O episódio que envolveu há pouco em um intenso bate-boca o senador Mão Santa (PMDB-PI) e a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), não deve ser sepultado com o fim da sessão de hoje (2) no plenário da Casa. Ao Congresso em Foco, ambos os parlamentares comentaram as declarações do peemedebista, que chegou a atribuir à ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) um pitoresco qualificativo – que enfureceu Ideli, ofendida na condição de mulher.
Citando o livro "Mein Kampf" ("minha luta", em português), escrito pelo líder nazista Adolf Hitler, Mão Santa afirmou que a ministra Dilma não era a “mãe do PAC” (Programa de Aceleração do Crescimento), mas sim uma “galinha cacarejadora” do governo. Mão Santa se referia analogicamente ao fato de que a ministra supostamente “alardeia” (eufemismo para o referido “cacarejo”) as obras do PAC antes mesmo das inaugurações.
Após o pronunciamento do peemedebista, a senadora Ideli Salvatti pediu a transcrição das notas taquigráficas, uma vez que, segundo ela, o termo ofendia a ministra e às mulheres em geral. A pedido do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), e da senadora Patrícia Saboya (PDT-CE), o senador Romeu Tuma (PTB-SP) – que presidia a sessão no momento – pediu para que a expressão fosse retirada das notas taquigráficas do discurso de Mão Santa.
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Por sua vez, o senador piauiense afirmou que expressão “galinha cacarejadora” estava no livro, e que não quis ofender ninguém. De acordo com ele, a expressão indicava que homens e mulheres repetiam incessantemente, durante o regime nazista na Alemanha, o que era de interesse do governo daquele país.
“Lamentável”
À reportagem, Ideli Salvatti não descartou tomar providências – inclusive judiciais – contra as declarações “preconceituosas” de Mão Santa. Contudo, ao ser abordada pela imprensa, disse que não tinha condições de pensar a respeito, tamanho foi o absurdo do ocorrido, em sua opinião.
“Classifico o episódio como lamentável, inadmissível. Se nós temos de fazer um debate político, das idéias entre oposição e governo, isso tem de ser feito em cima de um nível que não pode ser um nível da baixaria, da acusação inclusive preconceituosa”, bradou a petista, dizendo por que a postura de seu colega de Senado é ainda mais grave. “Neste caso, não foi um rompante de um discurso do momento, porque a mesma expressão e a mesma ofensa ele [Mão Santa] fez ontem (1), quando não estávamos num debate acalorado, como estávamos na tarde de hoje.”
“Utilizar o termo galinha para se referir a qualquer mulher… todos sabem o conteúdo pejorativo, discriminatório que isso tem. Agora imagine colocar isso para uma pessoa que está exercendo um cargo de autoridade”, protestou, referindo-se à ministra Dilma Rousseff. “É algo que não se pode admitir.”
“Homens-galinha”
Já Mão Santa tentou arrefecer os ânimos. “Eu tenho 65 anos, todo o Brasil me conhece. Jamais usei termos pejorativos [galinha] contra mulher”, justificou o senador, dizendo que o termo foi usado como metáfora histórica para o contexto brasileiro, em que as obras do PAC, em sua opinião, são alardeadas pelo governo como faziam os membros do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores da Alemanha (do tirano Hitler), que exaltavam recorrentemente as realizações do governo.
“Li alguns trechos [do livro supracitado] que têm muitas semelhanças. Primeiro, a cor vermelha. Foram eles lá [na Alemanha nazista] que escolheram, porque incita e tal”, justificou, dizendo que era comum o governo nazista montar uma claque orientada para, quando fossem batidos metas, recordes e percentuais de aceitação, alardear as realizações governamentais.
Mão Santa disse que o grupo de “aclamação” do governo foi batizado de “galinhas cacarejadoras”. “Está lá no livro, eu li o livro”, argumentou. “Era homem, acho que tinha muito mais homens. Nós que fazemos política não temos o cabo eleitoral, os militantes?”, exemplificou. (Fábio Góis)