Em 2011, escrevi o artigo ”Punir os fracassados”. Na ocasião, comentei o livro Pasado y presente de los verbos leer y escribir, de Emilia Ferreiro. O livro é composto por três textos, frutos de três palestras proferidas em congressos de editores.
No primeiro texto (“Leer y escribir en un mundo cambiante”), a autora aborda a história do ato de escrever e ler, que de uma maneira geral é considerado um ato alfabetizador.
Ferreiro inicia o texto afirmando (livre tradução) que “houve uma época, há vários séculos, em que escrever e ler eram atividades profissionais. Quem se destinava a elas aprendia um ofício”.
Escreve a autora que “as funções estavam tão separadas que os que controlavam o discurso que podia ser escrito não eram os que escreviam, e muitas vezes tampouco praticavam a leitura. Quem escrevia não eram leitores autorizados, e os leitores autorizados não eram escribas”.
Hoje os escribas dos jornais, na maioria, escrevem textos curtos. Dizem que quando são longos as pessoas não leem. No dia a dia, no relacionamento entre as pessoas, o recado é dado pelo WhatsApp, com textos ainda mais curtos e, na maioria das vezes, cheios de erros. Com textos curtos, muita informação ao mesmo tempo e muitas e rápidas imagens, para não dar tempo à reflexão, e a televisão vai formando a opinião publicada, que, ao final, pode virar a opinião pública.
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Este papel degenerativo e de deformação exercido pela mídia é agora levado, por lei, para dentro das escolas. Não é outra a razão da chamada reforma do ensino médio.
A reforma do ensino médio aprovada pelos golpistas é pior do que o descrito por Ferreiro: por lei, nada deve ser ensinado. Não pode ensinar a ler, escrever e, muito menos, pensar. É a colaboração dos golpistas com a mídia na formação de alguns ingênuos e muitos idiotas.
Hoje, há muitos ingênuos e idiotas e há setores que trabalham com afinco para que esse grupo seja a maioria da sociedade. Há, no momento, aqueles (principalmente algumas autoridades) que pensam que este grupo já é maioria: exemplo o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima.
Em entrevista recente, Santos Lima afirmou que “O sistema político disfuncional é o que atrapalha a economia, não a Operação Lava Jato” (http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/politica/noticia/2017/03/estao-tentando-um-esvaziamento-da-lava-jato-diz-procurador-9741009.html).
Há múltiplas razões para a quebra da economia: crise econômica mundial e a crise politica brasileira. Porém, ambas foram agravadas por ação da lava jato, que em momentos importantes, para ficar só num exemplo, como a nomeação de Lula para a Casa Civil, vazou ilegalmente gravações e documentos sigilosos. Que eu saiba, Santos Lima nunca investigou ou pediu investigação sobre esses vazamentos.
O mundo todo pune os corruptos, e deve ser assim, mas não destroem as empresas. Nem a Alemanha pós-nazismo fez isso. Corrupta é a pessoa física, não a jurídica. No Brasil, a lava jato está punindo as empresas.
Segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Construção Pesada, que reúne a Odebrechet, Camargo Correa, OAS etc., o faturamento do setor corresponde 3% do PIB. Todas estão sendo destruídas por ação da lava jato.
A lava jato se diz orgulhosa por ter trazido para o país 2 bilhões de reais, mas nada falam da quebradeira que causaram à indústria naval, no setor de óleo e gás, da paralisação da construção do submarino atômico, levando ao desemprego mais de um milhão de pessoas. Como diz o ex ministro Eugênio Aragão: Não se pode matar uma barata com um lança chamas colocando fogo na casa toda.”
Procuradores: ainda há cabeças pensantes no Brasil.