Fábio Góis
João Carlos Martins ganhou projeção pública muito novo. Aos 20 anos, seu talento como pianista o levou a se apresentar em uma das mais importantes salas de espetáculo do mundo, o Carnegie Hall, em Nova York. Hoje, com 69 anos, sua vocação para a música é tão reconhecida quanto sua determinação para superar as adversidades.
Impedido de tocar piano por sucessivos acidentes e problemas de saúde, tornou-se maestro, condição em que voltou a ser consagrado no Carnegie Hall. Sua história, que ganhou o mundo por meio de um documentário franco-alemão bastante premiado (A paixão de Martins), foi escolhida para o depoimento final da telenovela Viver a vida, da TV Globo (confira aqui o depoimento que foi ao ar no último dia 14).
Agora, o incansável maestro, que por deficiência nas mãos é obrigado a reger sem usar batuta, é um dos principais porta-vozes do movimento + Feliz, criado para estabelecer como dever do Estado brasileiro, previsto na Constituição, a busca da felicidade para os cidadãos (leia mais).
“Seria uma grande conquista se o Brasil conseguisse incluir na Constituição o direito não só de ser feliz, mas de dar felicidade”, afirma ele, enfatizando que só a conscientização dos brasileiros poderá levar a proposta a prosperar. A ideia, já adotada por países como Estados Unidos e França, tem como objetivos reforçar juridicamente a garantia de direitos humanos ainda não plenamente respeitados no país e mobilizar a sociedade em torno da defesa de tais direitos, especialmente na área social.
Veja o que João Carlos Martins disse ao Congresso em Foco sobre o assunto:
A identidade de seu trabalho com o movimento + Feliz.
“Seria uma grande conquista se o Brasil conseguisse incluir na Constituição o direito não só de ser feliz, mas de dar felicidade. O que eu busco fazer com minha orquestra, nos concertos pelo país, é isto: tentar levar alegria às pessoas, e muitas das pessoas para quem nós fazemos shows são carentes, precisam disso. Me sinto privilegiado de fazer um trabalho como este”.
Como evitar que a proposta fique apenas no “papel”.
“A proposta [inclusão do direito à felicidade na Constituição] só pode sair do papel por meio da conscientização. As pessoas têm de ter consciência da importância de um movimento como esse. Mas é preciso fazer as coisas com alma, com emoção. A iniciativa já é louvável, qualquer coisa que seja colocada no papel com alma, isso basta. Quando Beethoven levou para o papel suas partituras, ele pôs lá sua alma, e compôs obras fantásticas”.
Possibilidades de o movimento dar certo.
“Todo movimento é multiplicador, acontece por meio do boca-a-boca, do efeito multiplicador mobilizando as pessoas. Como a origem do movimento está nisso, em ser transmitido em cadeia, em um efeito dominó, tendo como objetivo comum a procura da felicidade, vejo como um sonho que consegue se transformar em realidade. Esta é a meta de todo movimento: ser algo de fato transposto para a realidade”.
A importância da felicidade na sua trajetória pessoal.
“Com tantas adversidades que eu tive na vida, sou daquelas pessoas que dão importância à busca da felicidade. No instante em que você busca a felicidade, você passa por um processo que em si traz felicidade. Não sei se eu seria uma pessoa tão feliz hoje se não tivesse enfrentado tantas adversidades.”
Sobre o depoimento de superação no final da novela.
“Existem dois tipos de lágrima: a de tristeza e a da emoção da alegria. Foi isso o que transmiti no depoimento. Apesar de tudo o que aconteceu comigo, eu sempre busquei a felicidade com muita determinação. Finalmente, encontrei meu caminho na música e no social, do trabalho de resgatar a felicidade das pessoas, das crianças, com a música”.
Música como meio de inclusão social.
“Em vários países da Ásia, a música já é considerada primeiro lugar como instrumento para a inclusão social, ultrapassando inclusive o esporte. No esporte, justamente por causa das disputas, às vezes você vê um menino mais forte, com mais agressividade, querendo se impor ao outro. Na música isso não existe, na música não há rivalidade. Você vê o caso de Brasil e Argentina no futebol: a rivalidade é muito grande, mas o brasileiro adora um tango. A música é a melhor forma de inclusão social”.
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