CORREIO BRAZILIENSE
Mensaleiro votou pelo irmão morto
O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil votou duas vezes em 2008, nos dois turnos: em nome dele e também do irmão morto há 36 anos. Deputada do parlamento italiano avalia ser possível a extradição do prisioneiro para o Brasil
Depois de obter em 2007 documentos em nome de um irmão que morreu há 36 anos, o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato votou duplamente nas eleições municipais de 2008, no Rio de Janeiro. Condenado no julgamento do mensalão e foragido da Justiça brasileira desde novembro, ele foi preso na quarta-feira, na Itália. O Correio apurou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que o detentor do título em nome de Celso Pizzolato votou nos dois turnos em 2008, na seção número 13 da Zona Eleitoral 205, em Copacabana. A Justiça Eleitoral registrou que Henrique foi às urnas nos mesmos dias e local com seu documento verdadeiro, só que em uma sala próxima, na seção 53. Se extraditado para o Brasil, ele poderá responder pelo crime de falsa identidade, cuja pena varia de três meses a um ano de prisão.
Nas eleições seguintes, o título de Celso não foi usado. Por isso, em 2011, o autor da falsificação regularizou a situação, após pagar multa. Em 2012, ele não utilizou o documento para votar nem buscou um cartório eleitoral para solucionar a pendência. Pizzolato também obteve passaporte, identidade e CPF em nome do irmão. O presidente do TSE, Marco Aurélio Mello, disse que a falsificação poderia ter sido evitada se o país já tivesse o cadastro biométrico de todos os eleitores. “Todos estamos surpresos. Isso só revela que o sistema eleitoral precisa ser aprimorado. Daí a biometria, para ter certeza de que aquele que apresenta o título é realmente o detentor”, disse o ministro, que pedirá ao Ministério Público para investigar o caso.
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Na minuciosa estratégia traçada por Henrique Pizzolato para fugir do país, o risco de ser condenado na Itália a até três anos de prisão pelo uso de documentos falsos foi calculado como vantajoso. Se tivesse permanecido em território nacional, ele teria de cumprir pena de 12 anos e 7 meses de prisão em regime fechado, em decorrência da condenação no julgamento do mensalão. A polícia especial de Modena, onde Pizzolato está detido, informou que, com ele, foram localizados documentos de outros países, sendo “muitos falsos”. A pena máxima no país europeu chega a três anos, mas como ele é idoso (62 anos), dificilmente ficaria mais de um ano encarcerado.
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Cubana passeia em Brasília e ganha emprego
A médica cubana que pediu refúgio ao Brasil após desistir do programa Mais Médicos teve ontem o primeiro dia de “liberdade total” no país, segundo ela. No início da tarde, Ramona Matos Rodríguez foi à Delegacia de Imigração da Polícia Federal, no Aeroporto de Brasília, buscar o documento que possibilita a estada em solo brasileiro até que o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) decida se a permanência de forma legal será definitiva. Hoje, ela irá à Delegacia Regional do Trabalho para fazer a Carteira de Trabalho. Na próxima semana, ela será contratada na área administrativa da Associação Médica Brasileira (AMB).
O protocolo entregue pela PF registra que o Conare concedeu o refúgio temporário a Ramona, que agora pode circular livremente no país. Ela diz ter ficado escondida de sábado, quando fugiu de Pacajá (PA), onde atuava no programa do governo federal, até terça-feira, quando chegou à Câmara dos Deputados. A cubana ficou alojada na liderança do DEM até a noite de quarta, quando foi feito o pedido de refúgio. Desde então, ela está no apartamento funcional em que vive o deputado Abelardo Lupion (DEM-PR). “Meu momento mais lindo hoje (ontem) foi poder andar pelas ruas e respirar ar puro, pois, quando fiz o curso do programa, no ano passado, não podia sair do hotel. No Pará, eu não podia sair sem autorização do meu supervisor”, disse a médica ao Correio.
Dilma vive inferno astral na economia
Começou difícil o ano que definirá a permanência da presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto e do PT no governo. No front econômico, não faltam notícias ruins. O país tem colhido os desgostos de uma política considerada equivocada por especialistas, que combina quatro anos seguidos de baixo crescimento, inflação alta, juros pesados, dólar nas alturas, contas públicas desajustadas e uma desconfiança que mina a vontade de investir do empresariado e da população, de consumir. Pior: essa safra de maus resultados pode chegar ao seu ápice em plena campanha eleitoral, às vésperas do pleito de outubro, quando se espera um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) anualizado acima do teto da meta, de 6,5%, e números frustrantes de Produto Interno Bruto (PIB) — dados que serão usados pesadamente pela oposição.
Somado às tensões econômicas, o governo Dilma vive ameaçado pelo fantasma do racionamento de energia, diante dos constantes apagões que atormentam o país. O baixo nível das reservas das hidrelétricas obrigou o uso de termelétricas, energia mais cara e poluente. Mesmo assim, não tem sido suficiente para suprir toda a demanda dos brasileiros. Os cortes no fornecimento em grandes regiões têm sido constantes e o temor do Palácio do Planalto e do PT é de que a oposição consiga pregar na presidente o rótulo de incompetente, sobretudo por ela ter sido ministra de Minas e Energia e muitas vezes apontada como excelente técnica no assunto.
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Advogado vai pedir liberdade provisória para Pizzolato
Polícia italiana afirmou ontem que existe possibilidade legal de extradição. Preso em Modena desde anteontem, Henrique Pizzolato irá pedir à Justiça da Itália para responder em liberdade ao processo de extradição que tentará trazê-lo de volta ao Brasil para cumprir pena pela condenação no processo do mensalão.
Hoje, ele será levado a uma audiência na Corte de Apelação em Bolonha (a 384 km de Roma) para ser apresentado oficialmente à Justiça. Três juízes vão decidir se ele permanecerá como preso provisório ou se poderá responder ao processo em liberdade. Outra possibilidade é ele ser colocado em um regime de prisão domiciliar com um bracelete eletrônico.
“Nós pediremos a liberdade dele porque ele está na Itália e não tem interesse em fugir, já que é também cidadão italiano”, disse o advogado Lorenzo Bergami.
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