Brandão não soube informar quantos brasileiros mantêm conta no HSBC no exterior, mas disse que a instituição monitora 50 agências de forma ininterrupta, em que qualquer saque ou depósito é identificado pela instituição financeira. Ele garantiu ainda que o banco colabora com as autoridades, e não mantém nenhum tipo de informação privilegiada.
Em audiência publica na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do HSBC, Brandão comparou o escândalo Swissleaks a uma “fotografia antiga”, e ressaltou que os dados dos correntistas vazados à imprensa foram obtidos por meio de ação criminosa de um ex-funcionário da banco. O escândalo diz respeito a milhares de contas secretas mantidas na filial suíça do HSBC nos anos de 2006 e 2007.
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– Esse caso mostra a imagem de uma Suíça da qual não gostamos, de dez anos atrás. É uma fotografia antiga, diferente do banco de hoje. É uma Suíça diferente do que é hoje. Não está claro se a integridade dos dados foi preservada, e se os dados originais estavam corretos. São dados antigos. Estou tendo conhecimento deles a partir de informações divulgadas na imprensa – afirmou.
O episódio envolve depósitos totais de mais de US$ 100 bilhões, mantidos em agência do HSBC em Genebra por 106 mil clientes de 203 países. Os dados, divulgados por um consórcio internacional de jornalistas investigativos, apontam o Brasil como o nono país com o maior valor depositado (US$ 7 bilhões) e o quarto maior em número de clientes no HSBC: foram localizados 8.667 brasileiros com contas no banco.
– Os jornalistas são de credibilidade, mas a base de dados foi furtada do banco. O número total de clientes ativos nunca ultrapassou 30 mil clientes na Suíça, nunca foram cem mil. Não tenho como confirmar ou negar a quantidade de clientes brasileiros na Suíça. Nem eu ou o presidente mundial do banco podemos confirmar ou negar a existência de contas abertas. Essas informações são protegidas pelo sigilo bancário da Suíça – afirmou.
PublicidadeBrandão disse que o HSBC vem atuando na prevenção da lavagem de ativos de forma contínua nos últimos anos, e que essas operações são reportadas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda, que atua como unidade de inteligência financeira no país. Ele não confirmou que o banco estaria à venda no Brasil, de acordo com informações divulgadas na imprensa.
– Há países que não tiveram resultados positivos. E, consequentemente, o banco os avalia – afirmou.
Identidade
Em resposta ao relator da CPI, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), e ao vice-presidente do colegiado, senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Brandão explicou que, apesar de pertencer ao mesmo grupo econômico, a unidade brasileira do HSBC não tem acesso à identidade dos correntistas em outros países. O banco conta hoje com sete mil pessoas trabalhando em todo o mundo na prevenção da lavagem de dinheiro. No Brasil são 400, contra 20 de alguns anos atrás.
Brandão disse que o banco fez uma revisão completa de 10 mil clientes, encerrando o relacionamento com aqueles considerados de alto risco, fechando agências e promovendo investimentos em capacitação de pessoal para avaliação de condutas de risco. O banco conta hoje com 400 colaboradores e, desde 2012, já fechou 4 milhões de contas inativas. Entre 2007 e 2014, o número de contas no private bank foi reduzido para 10 mil clientes, e o total de ativos foi reduzido pela metade.
Brandão informou que o banco inglês também investe no monitoramento dos correntistas, e lembrou que a abertura de contas no exterior é permitida por lei. Segundo ele, o escândalo não comprometeu a imagem do HSBC, presente hoje em 74 países. No Brasil, são 850 agências e 452 postos de atendimento, com 21 mil funcionários em 531 municípios.
– Nossos clientes entendem que é caso antigo, a partir de esclarecimento feito pelo banco internamente. Não temos sofrido impacto financeiro com isso, mas não é prazeroso nossa marca associada a um caso antigo que afeta a reputação. O banco compreende a liberdade de imprensa, os repórteres têm direito de divulgar. O trabalho que a gente tem feito é para melhorar os controles internos do banco, na Suíça e no mundo – afirmou.
O que se alterou com o escândalo, disse Brandão, foi o aprimoramento do conhecimento do cliente. Qualquer futuro correntista precisa passar por uma entrevista com o gerente de relacionamento, e todos são classificados nas categorias de alto, médio e baixo risco. Ele disse ainda que, entre 2002 e 2007, o banco manteve um escritório de representação no Brasil para operações de private bank, mas não soube dizer quem respondia pela sucursal. Ele se comprometeu a encaminhar esses dados à CPI, e explicou o procedimento de abertura de contas em outros países.
– O HSBC no Brasil não abre contas no exterior, faz apenas uma indicação. O Banco Central nos permite apenas indicar e apresentar os clientes. As contas são abertas seguindo as regras do próprio país. No Brasil, o banco não participa nem da abertura da conta, e não recebe informação do processo. Somente alguém do banco da Suíça poderia fazer eventualmente algum comentário para esclarecer a comissão. E os responsáveis pelo banco não podem falar sobre contas de indivíduos na Suíça, de acordo com a legislação daquele pais – explicou.
Suspeita
Se a indicação gerar alerta de suspeita, disse Brandão, a conta será fechada pelo banco. O HSBC, ressaltou Ricardo Ferraço, está sendo processado pela Justiça francesa, que acolheu as denúncias oriundas do Swissleaks. Nos EUA, o banco firmou um ajuste de conduta com a Justiça, e pagou multa de US$ 1,9 bilhão, em razão de processo que teve início no Congresso americano, por práticas de lavagem de dinheiro.
– Um cliente que teve reporte ao Coaf não terá conta no Brasil, e não será referenciado para abertura de uma conta na Suíça. [As unidades do banco] trabalham isoladamente, as atividades são circunscritas ao país em que o cliente tem conta corrente. Se o cliente do private bank no Brasil coincidentemente tem conta em outro país e deseja remeter ao exterior, a regra é que ocorra com operação de câmbio registrada no Banco Central – afirmou.
Brandão explicou ainda que, por meio da internet, o cliente pode transferir recursos ao exterior no limite de US$ 3 mil, por meio de contrato regulado pela autoridade monetária.
Ao final da reunião, a comissão aprovou requerimento em que Randolfe Rodrigues solicita à Receita Federal informações sobre a base de dados dos contribuintes nos últimos anos. Ricardo Ferraço, por sua vez, teve aprovado requerimento em que convida para depor o presidente do HSBC nos anos de 2006 e 2007, Enilson Alonso. Outro requerimento de sua autoria requer a formação de grupo de trabalho para estudar o aperfeiçoamento do ordenamento jurídico brasileiro. A CPI do HSBC é presidida pelo senador Paulo Rocha (PT-PA).