Novos diálogos divulgados pelo site The Intercept e pelo jornal Folha de São Paulo neste domingo (13) indicam que o procurador Deltan Dallagnol tentou tirar vantagens financeiras da fama adquirida enquanto coordenador da força-tarefa da Operação Lava-Jato. Segundo as mensagens, ele discutiu com um colega de profissão a criação de uma empresa, em que não apareceria como sócio, para organizar eventos e palestras e, assim, lucrar com a visibilidade e os contatos obtidos através da Lava Jato.
> Dallagnol rejeita convite da Câmara para explicar conversas com Moro
Segundo o Intercept, Deltan Dallagnol teve a ideia de criar uma empresa de eventos no fim de 2018 e pensou até em usar o nome de familiares nesse processo para evitar questionamentos jurídicos, já que a lei proíbe que procuradores tenham poderes de administração ou gestão de empresas. “Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso networking e visibilidade”, teria dito o procurador à esposa, em mensagens do aplicativo Telegram enviadas em dezembro do ano passado.
Leia também
No mesmo mês, ainda de acordo com o site do jornalista norte-americano Glenn Greenwald, Dallagnol criou um chat com o colega na força-tarefa da Lava Jato Roberson Pozzobon e as esposas de ambos para discutir o assunto. “Antes de darmos passos para abrir empresa, teríamos que ter um plano de negócios e ter claras as expectativas em relação a cada um. Para ter plano de negócios, seria bom ver os últimos eventos e preço”, teria dito Dallagnol, que, segundo o Intercept, continuou a discutir o assunto com Pozzobon até pelo menos meados deste ano. “Podemos tentar alguma coisa agora em maio tvz. Ou fim de abril. Nem que o primeiro evento a empresa não esteja 100% fechada”, teria sugerido Pozzobon.
Palestras
As conversas divulgadas neste domingo ainda sugerem que Dallagnol se empenhava em realizar palestras remuneradas para comentar a atuação da Lava-Jato – atividade que, segundo a Folha de São Paulo, chegou a gerar descontentamento entre outros procuradores de Curitiba. No ano passado, ele teria lucrado cerca de R$ 400 mil com essa atividade. “Se tudo der certo nas palestras, vai entrar ainda uns 100k limpos até o fim do ano. Total líquido das palestras e livros daria uns 400k. Total de 40 aulas/palestras. Média de 10k limpo”, teria dito o coordenador da Lava-Jato no Telegram. O Intercept ainda afirma que, diante disso, Dallagnol usou os serviços de duas funcionárias da procuradoria para organizar a agenda e os recibos das palestras.
PublicidadeExplicações
Como informou o Congresso em Foco, Deltan Dallagnol recusou o convite da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados para comparecer a uma audiência e prestar esclarecimentos sobre as conversas que, há mais de um mês, vêm sendo divulgadas pelo The Intercept. O ministro Sergio Moro e o editor do site, Glenn Greenwald, por sua vez, já foram ao Congresso comentar o assunto. Nessa semana, no Senado, Glenn repetiu que vai continuar publicando mensagens atribuídas a Dallagnol e a Moro.
Nesse sábado (13), no Twitter, o procurador afirmou que “trabalhar na Lava Jato gera um grande custo pessoal. Mas todos da força-tarefa estamos dispostos a pagá-lo para cumprir nosso dever e contribuir para um país com menos corrupção e menos sofrimento humano causado por essas práticas espúrias”. Dallagnol ainda não comentou publicamente os diálogos divulgados neste domingo.