O governador eleito da Bahia, Jaques Wagner (PT), disse ontem (7) em entrevista à Folha Online que os petistas envolvidos na compra do dossiê para prejudicar a candidatura de políticos do PSDB fizeram uma grande "cagada". Na última sexta-feira(6), o petista participou de uma caminhada até a igreja do Senhor do Bonfim para agradecer a vitória no pleito.
Confira a entrevista do governador eleito à Folha Online:
Folha – O presidente Lula poderia ter vencido no primeiro turno se não fosse o caso do dossiê?
Jaques Wagner – Evidentemente que as denúncias perturbaram. Para não ser ingênuo, quero deixar claro que dossiês existem de porretadas, muitos já foram usados. Estou cansado de ver dos dois lados.
Folha – O senhor tem dúvida de que alguns petistas tiveram envolvimento?
Jaques Wagner – Eles fizeram uma grande cagada, com ou sem armadilha, achando que isto prejudicaria o Serra. Não sei se evitou a vitória de Lula no primeiro turno, mas, certamente, contribuiu para que ele não ganhasse logo.
Folha – Até onde vai a participação do PT no episódio?
Jaques Wagner – As pessoas precisam entender que, por exemplo, na Folha pode ter um diretor, um redator, um repórter que faça merda, mas não pode dizer que a Folha é uma merda. Qualquer instituição tem isso, tem picareta no PSDB, no PFL. Partido não dá atestado de idoneidade moral a ninguém.
Folha – O senhor acredita que a questão ética vá prevalecer no segundo turno?
Jaques Wagner – Não creio. O que a gente quer como brasileiro? Um país sem desvio do dinheiro público. É impossível imaginar que podemos chegar a este objetivo só com gente correta. É sonhar demais. Como se chega a isso? Quando a lei é cumprida e os instrumentos de coação contra o crime funcionam.
Folha – Como o PT deve reagir ao debate ético que Geraldo Alckmin quer levantar?
Jaques Wagner – Vamos perguntar: o senhor engavetou quantas CPIs em São Paulo? Aí ele vai dizer o quê? Vai gaguejar três vezes. Aí, vamos perguntar: aquela famosa venda das ações da Petrobras feita no governo Fernando Henrique Cardoso, que todo mundo viu que o preço pelo qual foi vendida, um mês de lucro pagava. Aquele negócio das privatizações foi ou não foi caixa dois?
Folha – Qual o legado do grupo de ACM na Bahia?
Jaques Wagner – Como método de governador, não deixa nada. Agora, estaria mentindo se dissesse que ele não trouxe coisas para a Bahia. No tempo em que ele tinha prestígio no governo militar, ACM trouxe investimentos. Seria burrice dizer que ele não abriu avenidas importantes. Mas, neste último período, ele só tem deixado empobrecimento na Bahia.
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Dossiê: PF ouvirá Berzoini
A Polícia Federal decidiu na última sexta-feira (6) que ouvirá o presidente licenciado do PT, Ricardo Berzoini, sobre o caso do dossiê que seria usado contra políticos do PSDB. Ainda não foi definida a data do depoimento. Deputado federal reeleito, Berzoini tem prerrogativa para decidir em que local será ouvido.
No inquérito aberto para apurar a montagem do dossiê, a PF suspeita de participação do presidente licenciado do PT no episódio e analisa ligações telefônicas entre Berzoini e envolvidos com a negociação de compra do dossiê.
Berzoini se afastou do cargo de presidente do partido . Marco Aurélio Garcia, atual coordenador da campanha do presidente Lula à reeleção, assumiu a presidência do PT no lugar de Berzoini. Em nota, Ricardo Berzoini negou envolvimento com o dossiê oferecido a petistas pelo empresário Luiz Antonio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas.
Os principais envolvidos no escândalo são o ex-coordenador de campanha do senador petista Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo, Hamilton Lacerda; Oswaldo Bargas e Jorge Lorenzetti, que trabalhavam na campanha de Lula à reeleição, e Expedito Veloso, ex-diretor do Banco do Brasil. A Executiva Nacional do PT expulsou ontem os quatro do partido.
Cinco dias após o início do escândalo, Berzoini admitiu que sabia que Bargas, um de seus subordinados na campanha do presidente Lula à reeleição, manteve contatos com a revista "Época". Segundo a revista, Bargas e Lorenzetti ofereceram a um repórter "denúncias fortes contra o PSDB".
Na tarde de ontem, a PF recebeu da operadora de telefonia celular Claro informações sobre a quebra de sigilos de quatro telefones celulares e relação com os nomes das pessoas que são donas de outros 13 telefones cujos números aparecem nas investigações. O conjunto da quebra dos sigilos inclui o pedido dos extratos telefônicos de Hamilton Lacerda.
O ex-coordenador da campanha de Aloizio Mercadante foi flagrado pelo sistema interno de câmeras do hotel Ibis Congonhas, em São Paulo, deixando no apartamento de Gedimar Passos uma mala preta, na qual estaria pelo menos parte do R$ 1,75 milhão que seriam usados para o pagamento do dossiê.