Folha de S. Paulo
PF aperta cerco contra substituto de Arruda
Ações recentes da Polícia Federal indicam que a investigação do mensalão do Distrito Federal fecha cada vez mais o cerco contra o governador interino, Paulo Octávio (DEM). Ele nega ter sido beneficiado, mas é acusado de receber propina do esquema de corrupção revelado pela Operação Caixa de Pandora, deflagrada em novembro do ano passado.
Tentando dar ar de normalidade ao governo, que assumiu interinamente na última quinta-feira com a prisão do governador José Roberto Arruda (sem partido), o político e empresário enfrenta também quatro pedidos de impeachment na Câmara Distrital.
Dois aliados de Paulo Octávio tiveram suas casas devassadas pela PF no fim de semana: o ex-policial Marcelo Toledo e o ex-secretário de governo José Humberto Pires, alvos de mandados expedidos pelo ministro Fernando Gonçalves, que preside o inquérito no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Toledo havia sido flagrado em vídeo repassando dinheiro a um assessor de Arruda e dizendo que parte da propina era entregue a Paulo Octávio -que nega ter recebido. O ex-policial é um dos donos da Voxtec Engenharia e Sistemas, que faturou em negócios com o governo do DF, no ano passado, pelo menos R$ 6,6 milhões.
O advogado de Marcelo Toledo, Raul Livino, disse que ainda não conversou com seu cliente sobre a aparição no vídeo. Já José Humberto Pires, homem de confiança de Arruda e suspeito de participar da arrecadação e da distribuição de propina, foi sócio de Paulo Octávio em um empreendimento imobiliário chamado Ilhas do Lago, às margens do lago Paranoá, área nobre da capital.
A Folha obteve uma cópia de relatório da PF sobre o material apreendido no dia da deflagração da operação, em novembro, na Conbral, uma das empresas das quais José Humberto Pires é sócio. O documento afirma que na empresa havia parte das notas marcadas para investigar as ramificações do esquema de corrupção.
“Tanto na Conbral quanto na residência de Domingos Lamoglia foram encontradas cédulas cujos números de série coincidem com aqueles contidos nas cédulas distribuídas por Durval Barbosa [delator do esquema], sob monitoramento da Polícia Federal”, diz o texto da Diretoria de Inteligência da PF.
A análise do material apreendido na Conbral também revela transações milionárias entre empresas que, segundo a investigação, estão sob a influência de Pires. Em um delas, há movimentação de R$ 7 milhões em uma perfumaria. “Teria a empresa capacidade econômico-financeira para movimentar valores tão altos?”, indaga o documento.
Investigadores suspeitam que essas empresas foram usadas para movimentar dinheiro do esquema de corrupção. Durval, o ex-secretário que delatou o mensalão do DEM, disse que ficava guardado na Conbral o dinheiro de propina.
Recibos vinculam direção do DEM a esquema, diz PT
Para deputados do PT, a apreensão de recibos de doações eleitorais para o diretório nacional do DEM na casa oficial do governador afastado do DF, José Roberto Arruda (sem partido), comprova a ligação da direção do partido com o mensalão do Distrito Federal.
Conforme revelou a Folha ontem, os recibos encontrados pela Polícia Federal no anexo da residência oficial do governador (que deixou o DEM logo após a deflagração da crise) foram assinados pelo tesoureiro da Executiva Nacional da sigla, Saulo Queiroz. Estavam em um armário usado por Domingos Lamoglia, então chefe de gabinete de Arruda.
Lamoglia é suspeito de arrecadar propina, que, segundo a PF, ficava com o governador e também era usada para pagar deputados distritais da base aliada em troca de apoio na Câmara do DF.
As doações, num valor de R$ 425 mil, são de empresas que fecharam negócios com o governo da capital na gestão Arruda. A Antares Engenharia, que contribuiu com R$ 150 mil, afirmou à Folha que não pediu nem recebeu qualquer comprovante da doação. A construtora Artec, que doou R$ 275, não quis se manifestar.
Para o deputado federal Geraldo Magela (DF), tanto Arruda quanto o governador interino, Paulo Octávio, estão “umbilicalmente ligados ao DEM”. “As impressões digitais estão por todos os lados. É uma vinculação permanente.”
O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), afirmou que, “por mais que o DEM tente se desvincular” da crise do mensalão do DF, “eles já foram extremamente prejudicados”. “Todo o resto que vier, como a apreensão das notas, também vai ter consequências.”
Pré-candidato petista ao governo do DF, o ex-ministro do Esporte Agnelo Queiroz disse que o caso tem de ser investigado com profundidade. “Essas notas deveriam estar na tesouraria do DEM e nunca na residência oficial do governador. Isso tudo é no mínimo esquisito.”
Visita à sede da PF, onde governador está preso, vira atração de Carnaval
A prisão do governador afastado do Distrito Federal, José Roberto Arruda, virou atração na Superintendência da PF, em Brasília, no domingo de Carnaval. Várias pessoas foram até o local para protestar, levar presentes e mesmo tentar o acesso direto ao governador, preso desde sexta-feira.
Pela manhã, um homem identificado pelos policiais apenas como Adilson tentou entregar um livro de poesias intitulado “Coletânea Poética do Guará” ao governador, mas acabou sendo barrado na portaria pela segurança.
Paulo Wilson, que se identificou apenas como um colega de Arruda, conseguiu entrar na PF, levando o livro “1876”, do escritor Gore Vidal.
Outro amigo de Arruda que o visitou neste domingo acabou barrado na porta da superintendência: o presidente interino do DEM no DF, o deputado Osório Adriano. Segundo a PF, a entrada foi negada porque o nome do deputado não estava registrado.
A professora Anita Grossi também tentou fazer visita, mas foi impedida pelos policiais. “Por que só ele? Outros 10 mil tinham que estar aqui. Os porões do PT são piores que os da ditadura”, afirmou Anita.
O governador interino, Paulo Octávio (DEM), não visitou Arruda desde que assumiu o cargo após a prisão do titular.
Ontem, nenhum familiar foi à sala que serve de cela. No começo do tarde, o cunhado de Arruda, Fábio Peres, entregou o almoço do governador afastado para os agentes federais, mas saiu logo em seguida.
A avó do governador afastado também tentou visitá-lo à tarde, mas desistiu depois que viu os jornalistas.
O advogado Thiago Bouza foi o único que passou mais tempo no local. Segundo ele, o governador está “abatido, mas cada vez melhor”. “Ele está consciente do que está acontecendo e sabe que pode demorar [para sair]”, afirmou.
Bouza é da equipe que defende Arruda no inquérito da Caixa de Pandora. “O governador está recuperando as forças”, disse o advogado.
Nas conversas com Bouza, de acordo com o advogado, Arruda não demonstrou nenhum interesse em saber da repercussão de sua prisão, nem dos desdobramentos da operação Caixa de Pandora. Eles teriam passado o tempo conversando sobre amenidades.
Evidência contra Arruda é “contundente”, diz ministro
O MINISTRO do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello, 63, ratificou uma decisão histórica na sexta-feira, ao negar habeas corpus ao governador afastado do DF, José Roberto Arruda (s/partido), preso preventivamente desde quinta-feira por determinação do Superior Tribunal de Justiça. É o primeiro caso no país de um governador detido por corrupção durante o mandato.
O mérito da ação, cujo relator é Marco Aurélio, deverá ser julgado pela 1ª Turma (cinco magistrados, incluindo o próprio ministro) ou pelo plenário do Supremo nos próximos dias. Se o habeas corpus for negado, caberá ao STJ a manutenção ou não da prisão de Arruda, investigado pelo mensalão do DEM.
Em entrevista à Folha, Marco Aurélio antecipou seu voto: vai se manifestar novamente contra a concessão imediata do habeas corpus. Por ele, Arruda passará mais tempo na cadeia. Não há prazo para a prisão preventiva. A medida só é suspensa quando a Justiça entende não haver mais riscos de o alvo do inquérito atrapalhar as investigações.
Para Marco Aurélio Mello, os elementos contra Arruda são “contundentes”, não há como surgir fatos novos e é uma “extravagância” dos advogados do governador falar em cerceamento do direito de defesa. O ministro falou de sua casa, no sábado à noite, por telefone.
FOLHA – Por que o sr. negou o habeas corpus ao governador Arruda?
MARCO AURÉLIO MELLO – A base da decisão do STJ foi única. Ele [Arruda] tentou e os demais envolvidos que tiveram a prisão preventiva decretada também tentaram interferir na instrução criminal. Teria, portanto, praticado o crime de corrupção de testemunha e o crime de falsidade ideológica, que são crimes contra a administração da Justiça. Isso é base para a [prisão] preventiva, teor da legislação processual.
FOLHA – Foi uma decisão muito clara para o sr.?
MARCO AURÉLIO – Muito, muito clara. Se pegarmos meus precedentes na turma [do STF], o que não admito é que se parta para o campo da presunção do excepcional, que a pessoa tendo prestígio influenciará a instrução do processo ou obstaculizará a investigação. Tenho votado não admitindo isso. Agora, toda vez que há ato concreto do envolvido que repercute na instrução criminal, eu tenho me pronunciado no sentido da validade da prisão. Foi o que ocorreu nesse caso. A fita do flagrante é bem explícita e também os depoimentos colhidos quanto a essa tentativa.
FOLHA – Foi o caso mais grave dessa natureza com o qual o sr. já teve de lidar?
MARCO AURÉLIO – Olha, há muitos anos eu lido com processos no Supremo, são 20 anos agora em junho [no STF], 31 anos no Judiciário. Evidentemente, nada me surpreende mais. Agora, nesse caso o que verificamos foi o envolvimento direto, o que é lamentável, de um governador praticando um ato que estaria totalmente à margem da ordem jurídica. Sabemos que o exemplo vem de cima. Evidentemente essa não é uma postura que se aguarde de quem está na chefia do Executivo estadual.
FOLHA – Esse caso terá um efeito pedagógico para governantes?
MARCO AURÉLIO – A impunidade leva à irresponsabilidade, ao menosprezo pelo que está estabelecido, às regras tão caras à vida em sociedade. Toda vez que alguém é surpreendido num desvio de conduta, esse fato serve de exemplo e serve de alerta aos demais cidadãos, para que busquem a postura que se aguarda do homem médio, para que mantenham os freios inibitórios rígidos. Nós estamos, como disse na decisão, numa quadra alvissareira. De um lado, temos o abandono de princípios, a perda de parâmetros, a inversão de valores, o dito passa pelo não dito, o certo pelo errado e vice-versa. De outro, as mazelas não são mais passíveis de serem escamoteadas. Elas afloram e aí as instituições pátrias funcionam, a polícia, o Ministério Público e o Judiciário. Isso sinaliza dias melhores para o Brasil em termos de apego às regras.
FOLHA – A decisão final do habeas corpus será dada pela 1ª Turma ou pelo plenário do STF?
MARCO AURÉLIO – O relator, é claro, pode afetar qualquer processo de competência da turma ao plenário, que é o órgão maior. De início, quando falamos em Supremo, imaginamos um órgão único atuando. Mas o Supremo está dividido em turmas. Portanto, com a racionalização dos trabalhos, há maior produção em termos de julgamento. De início, eu levo à turma. Agora, qualquer um dos integrantes pode propor o deslocamento. Quando um colega propõe o deslocamento para o plenário, adiro imediatamente.
Ministra une rivais políticos de PT e PMDB no Carnaval baiano
Pelo menos no Carnaval, a ministra Dilma Rousseff conseguiu reunir por alguns minutos os pré-candidatos de PT e PMDB ao governo da Bahia -Estado onde a ruptura entre as siglas parece ser irreversível.
Acompanhada do governador Jaques Wagner (PT), Dilma visitou o ministro peemedebista Geddel Vieira (Integração Nacional), que assistia ao Carnaval no camarote da Prefeitura de Salvador. Os três assistiram ao desfile de trios elétricos em uma área reservada.
A briga estadual entre o PT e o PMDB, que deixou a gestão petista para lançar o nome de Geddel ao governo, acirrou-se em novembro após um aliado do ministro ter sido preso durante operação policial.
A visita pode ser considerada uma prévia para o palanque da ministra em Estados onde PT e PMDB, que deve indicar o vice à Presidência, são adversários.
Outro pré-candidato esteve em Salvador. O governador José Serra (PSDB), assim como Dilma, assistiu à passagem do bloco de Ivete Sangalo. Eles estavam em camarotes vizinhos, mas não se encontraram.
De cima do trio, Ivete brincou com eles. “José Serra, está com os olhos cansados, meu filho. Tá com olhinhos de sono. Bota um energético pra dentro senão não segura.” Para Dilma, ela parodiou sua música “Cadê Dalila?” e mudou um verso para “vai buscar Dilminha”.
Depois do desfile, Serra concedeu entrevistas a quatro emissoras locais de TV. Anteontem, ele também visitou o camarote de Daniela Mercury, onde ficou por quase quatro horas. Serra disse adorar axé.
Apesar da maratona, com direito a passagem de Dilma e Serra por Pernambuco, ambos negam interesse eleitoral nas visitas. Ontem à tarde, a ministra foi para o Rio, para o desfile das escolas de samba. Serra voltou para São Paulo.
Brasil não pune lavagem de dinheiro, aponta entidade
O Brasil não consegue combater e punir um tipo de crime que une traficantes de drogas, corruptos e criminosos de colarinho branco -a lavagem de dinheiro. Faltam leis, disposição das autoridades para sequestrar bens comprados com dinheiro ilícito e preparo dos tribunais superiores para tratar o tema com a complexidade que ele requer.
A avaliação é do principal órgão internacional que sugere e monitora políticas contra a lavagem de dinheiro e o financiamento ao terrorismo, o Gafi (Grupo de Ação Financeira), em relatório de 302 páginas obtido pela Folha.
Especialistas do Gafi visitaram o Brasil entre 26 de outubro e 7 de novembro do ano passado e apontam num documento preliminar que a maioria dos crimes de lavagem acaba sem punição. A versão é preliminar porque o documento será debatido com autoridades brasileiras antes do texto final.
A lavagem ocorre quando recursos obtidos ilegalmente ingressam no mercado com aparência legal. Pode ser o dinheiro de um traficante que se converte em postos de gasolina ou o caixa dois do empresário que é usado para a comprar imóveis, joias ou obras de arte.
“A lei brasileira de lavagem de dinheiro não é suficiente para cobrir todas as categorias de infrações previstas, não inclui a responsabilidade penal das empresas, e não é efetivamente implementada em grande parte por causa de graves problemas estruturais do sistema judicial”, diz trecho do relatório.
O documento sugere que o governo, com maioria no Congresso, trabalhe para aprovar um projeto de 2008 que passou no Senado, mas está parado na Câmara. Das 20 recomendações que a entidade fez, só 7 foram implantadas, diz o texto. O Ministério da Justiça informa que a maioria das sugestões está contemplada no projeto.
Procuradores atestam crítica de entidade
Os problemas apontados pelos organismos internacionais são confirmados por membros do Ministério Público.
Uma das falhas apontadas no relatório é a lei brasileira e a falta de empenho das autoridades em modificá-la. Por exemplo, ao contrário das recomendações internacionais, no Brasil as empresas não podem ser punidas por lavagem de dinheiro.
Na Operação Satiagraha, que investiga supostos crimes financeiros do banqueiro Daniel Dantas, o grupo Opportunity foi excluído da lista de réus.
Na ação movida contra o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), o Ministério Público não pôde responsabilizar os bancos que fizeram vista grossa a movimentações ilegais no exterior. Maluf nega ter recursos fora do Brasil.
“A responsabilização penal da pessoa jurídica é uma tendência mundial. Isso seria importante no Brasil porque empresas são usadas como instrumentos de lavagem”, afirma o procurador da República Rodrigo de Grandis.
Outra crítica dos órgãos internacionais é o fato de, no Brasil, uma condenação de primeira instância, mesmo mantida por um tribunal superior, não ser suficiente para a execução da pena. O réu tem direito a recorrer em liberdade.
“A comunidade internacional se espanta muito com essa flexibilidade do sistema penal brasileiro. Em qualquer lugar do mundo, bastaria a confirmação da sentença por um tribunal superior”, diz a procuradora regional da República Janice Ascari.
Projeto corrigirá as distorções, diz Tuma
O secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr., diz que a maioria das críticas feitas pelo Gafi (Grupo de Ação Financeira) em relatório após visita ao país serão corrigidas por um projeto de lei de iniciativa do Ministério da Justiça que aguarda aprovação desde 2008.
“Avisei no Congresso que o Gafi vinha aí, mas o projeto não andou”, afirma. Para ele, o documento do grupo contém “exageros”, como a afirmação de que o país só implantou 7 das 20 recomendações do órgão internacional. Todas elas foram seguidas, de acordo com Tuma, mas algumas não foram efetivamente implantadas porque estão no projeto de lei parado no Congresso.
O projeto muda o conceito do crime de lavagem. Hoje, para haver lavagem, a polícia e o Ministério Público precisam apontar um crime precedente (tráfico de drogas ou de armas, crimes contra o sistema financeiro, desvio de recursos públicos, entre outros), o que dificulta os inquéritos. O projeto de lei acaba com o crime precedente.
O texto enviado ao Congresso cria o crime de financiamento ao terrorismo, uma das sugestões apresentadas pelo Gafi.
A proposta do órgão de que as empresas devem ser processadas criminalmente depende de mudanças na Constituição, segundo Antonio Gustavo Rodrigues, presidente do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão do Ministério da Fazenda que cuida do combate à lavagem.
Ele diz que a Constituição só permite processos criminais contra pessoas jurídicas em caso de crime ambiental e crimes contra a economia popular.
Rodrigues, que presidiu o Gafi entre junho de 2008 e junho de 2009, diz que não vale a pena debater o texto ao qual a Folha teve acesso.
“Não vou discutir porque é um texto de trabalho que não deveria nem sequer ter chegado à imprensa. Não é nem um relatório preliminar, é uma minuta. Quem entregou esse texto à imprensa cometeu um crime, porque ele não reflete a posição do Gafi”, afirma.
PT defende jornada de 40 horas em plano
O PT incluiu nas diretrizes do programa de governo preparado para a pré-candidata Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil, a defesa da jornada de trabalho de 40 horas semanais como instrumento para fortalecer o “mercado de bens de consumo popular” e o desenvolvimento econômico no pós-Lula.
A pré-candidata é favorável à redução de jornada, mas a inclusão do tema oficialmente em seu programa de governo ainda dependerá de uma pactuação com os demais partidos que integrarão a aliança. O texto, proposto pela Comissão Executiva Nacional do PT, será debatido no 4º Congresso Nacional, de quinta a sábado.
Ao mesmo tempo em que a inclusão do tema aproxima Dilma dos movimentos sindicais e da militância petista, a redução de jornada poderá melindrar o diálogo do PT com a classe empresarial, que resiste à mudança. A PEC (proposta de emenda à Constituição) que reduz a jornada tramita no Congresso.
Não há consenso entre parlamentares para a votação desta proposta e a resistência do setor empresarial já levou, por exemplo, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP) -indicado para vice de Dilma -, a propor uma redação alternativa com redução de jornada de 44 horas para 42 horas.
No documento, o PT não correlaciona a redução de jornada à manutenção dos salários. Limita-se a um compromisso “com a construção do consenso para lograr a jornada de 40 horas”. O tema divide partidos de centro que se aliam a Dilma.
O plano de governo preliminar do PT apoia também uma nova reforma tributária para “reduzir impostos indiretos e racionalizar o sistema de impostos”, bem como sugere a necessidade de outra reformulação na Previdência Social.
Ainda que no caso da Previdência o PT não use a palavra reforma, o partido fala em “desburocratização” do setor para melhoria do atendimento.
O fortalecimento do papel do Estado e dos bancos estatais, já defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela própria Dilma, agora é oficializado no texto do partido. A atuação de BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNB e Basa, segundo o texto, deve se dar de forma articulada com os planos de desenvolvimento do governo federal (como o PAC 1 e o PAC 2), com ampliação do crédito, redução dos custos, foco na produção e no consumo.
Pela primeira vez, o PT cita no documento sobre “Tática Eleitoral e Política de Alianças” que caberá à pré-candidata definir a coalizão com a qual disputará. Até então Lula centralizava a negociação com aliados. “A companheira Dilma deve orientar todos os movimentos políticos do PT, da mesma forma que a eleição de Lula orientou nossas ações em 2006.”
O Estado de S. Paulo
Abandonado pelo DEM, vice de Arruda vai a Lula em busca de apoio
Sem apoio do DEM e sob pressão para que abandone o partido antes de ser submetido a um processo de expulsão, o governador em exercício do Distrito Federal, Paulo Octávio, vai ser recebido depois de amanhã pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governador havia pedido o encontro na semana passada. Ontem, o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, informou que a audiência está agendada para a tarde desta Quarta-feira de Cinzas.
Paulo Octávio disse ao Estado que quer conversar com Lula sobre a “turbulência política” no DF, a possibilidade de intervenção e “obter apoio para garantir a governabilidade”.
Apesar dos esforços para atrair aliados – até na oposição – e viabilizar um governo de coalizão, Paulo Octávio não pode mesmo contar com o apoio do próprio partido. Depois de entregar a presidência do DEM no Distrito Federal, o governador avaliou ontem a sua situação partidária: “Não cogito (sair do DEM), e espero que isso não aconteça. Não tem sentido, porque acabei de assumir o governo”, afirmou, ao final de uma visita às obras do Hospital de Base. Ele alega que não recebeu nenhuma ligação do comando da sigla para tratar do assunto, que disse saber pela imprensa.
NO LIMITE
Para o líder do partido no Senado, Agripino Maia (RN), “é um direito dele não deixar o DEM”. Em entrevista ao Estado, porém, Agripino acrescentou: “O limite de constrangimento que o caso Arruda impôs ao partido chegou ao extremo. O DEM, como instituição, não merece pagar o preço que a crise do DF está lhe impondo.” Por isso, ele julga “acertada” a decisão da Executiva de proibir os filiados de aceitarem cargos no governo de Paulo Octávio.
Agripino avalia que a situação está ficando “delicada”. “Ele é um governador filiado ao partido e o partido não dá suporte a seu governo, porque não permite que seus filiados participem do governo. Se houver denúncias consistentes, o partido não hesitará em pedir o seu afastamento”, advertiu, lembrando que Arruda teve de se desfiliar para não ser expulso.
O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) reafirmou claramente a posição de pedir a expulsão de Paulo Octávio, caso ele mesmo não tome a iniciativa. Ele reiterou que na próxima quinta-feira vai apresentar pedido de intervenção no diretório do Distrito Federal e o desligamento de membros do DEM que estiverem no governo.
Governador, sem TV, não vê desfile que ajudou a pagar
O governador afastado José Roberto Arruda (sem partido) não pode assistir ao desfile da Beija-Flor, a escola em que o seu governo injetou R$ 3 milhões de patrocínio para encenar, na avenida, o enredo alusivo aos 50 anos de Brasília. Por precaução, a Polícia Federal retirou o aparelho de TV da sala onde ele está recolhido, o gabinete da Diretoria Técnico-Científica (Ditec). Pela programação da Sapucaí, a Beija-Flor deveria encerrar o desfile do primeiro dia, na madrugada de hoje.
Preso há três dias, por tentativa de corrupção de testemunha no inquérito que investiga o mensalão do DEM, Arruda estava ontem deprimido, segundo relato das poucas pessoas que tiveram contato com ele e evitou receber visitas. “Está abatido, sim, mas melhorando”, disse o advogado Thiago Bouza.
Ele quis saber como estava o sobrinho Rodrigo Arantes, preso na penitenciária da Papuda, sob a mesma acusação. Um dos poucos recebidos foi o cunhado Fábio Peres, que levou as refeições.
”Mensalão do DEM” é hit de marchinhas em Brasília
O “mensalão do DEM” virou enredo do carnaval do Pacotão, um dos blocos de rua mais tradicionais de Brasília. Em meio aos confetes, serpentinas, faixas e fantasias, a distribuição de panetones embalou as marchinhas com letras que fizeram referência ao esquema de corrupção envolvendo a cúpula do governo do Distrito Federal, assessores, deputados distritais e empresários. “Quem foi, quem foi/Que fez esse ebó?/Derrubou Arruda/E de lambuja o P.Ó!”, dizia uma das marchas. A sigla refere-se ao governador em exercício, Paulo Octávio.
No meio dos cerca de 400 foliões que desfilaram pelas avenidas de Brasília, se destacava o chefe Tony Martins. Ele oferecia ao público um panetone, com a advertência de que “é prudente comer rezando” – uma referência ao ex-presidente da Câmara Legislativa, o deputado Leonardo Prudente (sem partido), flagrado na “oração da propina” com o deputado Rubens César Brunelli (PSC-DF) e o ex-secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa. “O carnaval é uma catarse para extravasarmos toda a nossa revolta”, comentou Tony.
Integrantes do movimento “Fora Arruda” compareceram ao desfile, com bonecos dos dois governadores, o que está preso, José Roberto Arruda, e Paulo Octávio, em exercício. A intenção deles é direcionar os próximos protestos contra o governador em exercício, também suspeito de envolvimento no esquema revelado pela Operação Caixa de Pandora. “A luta pela moralização continua. Agora é Fora Paulo Octávio”, disse o estudante de Engenharia Florestal Abayomi Mandela.
Dilma testa palanque duplo em Salvador
A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, enfrentou ontem o primeiro teste da campanha com dois palanques de apoio à sua candidatura presidencial, um do PT e outro do PMDB. Convidada do governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), para assistir ao desfile de carnaval em Salvador, Dilma também teve de marcar presença no camarote vizinho, onde estava o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB).
A Bahia compõe a lista dos impasses regionais para a reprodução da aliança nacional entre o PT e o PMDB. Motivo: Wagner é candidato ao segundo mandato e Geddel já anunciou que concorrerá à cadeira hoje ocupada pelo petista. Na tarde de ontem, porém, durante a passagem dos trios elétricos pelo Circuito Osmar (Campo Grande), os dois tiveram de dividir o mesmo espaço, por dez minutos, ao lado de Dilma.
Apenas uma divisória os separava do camarote onde estava o governador de São Paulo, José Serra, pré-candidato do PSDB. Embora o adversário maior fosse Serra, não faltaram estocadas nos bastidores entre Wagner e Geddel. “Para casar é preciso a vontade de dois, mas para brigar, só de um. Foram eles que romperam a aliança conosco, o PT não vai ficar como mendigo pedindo esmola ao PMDB”, afirmou o governador.
“Aliás, não vi nenhuma reprimenda pública do PMDB nacional ao PMDB baiano, que desfez a parceria sem nem mesmo consultar o presidente Lula e a ministra Dilma”, completou. Depois que a chefe da Casa Civil e o governador saíram do camarote do prefeito João Henrique (PMDB), Geddel deu o troco: disse que Wagner tenta vender a imagem de “bom moço”, contando “inverdades”. “Não vou disputar carinho, cotovelada e espaço”, alfinetou. “Quem quebrou compromissos políticos e administrativos foi ele, não eu.”
Serra aproveita carnaval para ganhar exposição no Nordeste
Apesar de negar que estivesse em busca de voto, o governador de São Paulo, José Serra, dedicou os últimos dois dias a comparecer a festas de carnaval no Nordeste, região considerada estratégica para o PSDB na eleição. No Recife e, depois, em Salvador, o potencial candidato tucano à Presidência posou para fotos com foliões, deu entrevistas e se encontrou com líderes políticos locais. O bom desempenho eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos Estados do Nordeste, na última eleição, levou a cúpula do partido a trabalhar para, pelo menos, tentar diminuir a desvantagem.
A programação de Serra foi montada de modo que ele não encontrasse, nem por acaso, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência, que também passou os dois últimos dias acompanhando o carnaval na região. A articulação das agendas ficou a cargo do deputado Jutahy Magalhães Júnior (PSDB-BA) e do presidente da Assembleia baiana, Marcelo Nilo, que recentemente trocou o PSDB pelo PDT para ficar na base do governador Jaques Wagner (PT). “Passamos três horas, na noite de ontem (sábado), montando as programações dos dois, para que ficasse bom para todo mundo”, declarou Jutahy.
Na prática, os “acertos de agendas” mostraram-se precisos, a ponto de, na tarde de ontem, Dilma e Serra ficarem separados apenas por uma parede de pano, que marcava os limites entre o camarote da prefeitura, onde estava a ministra, do espaço de uma emissora de TV, onde Serra assistia aos desfiles.
Tanto Jaques Wagner quanto o prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro, disseram ter convidado Serra para os camarotes oficiais – os únicos visitados por Dilma. “Chamei o governador Serra como governador da Bahia, por ele representar o principal Estado do País”, disse Wagner. “Mas sei que é natural que ele fique com os políticos do grupo dele”, completou o governador.
Diva Ivete brinca com pré-candidatos
Diva do carnaval de Salvador, a cantora Ivete Sangalo fez piada com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), e com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), ao passar ontem diante dos camarotes que abrigavam os dois principais candidatos à Presidência neste ano.
Usando plumas pretas e vestido de zebra, Ivete deixou Serra sem jeito ao dizer que ele estava com “olhinhos de sono” e fez Dilma abrir um largo sorriso ao chamá-la de “Dilminha”.
“Ali está José Serra. Está com os olhos cansados, meu filho! Olhinhos de sono”, observou a cantora, ao comentar que desde a noite de sábado o tucano assistia à passagem dos trios elétricos.
Depois, irreverente, deu a receita para espantar o cansaço: “Bota um energético para dentro, meu filho, se não você não segura.” Menos de dez minutos depois, ao avistar o camarote do governador Jaques Wagner, onde estava Dilma, Ivete não se conteve. “Dilmaaaa!”, gritou. “Belíssima!” Em seguida, trocou um trecho da música Cadê Dalila? para homenagear a pré-candidata do PT. “Vai buscar Dilminha/ vai buscar Dilminha ligeiro.”
Os dois ensaiaram alguns tímidos passos nos respectivos camarotes, mas não demonstraram jeito para a dança. “Qualquer um de nós, se treinar um pouquinho, faz o Rebolation”, disse, sorrindo, a ministra, referindo-se ao hit do verão baiano. “Eu não vou arriscar, não. Prefiro treinar sozinho”, disse o governador paulista.
O Globo
Moinho ameaça sonho da Ilha
Carro alegórico prejudica harmonia do enredo sobre Dom Quixote na abertura do desfile
A União da Ilha abriu ontem à noite o desfile do Grupo Especial das escolas de samba, na Sapucaí, com o recomeço de Rosa Magalhães, que por 17 anos foi a carnavalesca da Imperatriz. Vencedora do Emmy pelo figurino do Pan 2007, Rosa colocou toda sua técnica à disposição da empolgação histórica da Ilha com o enredo sobre D. Quixote, o cavaleiro dos sonhos impossíveis. Mas, no meio do desfile, o quarto carro alegórico, “Lutando contra moinhos de ventos”, muito alto, dificultou o acesso do destaque Pedro Paulo, que sustentava uma fantasia de 18 quilos. O carro foi danificado e a operação atrasou o desfile, comprometendo a harmonia.
Na madrugada de ontem, na apresentação das escolas do Grupo de Acesso, “seu” Zacarias do Morro de São Carlos, de 81 anos, arrancou aplausos da Sapucaí do alto do segundo carro alegórico da Estácio de Sá, penúltima escola a desfilar. Entre os blocos de rua, o Simpatia é Quase Amor foi a sensação de domingo, arrastando 70 mil foliões por Ipanema.
Ata registra loteamento de cargos no governo Arruda
Dois documentos apreendidos pela PF mostram que o governador afastado do DF, José Roberto Arruda, registrou em ata uma reunião com assessores e coordenadores de campanha para lotear cargos no governo. Consta na ata que técnicos ou servidores efetivos seriam afastados de cargos em comissão para dar lugar a “amigos e correligionários”. Outro papel registra quantas nomeações cada secretário, deputado ou assessor poderia fazer.
Os 23 “amigos do grupo de JRA”, por exemplo, foram autorizados a nomear 30 pessoas cada. O governador em exercício, Paulo Octávio, já fala em renunciar se não puder montar aliança que dê sustentação política ao governo.
MP quer ver as contas do samba
O Ministério Público estadual pretende pedir as prestações de contas das escolas de samba do Grupo Especial, referentes à subvenção paga pelo município em 2009. Metade do dinheiro foi parar numa só empresa.
Correio Braziliense
Supremo reprova tese de intervenção
Ministros do STF ouvidos pelo Correio avaliam que a crise política no Distrito Federal não justifica nomeação de um interventor. No entendimento dos magistrados, o governo e as instituições estão em condições de funcionar.
Há uma preocupação em relação à Câmara Legislativa – contaminada pelo escândalo das propinas, não teria meios de realizar uma eleição indireta isenta para governador -, mas essa é uma circunstância política. Do ponto de vista jurídico, a autonomia da capital federal estaria preservada.
Corregedoria na mira da PF
Agentes federais recolheram documentos na secretaria que investiga ações do Executivo.
A debandada dos aliados
Após abandonar Arruda, distritais da base governista hesitam em apoiar Paulo Octávio.
Dez dias para ficar no DEM
Democratas concedem prazo ao governador em exercício antes de decidir se o expulsam.
Raios X nos contratos
GDF vai rever acordos com empresas citadas na investigação que originou a Operação Pandora.
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