O Ministério das Relações Exteriores (MRE) enviou circulares a todas as embaixadas e representações do Brasil no exterior, na última sexta-feira (18), recomendando a difusão de mensagens que alertam para o risco de um golpe político no país. Segundo o jornal O Globo, que teve acesso aos telegramas, os textos foram enviados pelo ministro Milton Rondó Filho, responsável pela área de combate à fome do MRE. No primeiro comunicado, ele pedia que cada posto designasse um diplomata para dialogar com organizações locais da sociedade civil para falar sobre o momento político do país.
De acordo com a repórter Gabriela Valente, as mensagens partiram da Secretaria de Estado de Relações Exteriores do Itamaraty. Mas a ordem acabou abortada por determinação da Secretaria-Geral do Itamaraty na própria sexta, depois que os comunicados já haviam sido disparados para postos diplomáticos em todo o mundo.
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O primeiro telegrama, enviado por volta das 12h30, conclamava o corpo diplomático à “resistência democrática”, com a designação de um servidor, de preferência diplomata, para “apoiar adequadamente” o diálogo entre o Itamaraty, a sociedade civil brasileira e a local.
Ainda segundo O Globo, às 16h18, outra mensagem, novamente enviada por Rondó, retransmitiu uma nota da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong), que reúne 250 entidades. “É momento de resistência democrática!”, diz o texto, que fala em “profunda preocupação” com os rumos do processo político e ataques dos grandes grupos econômicos e da mídia a governos legitimamente eleitos. O comunicado da Abong conclama, independentemente das posições políticas e ideológicas, a sociedade para a luta pela democracia: “Não ao Golpe! Nossa luta continua!”.
De acordo com o jornal, uma hora e meia depois, um novo telegrama, de autoria do secretário-geral do Itamaraty, Sérgio Danese, pediu às representações diplomáticas ignorassem os comunicados anteriores.
Apesar dessa instrução, outra mensagem foi enviada em seguida reproduzindo a “Carta aos Movimentos Sociais da América Latina”, que denuncia um “processo reacionário que está em curso no país contra o Estado Democrático de Direito”.
O Ministério das Relações Exteriores informou ao Globo que essas circulares foram expedidas sem autorização superior e, por isso, acabaram canceladas. O envio dos comunicados, no entanto, provocou polêmica entre os diplomatas. Parte deles considerou que houve uso político da máquina administrativa.