Sônia Mossri |
O governo enviará o Congresso até o final do ano um pacote de medidas para reestruturar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A idéia é implantar um serviço de inteligência mais competente e profissionalizado, com capacidade de abastecer o Palácio do Planalto com informações estratégicas, incluindo casos de corrupção no setor público. O nome mais forte para comandar a nova Abin, até uma semana atrás, era o do delegado da Polícia Civil Mauro Marcelo Lima e Silva. Ele está cotado para assumir o lugar de Maria Almeida D’Isola Edniz. O nome de Mauro Marcelo, que chefiou o esquema de segurança do presidente Lula na capital paulista durante a campanha eleitoral de 2002, depois de indicado, ainda precisa ser aprovado pelo Senado. Foi preciso que estourasse o escândalo Waldomiro Diniz, ex-assessor da Casa Civil flagrado pedindo propina a um bicheiro, para que os assessores do presidente Lula se convencessem de que a Abin está sucateada, com analistas despreparados e praticamente sem condições de agir em campo para buscar informações e antecipar problemas, como corrupção na administração pública. Leia também Os assessores do presidente Lula afirmam que será implantado um “modelo brasileiro de inteligência”, mas, na prática, há muitas semelhanças com o serviço de inteligência canadense, o Canadian Security Intelligence Service, conhecido apenas como CSIS. Antes mesmo das alterações, a agência começou a agir de modo diferente. Há quase um mês, por exemplo, um funcionário da Abin atua no Ministério da Saúde, poço de denúncias de corrupção e desvio de verbas públicas. A infiltração do agente teve como objetivo antecipar eventuais denúncias e, dessa maneira, reduzir o impacto da previsível exploração de um escândalo na imprensa envolvendo assessores diretos do ministro da Saúde, Humberto Costa. O Palácio do Planalto não queria o impacto, na mídia, de um novo caso Waldomiro Diniz. Coincidência ou não, no último dia 19 uma ação da Polícia Federal, batizada de “Operação Vampiro”, desmontou um esquema de fraudes nas licitações para compras de hemoderivados pelo ministério da Saúde. O rombo pode atingir até R$ 2 bilhões. Entre os funcionários e lobistas presos pela PF está Luiz Cláudio Gomes e Silva, coordenador de Recursos Logísticos do Ministério da Saúde. Amigo do ministro Humberto Costa, Luiz Cláudio controlava verbas de R$ 1,5 bilhão no setor de compras. Já havia rumores do caso no Congresso. Há quase seis meses, parlamentares da oposição comentavam reservadamente que assessores ligados a Humberto Costa estariam fraudando licitações e desviando verbas públicas. Além da Saúde, a Abin também está de olho nos ministérios dos Transportes e das Cidades. |