Fábio Góis
Depois que o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), leu seu parecer favorável ao Projeto de Lei 01/2011, com recomendação de rejeição das 11 emendas apresentadas ao texto, as principais figuras da oposição insurgiram-se contra os movimentos do governo. Em votação neste momento em plenário, a proposta de autoria do Executivo define o valor do mínimo em R$ 545, com correções anuais por decreto presidencial até 2015. Há emendas para fixar em R$ 600 e R$ 560, bem como para eliminar a correção de reajuste por decreto, excluindo-se do texto o artigo 3º.
Assista à sessão em que será votado o mínimo
No papel desempenhado antigamente pelo PT, que contestava os valores estipulados pelo governo para o mínimo, o ex-presidente da República Itamar Franco (PPS-MG) primeiro questionou a conformidade regimental da aprovação do pedido de urgência para a votação da matéria já para esta quarta-feira (23). Foi dissuadido pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Depois de ter rejeitada a sua intervenção, Itamar fez elevar a temperatura em plenário quando passou a contestar o valor defendido pelo governo para o mínimo. Dirigindo-se a Jucá, Itamar quis saber do líder do governo, insistentemente, como uma família com dois ou três filhos usaria o salário para atender às necessidades primárias definidas constitucionalmente ? como moradia, alimentação, educação e higiene.
?Cabe a cada família definir como usará seus rendimentos. Não cabe a mim fazer isso?, desconversou Jucá, vaiado por membros de centrais sindicais nas galerias. ?É triste ouvir isso de vossa excelência, um líder de governo aqui no Senado?, retrucou Itamar, resgatando um episódio histórico envolvendo o ex-presidente da República João Batista Figueiredo (1980-1984).
O último chefe de Estado brasileiro da época da ditadura, que dizia preferir o cheiro de seus cavalos ao do povo, foi perguntado por um repórter sobre o que faria se fosse obrigado a viver com o salário mínimo praticado à época ? muito menor do que o atual (R$ 540), feitas as correções monetárias. ?Daria um tiro na cabeça?, respondeu o ex-presidente à época. Integrantes de centrais sindicais manifestaram apoio ao senador, das galerias do plenário.
Vaias e Tiririca
Plenário que, aliás, registra momentos curiosos no transcorrer desta tarde. Nas galerias, membros uniformizados de centrais sindicais, que pedem um aumento maior para o mínimo, levantam placas com palavras de ordem e dão as costas a qualquer discurso governista ? na leitura do relatório, Jucá chegou a ser vaiado, o que levou a Sarney, um tanto impaciente, a disparar a campainha e repreender as manifestações proibidas pelo regimento interno.
Alheio às questões regimentais, o comediante e deputado Tiririca (PR-SP) deu os ares da graça nessa mesma galeria do plenário, reservada a visitantes e grupos sociais. Acompanhado de assessores, Tiririca olhava tudo com curiosidade, recebendo explicações sobre o que acontecia à sua volta e, de vez em quando, cumprimentos. Deve ter lembrado do que disse quando fez sua primeira visita ao Congresso, em 15 de dezembro de 2010, quando os parlamentares aumentaram seus próprios salários em 62%. ?Cheguei com sorte.?
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