O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) disse hoje, no Conselho de Ética, que nunca recebeu qualquer doação de bancos para as campanhas das quais participou. O parlamentar, que sacou R$ 50 mil das contas da SMP&B, agência do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, afirmou que pela primeira vez foi orientado pela direção do PT a sacar recursos em bancos para quitar dívidas eleitorais.
O petista é um dos 11 parlamentares apontados pelas CPIs dos Correios e do Mensalão como beneficiários do esquema do mensalão, supostamente operado por Valério. De acordo com o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), o PT pagava mesadas para que deputados votassem projetos de interesse do governo. João Paulo assumiu ter recebido recursos das contas de Valério, mas afirmou que o dinheiro foi usado apenas para quitar dívidas das campanhas municipais do partido em 2003 e 2004.
“Nunca havia recebido dinheiro em banco. Recebi por orientação do (ex-tesoureiro do PT) Delúbio (Soares)”, disse João Paulo. O deputado declarou, porém, que não estranhou a orientação do colega. “Hoje eu avaliaria que seria uma operação inusitada, mas, na época, não”, declarou. João Paulo foi o coordenador das campanhas municipais da região de Osasco (SP) no ano passado e disse que o dinheiro foi usado para pagar pesquisas eleitorais feitas em 2003.
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Filiado ao PT desde o início da carreira política, João Paulo disse que essa foi a primeira vez em que os recursos para a campanha não saíram diretamente do caixa do partido. “O Delúbio nunca indicou para eu ir a nenhum lugar sacar”, reforçou. Questionado do motivo pelo qual evitou falar do saque quando a crise política veio à tona, o parlamentar disse não saber que havia suspeitas a respeito do dinheiro. “Não falei do saque porque sabia que o dinheiro era seguro. Depois que vi que não era, decidi falar”, relatou.
Os gastos com as pesquisas, segundo João Paulo, não foram registrados na contabilidade do diretório regional do PT. O parlamentar afirmou que não houve como citá-los na prestação de contas, porque as notas fiscais do serviço foram emitidas em seu nome sem que ele percebesse. “(A direção) pediu as pesquisas. Mostrei as pesquisas e não dei muita atenção para o comprovante fiscal. Só fui me preocupar com isso agora na crise”, afirmou o petista. “Prestei contas oralmente, pois as pesquisas interessavam mais”, completou.
A esposa de João Paulo, a jornalista Márcia Regina Milanésio, fez o saque no dia 4 de setembro de 2003. O deputado, presidente da Câmara entre 2003 e 2004, afirmou ter recebido Valério para um café da manhã na residência oficial um dia antes do repasse. Porém, ele disse que o encontro não teve qualquer ligação com o saque nas contas do empresário mineiro. “Eu já havia pedido o dinheiro para o Delúbio dois meses antes e, próximo do dia 4 de setembro, ele confirmou que o recurso estava disponível”, declarou.
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