Rudolfo Lago
Ao passar a faixa para Dilma Rousseff, Lula disse que ia “desencarnar” da Presidência. Pelo menos nesta primeira semana, ele ainda não conseguiu. Dois privilégios questionáveis para ele e para seus filhos permanecem nas manchetes dos jornais. Dois dos filhos de Lula, Luís Cláudio Lula da Silva e Marcos Cláudio Lula da Silva conseguiram renovar seus passaportes diplomáticos. Pela lei, eles não teriam direito ao privilégio. O passaporte foi concedido pelo ainda ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, com o argumento do “interesse do país”.
O segundo privilégio são as férias tiradas por Lula no Forte dos Andradas, no litoral de São Paulo, uma área do Exército. Em princípio, por não ser mais presidente, Lula não teria mais direito de requisitar áreas como essa para seu descanso. No caso, o argumento para o privilégio é que houve um convite pessoal do ministro da Defesa, Nelson Jobim.
Nos dois episódios, integrantes do atual governo minimizaram as situações. Ontem (6), o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, declarou que o episódio da renovação dos passaportes não tinha “relevância”. Hoje (7), o ministro Nelson Jobim disse que são “ridículas” as críticas contra Lula por conta das férias no forte do Exército. As declaraçôes de Jobim estão no programa “Bom Dia Ministro”, da Empresa Brasileira de Comunicação.
“Considero ridículas (as críticas), absolutamente ridículas. Um presidente afastado do mandato, terminando o mandato, e que deseja passar momentos de lazer com a proteção necessária, o fará em ambiente do Exército. A decisão foi correta, e eu acho as críticas absolutamente ridículas e sem fundamentação”, declarou Nelson Jobim.
Na entrevista, Jobim confirma ainda que convidou o ex-deputado José Genoino para ser seu assessor no ministério. Ex-presidente do PT, Genoino é um dos réus do inquérito sobre o mensalão, que tramita no Supremo Tribunal Federal. Apesar de ter sido guerrilheiro no Araguaia, Genoino é um dos petistas com melhores relações nas Forças Armadas.
Comissão da Verdade
Jobim também falou sobre a Comissão da verdade, mecanismo criado por projeto de lei que tramita no Congresso destinado a esclarecer os pontos que ainda restam obscuros sobre a ditadura militar, especialmente no que se refere a abusos contra os direitos humanos. Jobim negou ser contra a comissão. Segundo ele, não há divergência entre a sua posição e à da secretária dos Direitos Humanos, Maria do Rosário.
“A comissão da verdade é um projeto de lei que foi enviado ao Congresso Nacional. Agora vai depender de uma votação no Congresso Nacional. Esse projeto de lei teve o absoluto apoio do Ministério da Defesa e o meu próprio”, disse Jobim. Ele admitiu, porém, uma diferença de ponto de vista com o ex-secretário de Direitos Humanos Paulo Vannuchi. “Houve uma divergência inicial com o então secretário Vannuchi sobre a natureza do projeto. O projeto pretendido pelo secretário Vannuchi era unilateral, pretendia fazer uma análise da memória histórica apenas por um lado da história. Nós queríamos que fosse uma visão completa do termo: as ações desenvolvidas não só pelas Forças Armadas na época, mas também pelo pelo movimento guerrilheiro”. Segundo Jobim, os grupos nas Forças Armadas que se opõem ao esclarecimento dos episódios da ditadura são “minoritários” e estão, na maioria, na reserva.
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