Sempre lembrado como uma das poucas referências éticas do Senado, o senador Jefferson Péres (PDT-AM), morto nesta manhã em Manaus, estava desiludido com a política brasileira. Em entrevista ao Congresso em Foco, publicada em 27 de junho do ano passado, o líder do PDT anunciou que não pretendia concorrer a um novo mandato e que se incomodava com o baixo nível dos políticos brasileiros (leia a íntegra).
“Eu me sinto muito constrangido. Estou encerrando minha carreira política. Não quero mais voltar pra cá. Podem me chamar de fulo, o que quiserem, chega. São 16 anos de Senado, basta. Não me acostumo com a classe política, desabafou. “Os mais humildes olham para isso e se perguntam: por que vou ser honesto se lá em cima não são?”
O senador afirmou que se sentia gratificado em ser apontado, ao lado dos senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Eduardo Suplicy (PT-SP), como referência ética, mas que, ao mesmo tempo, sentia-se entristecido com a classificação. “Isso me gratifica muito. Mas, por outro lado, me entristece. Duas ou três referências éticas entre 81 senadores? Onde já se viu isso?”
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No calor da crise detonada pela denúncia de que o então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), havia tido despesas pessoais pagas por um lobista, Jefferson lamentou o “apequenamento” do Congresso, por causa da sucessão de escândalos e do excesso de medidas provisórias.
Decadência sem elegância
Para ele, o Legislativo havia sido reduzido nos últimos anos a um subpoder. “Quais são as três funções básicas do Congresso? Primeiro, legislar. Quase não legisla mais, pois quem legisla é o Executivo, por medidas provisórias ou projetos enviados ao Congresso. A função de legislar se apequenou. A função de fiscalizar se desgastou. O povo não vê o resultado das CPIs. A terceira função, de ser caixa de ressonância de debate, deixou de ser. Fora os escândalos, a população não se interessa pelo que ocorre aqui. O Legislativo está apequenado. É um subpoder no Brasil.”
Além de lamentar a decadência do Congresso, Jefferson Péres dizia não ter qualquer expectativa sobre a melhoria da representação política no Brasil. “De minha parte, nunca tive essa expectativa. A classe política brasileira é isso que está aí. Na média, é muito ruim. É patrimonialista, não sabe distinguir o público do privado, age em proveito próprio. Infelizmente, os políticos que têm algum espírito público são minoria. Sempre foram, agora, talvez menos ainda. A média da qualidade piorou.”
“Eu acompanho política desde jovem, sei o que era a Câmara e o Senado no Brasil de 30 ou 40 anos atrás. Era muito melhor. Era um centro de debates, atraía a atenção popular. Hoje prevalece a corrupção ou o oportunismo”, acrescentou.
Professor universitário com formação em Direito e pós-graduação em Ciência Política, o amazonense assumiu o seu primeiro mandato em 1988, como vereador em Manaus. Eleito senador pelo PSDB em 1994, trocou o apoio ao governo Fernando Henrique Cardoso em 1999 pelo então oposicionista PDT.
Pedidos de cassação
Em 2000, Jefferson ganhou projeção quando pediu, no a cassação do senador Luiz Estevão (PMDB-DF), acusado de envolvimento no desvio de R$ 169 milhões da obra do TRT de São Paulo. Estevão é o único senador cassado pelo Senado até hoje. Em 2001, perdeu para Jader Barbalho (PMDB-PA) a eleição para presidente do Senado. Jader viria a renunciar ao mandato pouco tempo depois, em meio a denúncias de corrupção.
Também como relator do Conselho de Ética, em 2006, Jefferson pediu, sem sucesso, a cassação de Ney Suassuna (PMDB-PB), acusado de receber recursos da máfia das ambulâncias (leia mais). Ainda em 2006, concorreu como candidato à vice-presidente na chapa encabeçada por Cristovam Buarque (PDT-DF).
Em novembro do ano passado, o amazonense viu o Plenário derrubar o seu parecer pela cassação do mandato de Renan Calheiros (PMDB-AL). No relatório do processo que trata das denúncias de que Renan usou “laranjas” para comprar veículos de comunicação em Alagoas, Jefferson concluiu que havia sete indícios contra o senador alagoano. Além disso, ele considerou que houve "interferência" de Renan nos processos que tramitaram contra ele no Conselho de Ética.
Em junho, quando o então presidente do Senado ainda enfrentava a primeira denúncia, Jefferson Péres já antevia que o peemedebista preservaria o mandato. Segundo ele, por causa de suas relações amigáveis com os demais senadores e do corporativismo. Mas previa que o alagoano não teria mais o mesmo poder. “Renan vai salvar o mandato, mas não a honra”, vaticinou.
Otimista com a economia
Dono de uma postura de independência em relação ao governo, o líder do PDT se mostrava otimista em relação ao futuro da economia do país, mas não escondia seu pessimismo quanto ao futuro da classe política.
“Sou otimista. Acho que o Brasil está se desenvolvendo. A economia está sólida, isso vai acabar se refletindo em médio prazo na elevação do nível da população também. Acredito que algumas medidas serão tomadas no sentido de restabelecer prerrogativas do Congresso, como a limitação de medidas provisórias. Quanto à melhoria da classe política, isso vai demorar muito. E a cada ano piora”, declarou.
Senador mais bem pago
O senador foi um dos ganhadores do Prêmio Congresso em Foco 2006. Naquele ano, recebeu 236.665 votos dos internautas, o que lhe garantiu a terceira colocação no Senado (leia mais). Na edição do ano passado, foi apontado por jornalistas que cobrem o Congresso como um dos três senadores que mais bem desempenharam o mandato em 2007 (leia mais).
Ao ser informado sobre a avaliação dos jornalistas, Jefferson Péres não escondeu a satisfação. “Não posso me queixar da receptividade popular. Não é só através de e-mails. As pessoas me abordam nas ruas. Geralmente elas captam minha seriedade. Costumo dizer que sou o senador mais bem pago do Senado. Quando uma pessoa anônima, do povo, me aborda, mesmo sem me conhecer, isso não tem preço. O mesmo acontece com os jornalistas. Esse tipo de iniciativa &
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