Fábio Góis
O impasse na Embaixada do Brasil em Honduras dá sinais de estar perto do fim. Negociadores do presidente hondurenho deposto, Manuel Zelaya, e do grupo do governo de fato, encabeçado por Roberto Micheletti, chegaram hoje (sexta, 30) ao que parece um acordo conclusivo em torno da situação gerada pelo golpe de Estado executado em junho. É o que diz um correligionário de Zelaya, segundo a Agência Reuters.
Segundo o representante de Zelaya, Mayra Mejía, as duas comissões vão consultar o congresso hondurenho sobre o acordo. O suposto acerto foi encaminhado hoje ao parlamento do país vizinho. A questão principal implica submeter aos deputados a decisão sobre uma eventual restituição de Zelaya ao poder. Já Vilma Morales, partidária de Michletti, informou que as partes estão em vias de concluir o entendimento.
O acerto é condição para que a comunidade internacional concorde com as eleições pré-agendadas para 29 de novembro convocada pelo governo de fato. Organismos como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e o Conselho de Segurança da ONU elogiaram o passo rumo à pacificação democrática em Honduras, depois de cerca de quatro meses de animosidade entre os dois grupos políticos.
Abrigado há mais de um mês na representação diplomática brasileira, onde chegou em 21de setembro com o conhecimento do governo brasileiro, Zelaya foi expulso do país, em junho, depois de ter tentado alterar a constituição da Venezuela, que veta categoricamente a possibilidade de mudança nas normas para o período dos mandatos presidenciais. Zelaya quis realizar um plebiscito para saber se o povo concordava com sua recondução ao posto, o que passível de destituição e outras punições.
Depois da espécie de asilo concedido a Zelaya, o governo hondurenho – que tem apoio dos militares, da maioria no Congresso e do Judiciário – determinou uma série de providências para manter Zelaya na condição de presidente destituído. Toques de recolher, vigilância militar permanente em torno da embaixada e outras limitações foram impostas à sociedade hondurenha. Conflitos entre correligionários do presidente deposto e a polícia da capital Tegucigalpa levou a algumas mortes – a mais recente, em circunstâncias ainda desconhecidas, foi a de um sobrinho de Micheletti. O governo brasileiro exigiu segurança nos arredores da embaixada.
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Nesta semana, o governo provisório recorreu ao tribunal internacional de Haia para fazer queixa formal contra a postura do governo brasileiro, que estaria conivente com o que foi chamado de escritório político instalado por Zelaya na embaixada brasileira. As críticas foram lançadas ao passo em que um embaixador norte-americano tomava as rédeas das negociações entre os dois grupos políticos. A situação pegou mal para a diplomacia brasileira, que foi acusada de falta de iniciativa em resolver o problema.
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