Edson Sardinha
O Ministério das Relações Exteriores decidiu enviar um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) ao Suriname para ajudar um grupo de brasileiros que foi vítima, na última quinta-feira (24), de ataque de uma comunidade quilombola no norte do país.
Até agora, o governo do Brasil não confirma nenhuma morte e diz que 14 pessoas saíram gravemente feridas do confronto. Mas, segundo informações extra-oficiais, sete pessoas morreram e cerca de 80 brasileiros foram feridos com gravidade. Outros 30 chineses e peruanos, de acordo com o missionário José Vergílio, que dirige a Rádio Katolica do Suriname, também foram atacados.
O padre contou, em entrevista à Globonews, que o ataque foi uma vingança do grupo quilombola pela morte de um morador da comunidade de Albina por um brasileiro. A cidade, localizada a 130 quilômetros da capital Paramaribo, é o principal ponto de fronteira com a Guiana Francesa.
As vítimas foram golpeadas por paus e facões, e 20 brasileiras foram estupradas, ainda segundo informações extra-oficiais. Diversos pontos da cidade foram incendiados.
De acordo com o padre José Vergílio, a briga começou quando um morador local morreu após ser esfaqueado, durante uma briga, por um brasileiro. Os dois participavam de uma festa, no dia 24, com mais de mil pessoas.
“Esses descendentes de quilombola se acham praticamente os donos do lugar, então, ao que parece, tentaram se impor aos brasileiros que estavam por ali. Eles não gostam de quem os desafia. O próprio governo do Suriname tem dificuldade para estabelecer a lei na região”, disse à Folha de S. Paulo o embaixador do Brasil no Suriname, José Diniz Machado e Costa. O embaixador viaja hoje para Albina para ouvir relato e prestar assistência aos brasileiros que vivem na região. Praticamente todos eles trabalham com garimpo.
José Diniz disse que o Itamaraty prestará todo apoio aos brasileiros, mas admitiu que a situação irregular de muitos deles dificulta a relação com os nativos. “A convivência sempre foi de harmonia. Porém, alguns brasileiros não pagam impostos, estão em situação irregular, e isso gera às vezes alguma tensão. Eles são vistos como pessoas que usufruem dos serviços públicos sem pagar nada por eles”, afirmou o embaixador à Folha. O garimpo de ouro, especialmente quando se usa mercúrio, também é ilegal no país, acrescentou Diniz.
Os ministros da Defesa, da Justiça, e das Relações Exteriores do Suriname foram à TV na sexta-feira à noite pedir desculpas aos brasileiros residentes no país. Eles prometeram fazer de tudo para garantir a convivência pacífica entre os dois povos.