Os deputados Jean Wyllys (Psol-RJ) e Roberto Freire (PPS-SP), agora ex-ministro da Cultura no governo Temer, desentenderam-se nesta segunda-feira (29) em uma sessão de debates no plenário do Parlamento do Mercosul, o Parlasul, em Montevidéu (Uruguai). Na ocasião, parlamentares da base aliada a Temer também se estranharam com Jean, um dos principais críticos do governo na Câmara. Com direito a gritos e troca de acusações (“Vai ficar mentindo aqui, rapaz?”, diz um dos governistas), o entrevero aconteceu quando os parlamentares discutiam a votação de um requerimento para analisar com urgência a situação política no Brasil e na Venezuela, país visto por entidades internacionais como antidemocrático.
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Apoiador do impeachment de Dilma Rousseff, Roberto Freire fez uma intervenção dizendo que o Brasil vive em democracia plena e, nesse sentido, o Parlasul discutisse apenas o panorama político na Venezuela. Contrariado, o deputado do PPS alegou que no Brasil “não há presos políticos”, mas sim, “políticos presos”, ao contrário da Venezuela.
“Na Venezuela, tem presos políticos e uma ditadura que está matando venezuelanos. Há uma discussão no mundo, e não apenas na Venezuela, sobre o caminho que a democracia venezuelana tem pela frente – alguns admitindo que não existe caminho à frente”, diz Freire, para quem oposicionistas brasileiros agem com “má fé” em relação ao governo. A fala do deputado está no começo do vídeo abaixo.
Veja:
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Já na fala de Freire é possível escutar um ou outra voz se levantando contra o discursante. Ao pedir a palavra, Jean acusa a gestão Temer de agir antidemocraticamente, chama o presidente de “corrupto” e diz que o Executivo comete excessos ao determina o uso da força contra quem vai às ruas contra o governo. Como exemplo, Wyllys cita o caso do estudante violentamente golpeado com um cassetete de um policial militar em Goiânia.
“No Brasil, o atual presidente, acusado de corrupção – e flagrado, praticamente, em corrupção – e sustentado no Parlamento por uma maioria de pessoas que respondem a processos na Justiça, são reprovados pela população. Têm rejeição de 90% da população. E a população está nas ruas para manifestar seu descontentamento com o sistema político corrompido e com o presidente corrupto. E a resposta que se tem dado a essas manifestações é a repressão policial dura contra manifestantes. Nós temos um estudante lá que sofreu uma agressão dura da polícia e ficou em coma”, diz Jean, referindo-se Mateus Ferreira da Silva, que de fato enfrentou perigo de morte depois da agressão.
“Ei, ei, ei! Vai ficar mentindo aqui, rapaz?! Não é verdade!”, vocifera um dos deputados governistas, dando início à reação dos aliados de Temer. “Não é verdade. Isso é provocação!”, diz um dos membros da base. “Deixe de ser mentiroso!”, emenda outro.
“É verdade, sim! E eles [governistas] tentam esconder!”, rebate Jean, diante do constrangimento de parlamentares da Argentina, no Paraguai e do Uruguai.
Como mostra o vídeo, não só o deputado Roberto Freire interrompe a intervenção de Jean Wyllys. Também o deputado Rubens Bueno (PPS-PR) contestou a fala do colega fluminense. No comando dos trabalhos, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) tenta conter os ânimos, sem muito sucesso. “Isso é apenas um ensaio geral do que vai ser o debate no momento apropriado”, diz Chinaglia, com os microfones do auditório já desligados, à exceção dos da mesa diretora, enquanto Jean Wyllys, Roberto Freire e Rubens Bueno continuam a trocar acusações, dedo em riste.
Nas redes
Horas depois, o próprio Jean Wyllys publicou o vídeo em seu perfil oficial no Facebook e fez um longo desabafo.
“No Brasil tem presos políticos sim. Não é só quando um deputado é preso que podemos dizer que há presos políticos. Um político preso pode ser, às vezes (mas nem sempre!), um preso político, mas nem todo preso político é um político preso. Rafael Braga não é um preso político? Os manifestantes que a polícia prende depois de jogar gases lacrimogêneos e dar porrada em todo o mundo não são presos políticos? E os indígenas, os sem terra, os sem teto? No Brasil tem repressão violenta sim, e MUITO violenta”, escreveu o deputado (veja o post aqui).
Nem Roberto Freire nem Rubens Bueno se manifestaram sobre o episódio, ao menos por meio de redes sociais.