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Em sua decisão, Janot elencou, em 183 páginas, 11 demonstrações de que Cunha lançou mão de expedientes para se defender de acusações de corrupção e tentar impedir procedimentos investigatórios. Bilhetes, e-mails e outros documentos nesse sentido foram reunidos por Janot na peça acusatória, em material que foi colhido pela Polícia Federal em mandados de busca e apreensão nas casas do deputado no Rio de Janeiro e em Brasília.
Em entrevista coletiva na Câmara, Cunha tentou desqualificar a decisão de Janot e negou que tenha tentado impedir as investigações que o têm como alvo na Lava Jato. Sobre as denúncias de que recebeu R$ 52 milhões em propina no exterior – informação sobre a qual a Procuradoria-Geral da República (PGR) diz ter provas –, o deputado voltou a negar as acusações e disse que elas se referem a “fatos pretéritos”. Para Cunha, tudo não passa de perseguição da PGR, em suposto conluio com o governo, para tirar o foco do noticiário do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
“Achei absurdas as colocações que estão lá. Meus advogados vão tentar tomar conhecimento e vão rebater [a denúncia]. É mais um processo político de quem me escolheu para ser investigado”, declarou o deputado, negando também que esteja adiando o recebimento da notificação do Conselho de Ética sobre a continuidade do processo que pode culminar em sua cassação. Ele já deveria ter recebido o comunicado, mas negou agir para atrasar rito do colegiado e garantiu que o receberá nesta quinta-feira (17).
“Eu marquei às oito da manhã e vou receber às oito da manhã”, sintetizou.
Segundo reportagem veiculada hoje (quarta, 16) no site da revista Época, dois novos delatores confessaram à Procuradoria-Geral da República (PGR) que Cunha cobrava propina para liberar dinheiro do FI-FGTS para empresas e recebia tais valores em contas até o momento desconhecidas, na Suíça e em Israel. Segundo documentos obtidos pela publicação, a PGR afirma ter reunido provas de o total de propinas recebidas por Cunha chegou a R$ 52 milhões, divididas em 36 prestações. Ainda de acordo com a reportagem, a revelação foi feita por meio da delação premiada de Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Júnior, da empreiteira Carioca Engenharia.
Um dos primeiros denunciados ao STF por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção descoberto pela Lava Jato na Petrobras, Cunha é acusado de ter mentido à CPI da Petrobras ao afirmar que jamais teve conta no exterior e nunca recebeu dinheiro desviado da estatal. Por outro lado, com base em informações remetidas ao Brasil pelo Ministério Público da Suíça, a PGR incluiu no inquérito contra Cunha no Supremo denúncia de que, de acordo com seis delatores, o deputado recebeu milhões em propinas desviadas de contratos da petrolífera. O conflito de versões levou o Psol e Rede a representar contra Cunha no Conselho de Ética, mas a conclusão do processo ficará para 2016.