final da mesma sessão, o líder do PSDB, Aloysio Nunes (SP), manifestava descrédito e cansaço.
Porta aberta à espionagem
O Brasil e outros 31 países da América Latina mantêm abertas suas redes públicas e privadas de comunicação. Essas nações têm em comum, além da retórica governamental, a ausência de políticas efetivas de proteção da infraestrutura de telecomunicações e do tráfego de dados nas redes de internet.
As revelações do GLOBO na semana passada sobre atividades de espionagem da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) no Brasil e na América Latina aumentaram a percepção da vulnerabilidade. No caso brasileiro, até motivaram as Forças Armadas a uma análise de “dados militares ou dados de interesse militar que podem ter sido atingidos e obtidos” – segundo o Ministério da Defesa. Os resultados não são conhecidos. Sabe-se também que o sistema de comunicações diplomáticas está sob revisão.
O histórico de leniência dos governos da região na segurança dos fluxos domésticos de dados resultou em situações paradoxais. O Brasil, por exemplo, na última década se tornou um dos cinco maiores consumidores mundiais em serviços de telecomunicações, equipamentos, sistemas operacionais e aplicativos de computação. Mas, pessoas, empresas e instituições continuaram expostas a todo tipo de espionagem.
Governo patina em grandes obras do PAC
A PASSOS LENTOS
Ouro Verde de Goiás (GO)Na campanha de 2010, a então candidata Dilma Rousseff apareceu em um de seus primeiros programas na televisão rodando o país para mostrar realizações do governo do presidente Lula e fazer novas promessas. Para tratar da infraestrutura, escolheu a cidade de Ouro Verde de Goiás, onde, sobre os trilhos da Ferrovia Norte-Sul, bradou: “Para o Brasil seguir mudando, vamos seguir investindo em infraestrutura, com novas ferrovias, estradas, portos e aeroportos. E apoiar fortemente o setor produtivo nacional”. Ao fundo, trabalhadores soldavam os trilhos da obra. Três anos após a visita de Dilma, os trilhos de Ouro Verde estão sem utilização, cobertos por uma camada de ferrugem, e o mato cresce ao redor. A situação da Norte-Sul serve como metonímia daquilo em que se transformou boa parte do PAC, que alavancou a candidatura da gestora Dilma em 2010 e pode ter efeito oposto, em 2014. Das 42 maiores obras apresentadas no primeiro balanço do PAC, em abril de 2007, apenas metade entrou em operação até hoje.
A presidente ligou o sinal de alerta em relação à possibilidade de chegar às eleições sem nenhuma obra marcante que possa ser atribuída a seu governo. Por isso, segundo interlocutores, será definido um conjunto reduzido de obras de grande impacto que possam ser entregues até outubro do próximo ano. A ideia é, sem dizer que as outras serão abandonadas, concentrar esforços e dinheiro sobre as escolhidas.
O Estado de S. Paulo
Novas organizações políticas negam fazer política
A rejeição à prática política mais conhecida, especialmente aquela ligada aos partidos, é tão forte entre alguns grupos de jovens, que eles renegam que estão fazendo política mesmo quando engajados em atividades claramente políticas, Essa foi uma das constatações dos pesquisadores que atuaram no projeto Juventude e a Experiência da Política no Contemporâneo, financiado pelo CNPq.
Para a socióloga Miriam Abramovayv da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais,a crescente rejeição aos partidos não eqüivale necessariamente à rejeição da atividade política. “Ao negar os partidos eles não estão dizendo que não precisam de representação ou do Congresso”, afirma a pesquisadora. “Estão dizendo que o que está aí não serve. Quando vão para a rua, estão aprendendo afazer política. Mesmo quando negam isso”.
Miriam coordenou o estudo Quebrando Mitos: Juventude, Participação e Políticas, realizado em 2008, Por meio de entrevistas com 1.853 participantes da Conferência da Juventude, realizada em Brasília naquele ano, ela e um grupo de pesquisadores” verificaram que as três organizações nas quais os jovens menos confiam, são, pela. ordem partidos políticos, Congresso Nacional e polícia.
Uma das informações mais surpreendentes do estudo é que 50% dos entrevistados declararam que são filiados à partidos. Isso significa que, mesmo quando engajados em organizações partidárias, os jovens estão descontentes com a estrutura Merarquizada e verticalízada que as caracteriza.
‘Estou conversando com Lula’, diz Campos
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), disse ontem, no Rio, que tem mantido conversas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Ao longo dos últimos dias, tivemos vários contatos por telefone. Conversamos sobre este momento do País”, afirmou ele, em evento do partido que preside.
Citado como possível candidato de seu partido às eleições presidenciais de 2014, o governador disse não ter falado sobre o tema e classificou como “conjuntural” a queda de popularidade – de 27 pontos – sofrida pela presidente Dilma Rousseff em recente levantamento do Instituto Datafolha.
Como contraponto, no entanto, ele fez críticas indiretas ao governo. “Temos que pensar menos em candidatura e mais no Brasil. Se tivéssemos discutido mais o conteúdo e menos a forma, teríamos avançado mais em 2013”, ponderou o governador na conversa com jornalistas antes de entrar para o encontro com seus correligionários.
Campos afirmou que a sociedade brasileira vive um momento delicado, que exige bom senso e capacidade de aglutinação para a construção de um novo pacto político que reflita os anseios da população. E voltou a dizer, como emoutras ocasiões, que a posição do PSB – definida antes das manifestações de rua pelo País – é que as eleições de 2014 só devem ser discutidas em 2014: “O mais importante neste momento é não perder o rumo estratégico do Brasil”.
PMDB cria banda de popularidade para decidir se fica com Dilma
Desnorteado diante da queda na popularidade presidencial e da dificuldade de diálogo com a presidente Dilma Rousseff, o PMDB estabeleceu internamente um “”prazo57 e uma meta para manter viva a aliança com a ala petista. Ela terá três meses para aleancar – e manter – ao menos 33% das intenções de voto.
Membros do alto escalão do partido aliado avaliam que este seria um patamar razoável para que ela se mostre suficientemente competitiva, com chan-ceareais de vencer a disputa de 2014 e, assim, dividir novamente o poder com o PMDB.
Os pemedebistas avaliam, que, apesar da queda nas pesquisas? Dilma está “sangrando”, mas não está “morta”, e que a conjuntura atual ainda está ““contaminada” pelas manifestações populares que tomaram, conta do País no último mês.
PMDB perde espaço, mas ainda é quem mais nomeia
O PMDB tem um exército de 1 milhão de funcionários públicos sob as ordens de seus mais de mil prefeitos. Desses, ao menos 88 mil são comissionados, ou seja? podem ser nomeados sem concurso público. É o maior potencial de militantes remunerados entre todos os partidos brasileiros, mas está em decadência.
Antes das eleições municipais do ano passado, o PMDB comandava 1.182 prefeituras, onde trabalhavam 1,196 milhão de servidores municipais. Até 2012, o partido podia nomear cerca de 108 mil pessoas a critério único e exclusivo dos prefeitos da legenda. Mas as umas lhe tiraram o poder de prover 20 mil desses cargos.
Ao declínio do exército de comissionados peemedebistas corresponde o crescimento das forças do PSDB, do PT, do PSD e, acima de todos, do PSB. A vitória nas eleições de 2012 possibilitou ao partido do presidenciável Eduardo Campos nomear 17 mil servidores comissionados além dos que já tinha.
O PSB pulou de sexto para quarto lugar no ranking de vagas de funcionários municipais sem concurso. São quase 50 mil, numa média de 24 comissionados para cada 10 mil moradores das cidades agora governadas por prefeitos socialistas.
‘União é que provoca o inchaço nas prefeituras’
O aumento de cargos comissionados nas prefeituras do País, entre 2008 e 2012, “é de responsabilidade do governo federal”, afirma Paulo Ziulkoski, presidente da Confederação Nacional de Municípios. Em entrevista ao Estado, ele diz que “há uma transferência constante de atribuições da União para os municípios”, e estes são obrigados a criar estruturas para receber recursos públicos.
• O número de cargos de livre nomeação aumentou 14% ao mesmo tempo em que os prefeitos pedem mais amparo do Fundo de Participação dos Municípios. Qual a razão disso?
Há uma transferência constante de atribuições da União para os municípios. Principalmente em áreas como saúde, educação e assistência social. No momento em que assume atribuições, você cria nas instâncias já existentes necessidades de coordenadorias, de planejar. E planejar significa ter pessoal para executar. Não dá para colocar uma manada na mesma hierarquia, sem ninguém comandar, tem que ter cabeça. E o nome da cabeça é cargo em comissão. E chefia é cargo em comissão. Ou em função gratificada. Porque se pegar gente do quadro, efetivo, concursado, dá-se a esse pessoal uma função gratificada que corresponde a uma função de servidor comissionado. O prefeito pode trazer alguém de fora com um certo salário, mas pode agregar um valor que ge-ralmente é a metade daquele que vem de fora.
Folha de S. Paulo
Após manifestações, Lula e Dilma vivem desgaste na relação
As manifestações de junho não derrubaram apenas a popularidade da presidente Dilma Rousseff. Elas também ajudaram a desgastar sua relação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Petistas dizem que “criador” e “criatura” estão muito longe de um rompimento, e que errará quem apostar nesse desfecho, mas concordam no diagnóstico: a ligação dos dois chegou ao ponto mais difícil desde que Dilma assumiu o cargo, há dois anos e meio.
Nos bastidores do governo e no próprio PT, a distância foi percebida e virou alvo de comentários. Interlocutores de Dilma atribuem a aliados de Lula o vazamento de críticas à atuação do Executivo durante a onda de protestos que sacudiu o país em junho.
Interlocutores de Lula dizem que ele considerou uma “barbeiragem” a decisão do Planalto de propor uma constituinte para a reforma política sem ouvir o vice-presidente Michel Temer (PMDB), mas consultando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), adversário do PT.
Também há queixas partindo do governo. Uma delas: Lula chegou a sugerir a redução do número de ministérios, embora tenha promovido o aumento do número de pastas quando era presidente.
Pessoas que falaram com o ex-presidente nas últimas semanas o descrevem como “preocupado” e dizem que volta e meia ele expressa incômodo com a “teimosia” e a centralização da sucessora.
Pressionado, governo faz primeiro desenho para corte de ministérios
Com críticas ao inchaço da administração federal vindas da oposição e, agora, do próprio PT, o governo Dilma Rousseff começou a fazer simulações para enxugar o número de ministérios. Hoje há 39 órgãos com esse status.
O desenho de uma Esplanada mais enxuta vem de avaliações segundo as quais é preciso emitir um sinal de austeridade fiscal, ainda que o impacto real nas contas públicas seja pequeno.
Segundo a Folha apurou junto a interlocutores da área econômica, há ao menos duas projeções para desidratar o número de pastas. Os desenhos foram tabulados há duas semanas.
A presidente Dilma Rousseff ainda não decidiu se fará os cortes, mas diversos interlocutores defendem a ideia. O próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria dado conselhos com esse objetivo, e muitos ministros apoiam essa iniciativa.
Brasil gasta só 8,9% do previsto com defesa cibernética
Maneira oficial mais direta de prevenir espionagens e ataques de hackers contra sistemas sensíveis do Estado, a política de defesa cibernética comandada pelo Exército Brasileiro ainda engatinha em termos orçamentários.
Mais que isso, como revela levantamento feito pela Folha nos detalhes de gastos dessas ações, o pouco dinheiro usado é direcionado para iniciativas sem relação direta com segurança de redes de informações estratégicas.
O objetivo da “Implantação do Sistema de Defesa Cibernética”, que faz parte da Política Nacional de Defesa, é claro: contribuir “com o esforço governamental para garantir o funcionamento de setores essenciais ao desenvolvimento econômico e social do país de maneira contínua e confiável”.
Neste ano, R$ 90 milhões foram reservados para a missão –menos que os R$ 100 milhões citados pelo ministro Celso Amorim (Defesa) em depoimento no Congresso nesta semana, após a revelação de que o Brasil é um dos principais alvos do esquema de espionagem americano delatado pelo ex-técnico da CIA Edward Snowden.
No entanto, até a última quarta-feira, apenas R$ 8 milhões (8,9%) tinham sido usados –no jargão orçamentário, “empenhados”, ou seja, dinheiro garantido para fornecedores.
Quase a metade desse valor foi destinada para a compra de jipes militares e cabines para a instalação de estações de comunicação. O edital da licitação deixa claro que o objetivo central da compra é o uso em combate ou situações de tensão social.