Ricardo Cappelli *
O Centrão está em festa. Espera ansiosamente que Janot lhe jogue o governo Temer de vez no colo. A expectativa é que o PGR dará uma “mãozinha” ao grupo expulsando os tucanos do governo.
A conta é simples. Depois da rejeição da primeira denúncia, ficou claro que Marun, André Moura (Oi???Alguém falou em Cunha?) e cia. tem votos suficientes para, sozinhos, barrar outras denúncias contra o presidente. Os poucos mais de 20 votos do PSDB a favor de Temer se mostraram importantes, mas, na matemática fria, desnecessários.
Leia também
Desde então o Centrão pressiona o Planalto exigindo que o PSDB tenha no governo um tamanho correspondente aos votos que deu. Quer colocar um dos seus no lugar de Bruno Araújo, no Ministério das Cidades, e André Moura no lugar de Imbassahy na Articulação Política. Temer resiste, tenta impedir que os tucanos acabem nos braços de Rodrigo Maia, o único que hoje teria condições reais de derrubá-lo.
Nesse xadrez, a nova denúncia de Janot é música para o Centrão. Doria e Alckmin, pré-candidatos, terão grande dificuldade de sustentar a defesa do presidente perante a opinião pública, e a tensão interna no ninho tucano irá subir novamente. Divididos, ficará claro que não entregarão todos os seus votos. É aí que o Centrão vai deitar e rolar, deixando claro para Temer que, ou ele cede os espaços do PSDB no governo para eles ou irão migrar para o projeto Rodrigo Maia.
Com Janot e Globo retomando a ofensiva, o presidente terá uma difícil decisão pela frente. A insatisfação do Centrão é imensa com os espaços ocupados pelos tucanos. O PSDB estará entre sair e correr o risco de ser enxotado do governo. No pragmatismo da realpolitik, dificilmente Temer conseguirá se salvar harmonizando os dois grupos.
A ética da convicção, descolada da visão estratégica, é capaz de produzir efeitos reversos e inesperados. O quadro político brasileiro é tão complexo e desafiador que caminha para uma aliança tática entre a PGR/Globo e o Centrão. Cunha no poder? Quem diria…
* Ricardo Cappelli é jornalista e secretário de estado do Maranhão, cujo governo representa em Brasília.